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Facebook contribui mais para mobilização que FSM, diz sociólogo

15 jan 2012 - 11h11
(atualizado às 15h46)
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Daniel Favero
Direto de Porto Alegre

As primeiras edições do Fórum Social Mundial (FSM), nascido em Porto Alegre no começo da década passada, geraram muito estardalhaço em um evento que se propunha a ser um contraponto ao Fórum Mundial Econômico de Davos. Desde então, o FSM passou a adotar diferentes formatos em diversos países, mas sem deliberações ou ações significativas. Para o sociólogo Sérgio Coutinho, autor do livro Movimento dos Movimentos, o Facebook tem contribuído muito mais que o FSM para as mobilizações sociais.

 O evento é conhecido por reunir participantes de diversas orientações políticas
O evento é conhecido por reunir participantes de diversas orientações políticas
Foto: Renato Araújo / Agência Brasil

"Desses movimentos mais recentes como o Occupy Wall Street, a Via Campesina, na América Latina, e a Primavera Árabe, nenhum deles surgiu desses fóruns. Não há nenhum movimento significativo internacional anticapitalista que tenha surgido daquele que seria o maior deles. Ele talvez contribua para que se encontrem, mas o Facebook vem contribuindo muito mais", afirma.

As críticas quanto ao formato e à orientação ideológico-partidária do FSM são muitas na avaliação do sociólogo. Para ele, apesar do grande estardalhaço gerado na década passada, os compromissos firmados eram sempre muito genéricos. "Centenas de pessoas unidas assistindo a mesma mesa ou conferência, parecia ser mais significativo do que o que fariam depois", disse Coutinho sobre o formato pós-moderno que o evento acabou adotando.

Segundo ele, os organizadores são vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio Grande do Sul, o que fez com que, depois da internacionalização, o evento se tornasse "a expressão internacional de um partido", enfraquecendo o evento, mas fortalecendo as organizações.

"À medida que ele se internacionaliza, vai perdendo essa identidade complicada que ele teve nas primeiras edições no Brasil e permite a integração de organizações que estavam espalhadas em cada país. Se a marca se enfraquece, os movimentos têm se fortalecido", disse ao comparar o fórum a eventos como o Rock In Rio e até ao Fórum Mundial Econômico. "Se tornou um primo do fórum de Davos. Ambos discutem redução de juros internacionais, ambos discutem impostos sobre a riqueza, desenvolvimento sustentável, não ficou mais algo de um ser capitalista e o outro ser anticapitalista".

O Terra entrou em contato com os responsáveis pela organização do FSM no começo da década passada, mas até a publicação desta matéria, não haviam se pronunciado.

Sem formato definido, fórum procura seu espaço
O FSM foi realizado pela primeira vez em 2001 com o lema: "um mundo onde todos os mundos sejam possíveis", uma celebração à pluralidade e crítica ao neoliberalismo. Após as primeiras edições, passou a ser realizado simultaneamente em diversos países ou de forma centralizada, principalmente, em países africanos. A última edição brasileira ocorreu em Belém (PA), em 2009.

De acordo com a comissão organizadora, por diferentes motivos, as últimas edições foram realizadas a cada dois anos, mas não se trata de uma regra. No ano que vem, o fórum deve ser realizado novamente no continente africano - na região de Magrebe (noroeste da África) ou no Egito. No entanto, o martelo ainda não foi batido. As mudanças para o local da realização do FSM surgiram após a organização observar a necessidade de expandir os horizontes do encontro.

Desde então, Porto Alegre passou a participar de eventos simultâneos ou hospedar eventos diferentes. É o caso do Fórum Social Temático, que acontece a partir do dia 24 de janeiro, com o tema a "Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental", com presenças confirmadas de Dilma Rousseff, do presidente do Uruguai, José Mujica, e da líder estudantil chilena - que ganhou notoriedade não só pelas ideias, como também pela beleza - Camila Vallejo. O evento é uma preparação à Rio+20, reunião das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, que acontece na capital fluminense em junho. Esse evento faz parte da dinâmica do FSM, mas possui organização própria e independente.

Milhares de participantes
Apesar das críticas, o FSM tem recebido uma peregrinação de movimentos sociais em suas diversas edições. No ano passado, em Dacar, 75 mil pessoas de 135 países participaram do evento, número bem superior aos 20 mil participantes das primeiras edições em Porto Alegre.

Para o fórum temático deste ano, a organização espera entre 40 e 50 mil pessoas. "Todos os participantes podem inscrever atividades no evento, são as atividades autogestionárias nas quais o próprio grupo ou participante diz qual estrutura precisa e a organização o aloca em algum lugar dentro do fórum. Já estamos com mais de 800 inscrições para os cinco dias, nas quatro cidades: Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo", afirma Ivan Trindade, um dos organizadores.

Estão previstas atrações em todos os dias de evento. A abertura acontece no dia 24 de janeiro, com a tradicional marcha no centro de Porto Alegre, com saída do largo Glênio Peres até o anfiteatro Pôr-do-Sol. O cantor argentino Fito Paez e o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil estão entre os nomes já confirmados.

Fonte: Terra
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