Após mortes, milhares de ciclistas protestam e cobram melhorias
6 mar2012 - 20h27
(atualizado às 23h36)
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Marina Novaes*
Direto de São Paulo
Um protesto, promovido em conjunto entre São Paulo e outras cidades brasileiras, contou com a presença de milhares de ciclistas nesta terça-feira, que resolveram se reunir simultaneamente após a morte da bióloga Juliana Dias, 33 anos, atropelada por um ônibus na última sexta-feira, na avenida Paulista. Além dela, duas pessoas perderam a vida em acidentes semelhantes em outros Estados. Os ciclistas cobram investimentos em ações que facilitem a vida de quem usa a bicicleta como meio de transporte.
Mas se na sexta-feira o clima era de luto em São Paulo, hoje a bicicletada nacional era voltada às reivindicações. Para os ciclistas, embora a prefeitura tenha "olhado" mais para a questão, os investimentos ainda são muito voltados para o lazer. "É bom que haja ciclofaixas nos fins de semana, mas e os outros cinco dias da semana? Precisamos de ciclovias, vias sinalizadas e, principalmente, treinar os motoristas a respeitarem os menores", diz Felipe Aragonez, diretor do Instituto CicloBR.
O ciclista Jemison Su, 36 anos, concorda. Ele, que usa diariamente a "magrela" como transporte, diz não se sentir seguro nas ruas. "Deveria haver uma faixa exclusiva para os ciclistas nas ruas principais. Nós ficamos muito expostos, é um risco diário. Falta investimento", afirmou. "Meus filhos estão na Europa e lá é comum usar bicicleta todo dia. Aqui é essa preocupação. Chorei muito quando soube da morte da Juliana", contou Selma Bombachini, que veio representar os filhos cicloativistas, trazendo flores para distribuir para os motoristas.
Na semana passada, os ciclistas instalaram uma "ghost bike" (bicicleta fantasma) em homenagem a Juliana, na esquina com a rua Pamplona. Hoje, eles pararam em frente ao local e homenagearam a vítima com um minuto de palmas, enquanto o trânsito na Paulista ficou trancado por cinco minutos em ambos os sentidos. Além de gritar slogans como "mais amor, menos motor", os ciclistas carregaram cartazes em suas bikes com dizeres como "respeite a vida" e "cuidado comigo".
Discussão com motoristas
A bicicletada incomodou alguns motoristas na avenida Paulista, pois em vários cruzamentos os ciclistas ocuparam os dois sentidos, paralisando o trânsito. Eles deitavam na rua, em protesto contra a violência, e a ação causou enorme fila.
Incomodado, um casal, que seguia no sentido Consolação, chegou a descer do carro e discutir com os manifestantes, que foram dispersados pelos próprios colegas. Em outro momento, um motociclista, que também trafegava no sentido Consolação, foi impedido de passar, bateu boca com os ciclistas e teve de ser "escoltado" por dois policiais militares para prosseguir.
Porto Alegre tem forte adesão
Na capital gaúcha, o protesto contou com aproximadamente 400 ciclistas, que saíram do Largo Zumbi dos Palmares e percorreram as principais ruas do bairro Cidade Baixa, Bom Fim e Centro. Há um ano, no mesmo local, um grupo foi atropelado pelo funcionário do Banco Central Ricardo Neis enquanto participava de uma bicicletada.
Dos atingidos, 17 ficaram feridos. Desde então, o Massa Crítica ganhou uma forte adesão em Porto Alegre, reunindo mensalmente centenas de ciclistas, que cobram mais investimentos principalmente em ciclovias, já que a cidade tem apenas 8 km espalhados pelas ruas. Na noite de hoje, o protesto, que durou mais de uma hora, teve gritos bem humorados, cartazes e a presença de diversas crianças acompanhadas dos pais.
Outros Estados
No Rio de Janeiro, um grupo de aproximadamente 100 pessoas se reuniu na Cinelândia e percorreu as principais vias do centro da capital. O trajeto passou por Santa Luzia, avenida Presidente Antônio Carlos, rua da Assembleia, rua da Carioca, Praça Tiradentes, rua Visconde de Rio Branco, Praça da República, Central do Brasil e avenida Mem de Sá, na Lapa. Na Central do Brasil, os manifestantes se deitaram no chão, se fingindo de mortos. A todo momento, usaram gritos como "bicletada é um carro a menos", "bicicleta todo dia, eu não vou pra academia" e "quem vai de bike chega primeiro".
A edição de Salvador da Bicicletada Nacional contou com aproximadamente 100 pessoas da Massa Crítica. Os ciclistas se encontraram no bairro do Rio Vermelho e depois seguiram para o Jardim de Alah pela orla marítima. Há 10 dias, a capital baiana também teve um acidente com morte de um ciclista. Segundo o engenheiro Clement Vialle, que integra o movimento de Salvador, o objetivo do grupo é chamar a atenção para as bicicletas como meio de transporte e não apenas diversão, além de cobrar políticas públicas para os ciclistas.
Em Santa Catarina, a adesão foi de aproximadamente 100 pessoas em Florianópolis. O grupo se reuniu diante de um shopping center e seguiu para ao campus da Universidade Federal de Santa Catarina (USC), percorrendo em seguida algumas ruas da região central da cidade.
Em Curitiba (PR), o movimento repetiu o roteiro do tradicional "bikenigth", que ocorre semanalmente nas noites da cidade com apoio da prefeitura e da Polícia Militar, passando por alguns pontos turísticos. Na concentração, no pátio da reitoria da Universidade Federal do Estado, os mais de 300 manifestantes acenderam velas em homenagem às vítimas e partiram, escoltados por guardas de trânsito, também de bicicleta, cantando músicas e gritos de guerra.
Nas ruas de Belo Horizonte (MG), o Massa Crítica criticou a falta de projetos de ciclovias na capital mineira, partindo da Praça da Estação, no centro. De acordo a BHTrans, empresa que gerencia o trânsito na capital, 22km de ciclovias existem na cidade. Em 2011, um investimento de R$1,1 milhão foi anunciado pela empresa, que tem projetos de construção de mais 33 km de ciclovias em andamento.
*Colaboraram André Naddeo e Maurício Tonetto (Terra), Celso Calheiros, Fabrício Escandiuzzi, José Guilherme Camargo, Lucas Esteves e Roger Pereira (Especial para Terra)
Mais uma vez, centenas de ciclistas e pedestres se reuniram na avenida Paulista, no centro de São Paulo, nesta terça-feira, para cobrar investimentos em ciclovias
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Os ciclistas paulistanos cobram ações que facilitem a vida de quem usa a bicicleta como meio de transporte
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
O protesto, promovido em conjunto entre São Paulo e outras 11 cidades, ocorreu após a morte da bióloga Juliana Dias, 33 anos
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Centenas de ciclistas e pedestres se reuniram na avenida Paulista, no centro de São Paulo, para cobrar mais investimentos em ciclovias
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Juliana Dias, 33 anos, morreu após ser atropelada por um ônibus na última sexta-feira na avenida Paulista
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Para os ciclistas, embora a Prefeitura de São Paulo tenha "olhado" mais para a questão, os investimentos ainda são muito voltados para o lazer
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Na semana passada, os ciclistas instalaram uma "ghost bike" (bicicleta fantasma) em homenagem a Juliana, na esquina com a rua Pamplona, em São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Os ciclistas deitaram no chão, na avenida Paulista, para chamar a atenção sobre as mortes
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Cerca de 100 ciclistas se reuniram na Cinelândia, no Rio de Janeiro, para protestar contra a morte de Juliana
Foto: André Naddeo / Terra
O trajeto definido para o protesto no Rio de Janeiro, em votação, foi o centro da cidade
Foto: André Naddeo / Terra
Na Central do Brasil, Rio de Janeiro, os ciclistas se deitaram no chão, se fingindo de mortos, o que eles chamam de "die in"
Foto: André Naddeo / Terra
Em Porto Alegre, o movimento Massa Crítica ganhou muitos adeptos após um atropelamento coletivo, ocorrido há um ano
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
O grupo se encontra no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS), local onde 17 ciclistas foram atropelados em 2011
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Nesta terça-feira, os ciclistas protestaram em Porto Alegre pelas três mortes da semana passada
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
O grupo percorreu as principais ruas do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS), durante cerca de 1 hora
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Cerca de 400 ciclistas participaram do protesto na capital gaúcha
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Diversas crianças acompanharam os pais no protesto de Porto Alegre
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Em Porto Alegre, o grupo saiu por volta das 19h30min do Largo Zumbi dos Palmares e percorreu vias dos bairros Cidade Baixa, Bom Fim e Centro
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
O trânsito ficou fechado em Porto Alegre e os motoristas ouviram um protesto bem humorado
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Em Florianópolis, o grupo se reuniu diante de um shopping center e seguiu para ao campus da Universidade Federal de Santa Catarina (USC), seguindo depois para algumas ruas da região central da cidade
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Terra
De acordo com um dos organizadores da Bicicletada em Florianópolis, Daniel de Araújo Costa, a capital de Santa Catarina estaria sofrendo com a falta de espaços para uso de bicicleta
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Terra
Na sexta-feira, um menino de 9 anos morreu atropelado quando brincava de bicicleta em Pomerode, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Terra
Os ciclistas também percorreram as ruas de Brasília para cobrar direitos e pedir melhorias
Foto: Elio Rizzo / Futura Press
A edição de Salvador da Bicicletada Nacional contou com cerca de 100 pessoas da Massa Crítica e aconteceu pela orla marítima
Foto: Lucas Esteves / Especial para Terra
Há 10 dias, Salvador, capital da Bahia, também teve um acidente com morte de um ciclista
Foto: Lucas Esteves / Especial para Terra
Na semana passada, os ciclistas instalaram uma "ghost bike" (bicicleta fantasma) em homenagem a Juliana, na esquina da Paulista com a rua Pamplona
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
A presidente Dilma Rousseff (PT) foi ironizada durante o protesto na Paulista, em São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
O prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (PSD), também foi criticado pelos manifestantes
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Os ciclistas pararam em frente ao local onde morreu Juliana Dias, em São Paulo, e homenagearam a vítima com um minuto de palmas
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
A Polícia Militar acompanhou o protesto, que ocorreu de maneira pacífica em São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
lém de gritar slogans como "mais amor, menos motor", os ciclistas carregaram cartazes em suas bikes com dizeres como "respeite a vida" e "cuidado comigo", em São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Nas ruas de Belo Horizonte (MG), o Massa Crítica criticou a falta de projetos de ciclovias na capital mineira, partindo da Praça da Estação, no centro
Foto: José Guilherme Camargo / Especial para Terra
De acordo a BHTrans, empresa que gerencia o trânsito na capital, 22km de ciclovias existem em Belo Horizonte (MG)
Foto: José Guilherme Camargo / Especial para Terra
Em Curitiba (PR), o movimento repetiu o roteiro do tradicional "bikenigth", que ocorre semanalmente nas noites da cidade com apoio da prefeitura e da Polícia Militar, passando por alguns pontos turístico
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra
Na concentração, no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná, os mais de 300 manifestantes acenderam velas em homenagem às vítimas e partiram, escoltados por guardas de trânsito, também de bicicleta, cantando músicas e gritos de guerra
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra
Com velas acesas em sinal de luto pela morte dos ciclistas, o grupo realizou uma manifestação silenciosa em Recife (PE)
Foto: Celso Calheiros / Especial para Terra
No primeiro momento, os ciclistas empurraram as bicicletas no Recife (PE) para, em seguida, realizar o protesto chamado de die-in, quando uma importante via é interditada para que alguns ativistas deitem no chão