PUBLICIDADE

'Preocupa o futuro do Proantar', diz jornalista da 3ª operação

26 fev 2012 - 17h56
(atualizado às 20h11)
Compartilhar

Convidado pelo

Forças Armadas do Chile divulgaram imagem do incêndio que atingiu a estação brasileira na Antártida
Forças Armadas do Chile divulgaram imagem do incêndio que atingiu a estação brasileira na Antártida
Foto: Armada de Chile / Reuters
Terra

, O jornalista Almir Freitas, um dos primeiros profissionais de imprensa do Brasil a conhecer a Estação Comandante Ferraz, detalha no texto abaixo a importância da base parcialmente destruída no sábado para o desenvolvimento científico. Freitas participou, em 1985, da Operação Antártica brasileira.

Como ex-integrante da expedição brasileira à Antártica em 1985, me vi surpreendido com os noticiários sobre o incêndio na Estação brasileira de Comandante Ferraz. Conhecendo todo o sistema de segurança que desde aquela época é empregada nas expedições ao continente gelado, me pergunto: o que terá acontecido? O que falhou? Como ter acesso ao que realmente ocorreu? Por que ainda temos dificuldades em conhecer fatos ocorridos - o naufrágio da embarcação com óleo diesel - quando os fatos se relacionam aos ministérios militares?

Ao ler as reportagens dos jornais e ouvindo as notícias da rádio foi como uma volta ao passado. Daquele (hoje) distante tempo trago comigo lembranças de uma experiência profissional única: estava entre os primeiros profissionais de imprensa a acompanhar um momento histórico para o Brasil apenas um ano depois de formado pela Universidade Católica de Pelotas, fazia minha primeira viagem de navio, navegava por águas que apenas três anos antes foram palco de uma batalha naval pela soberania das Ilhas Malvinas (ou Falklands) e viajava com o propósito de uma cobertura científica. Era o que os militares a bordo do navio Barão de Teffé - de saudosa lembrança - de primeira "pernada", a primeira viagem para ver o como estava a base, como tinha reagido ao rigoroso inverno.

Claro que a experiência foi cercada de emoção. Certamente hoje, 27 anos depois, faria coisas diferente, teria critérios diferentes para produzir o noticiário que enviava para a sucursal do jornal O Globo, de Porto Alegre. Não sei se teria mais cuidados ao noticiar que a embarcação havia adernado alguns graus ao pegar uma onda lateral em meio a uma tempestade em alto mar, ou se teria o mesmo ímpeto que tive ao correr para cabine depois de enxergar o que para mim era uma muralha de água a minha frente na torre de comando do navio para fazer a matéria do dia.

Passado o susto, passado o "sol" da meia noite quando os ponteiros se junto à meia noite, não sabia ao certo o que encontrar. Casas? Ruas? Um quiosque de "xis".....Ao contrário, cheguei em uma base totalmente soterrada de neve, que era diferente das demais - e só viria a ficar sabendo disso mais tarde, ao visitar a base polonesa distante alguns quilômetros de Ferraz - por ter containeres adaptados. Participei de expedições para testar comidas que seriam deixadas na base, "brinquei" de escorregar na neve - sim, antes de jornalista, aprendi que sou gente -, me deliciei com a neve, pinguins, leões marinhos, elefantes marinhos, e outros pássaros que frequentam a região.

Mas provavelmente minha maior lição foi me aproximar de pesquisadores, conhecer seus trabalhos, entender o que levava pessoas a pesquisares sobre as riquezas da Antártida. Não era uma época de preocupação com o meio ambiente, com a camada de ozônio. E por que trazer esse aprendizado agora tendo a base passado pelo que passou? Justamente porque das notícias que li o que mais me preocupou foi justamente o risco ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Como o atual estágio do programa é de planejamento e estabelecimento de metas para o futuro, este fato poderia atrapalhar os planos e os trabalhos de pesquisadores?

Signatário do programa desde 1975, o Brasil tem investido em pesquisas que retratem a influência daquela região sobre a América do Sul, seja no clima ou nas correntes marinhas, ou ainda as riquezas da Antártida. Está na hora de uma manifestação oficial além da consternação sobre o ocorrido. O que será do Proantar?

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade