PUBLICIDADE

Arquiteto: nenhuma hipótese explica queda de prédios

26 jan 2012 - 16h40
(atualizado às 17h24)
Compartilhar

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio de Janeiro, Sydnei Menezes, está perplexo com o desmoronamento de três edifícios no centro da capital, ocorrido na noite de quarta-feira. Segundo ele, não havia sinais de que as edificações pudessem cair. "O prédio não teve nenhum movimento pendular, não inclinou para cima ou para os lados. Ele simplesmente desmoronou e levou com ele os outros prédios, colados em divisa. Houve uma ruptura violenta, um colapso fulminante da estrutura. Esse desabamento foi um fato inédito. A maneira como ocorreu, sob o ponto de vista técnico, é realmente algo assustador".

Vídeo mostra correria após queda de prédios no centro do Rio:

Confira como fica o trânsito no local após os desabamentos

Com relação às hipóteses mais prováveis para explicar o acidente, Sydnei Menezes considerou que se a causa tivesse sido vazamento de gás, uma possibilidade praticamente descartada, haveria uma explosão muito violenta, com muito barulho, o que não ocorreu. Quanto à possibilidade de uma reforma interna no prédio ter atingido alguma estrutura, tese defendida por engenheiros que acompanham o caso, ele preferiu ser cauteloso. "Quando se mexe nas estruturas de um prédio para reformas internas, a própria estrutura reage, dá sintomas de fadiga. Você vê, por exemplo, trincas, portas emperradas, janelas fora do prumo, vidros quebrados. Há todo um prenúncio dos sintomas de um colapso estrutural, e disso também não se tem registro", afirmou.

Menezes alertou para o fato de que nem o CAU ou Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) possuem registro de qualquer profissional técnico responsável por obras em algum dos no prédios que desabaram. "Se for constatada a existência de uma obra, ela estaria sendo feita fora dos procedimentos regulares e legais, sem o acompanhamento técnico de um profissional, seja da arquitetura ou da engenharia", disse.

Com relação a uma instabilidade do terreno onde os prédios foram construídos, uma área de charco que foi aterrada, o arquiteto explicou que a hipótese é improvável. "Os demais prédios do entorno não foram abalados, o próprio Theatro Municipal, que é uma obra iniciada no governo do prefeito Pereira Passos, em 1904, não sofreu nenhum abalo". Ele também considerou improvável que o desabamento tenha sido uma consequência de obras do metrô feitas na década de 1970 (a Linha 1 passa sob a avenida 13 de Maio). "Para que isso ocorresse, teriam que haver sintomas, como rachaduras".

Localizado no número 44 da avenida 13 de Maio, o edifício Liberdade foi construído há 70 anos. Segundo Menezes, era um prédio de estrutura arquitetônica de concreto armado, tecnologia usada na época e presente em centenas de construções do mesmo período no Rio. "Estamos solicitando as plantas originais do prédio, não sei se vamos conseguir, por ser muito antigo, mas precisamos de todos esses elementos para chegar a uma conclusão", disse.

Para ele, o acidente não deve suscitar preocupação com relação a outros edifícios antigos do centro. "A questão da antiguidade não compromete porque todos foram construídos com uma tecnologia da época, mas absolutamente correta do ponto de vista técnico". O arquiteto acha, no entanto, que a região onde ocorreu o desabamento merece cuidados especiais, devido ao seu rico patrimônio arquitetônico e cultural. "A área marcada pelos prédios do Theatro Municipal, da Biblioteca Nacional, da Câmara Municipal e do Museu Nacional de Belas Artes é uma das mais bonitas do mundo, do ponto de vista arquitetônico", afirmou.

Os desabamentos

Três prédios desabaram no centro do Rio de Janeiro por volta das 20h30min de 25 de janeiro. Um deles tinha 20 andares e ficava situado na avenida Treze de Maio; outro tinha 10 andares e ficava na rua Manuel de Carvalho; e o terceiro, também na Manuel de Carvalho, era uma construção anexa ao Theatro Municipal. Segundo a Defesa Civil do município, cinco pessoas morreram no acidente e outras 18 permanecem desaparecidas. Cinco pessoas ficaram feridas com escoriações leves e foram atendidas nos hospitais da região. Cerca de 80 bombeiros e agentes da Defesa Civil trabalham desde a noite do incidente na busca de vítimas em meio aos escombros. Estão sendo usados retroescavadeiras e caminhões para retirar os entulhos.

Segundo o engenheiro civil Antônio Eulálio, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), havia obras irregulares no edifício de 20 andares. O especialista afirmou que o prédio teria caído de cima para abaixo e acabou levando os outros dois ao lado. De acordo com ele, todas as possibilidades para a tragédia apontam para problemas estruturais nesse prédio. Ele descartou totalmente que uma explosão por vazamento de gás tenha causado o desabamento.

Com o acidente, a prefeitura do Rio de Janeiro interditou várias ruas da região. No metrô, as estações Cinelândia, Carioca, Uruguaiana e Presidente Vargas foram interditadas na noite dos desabamentos, mas foram liberadas após inspeção e funcionam normalmente.

Veja a localização do desabamento:

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade