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Polícia

Neonazistas usam perfis falsos no Twitter para conteúdo racista

14 dez 2011 - 16h53
(atualizado às 17h26)
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Tiago Dias

Dois perfis no Twitter criaram polêmica nas redes sociais nos últimos dias ao disseminar mensagens racistas. Entre as contas, uma semelhança: jovens garotas atacavam negros e nordestinos. Esses dois perfis na verdade guardam mais uma relação com outras dezenas nas redes sociais: são falsos, criados por uma célula neonazista na internet.

De acordo com Thiago Tavares, presidente da Safernet Brasil, o grupo atua na internet desde 2007, mas foi nos últimos meses que os ataques se intensificaram. "Eles já passaram pelo Orkut e pela (rede de blogs) Blogspot. Existem dezenas de contas como a desses dois casos. Esses perfis roubam fotos de pessoas completamente inocentes, geralmente do Facebook. Todas elas chamam atenção pela beleza", explica.

Foi o que aconteceu com o perfil identificado como Sophia Fernandes. Na madrugada de sexta-feira, era possível ver mensagens da "estudante" tendo como alvo usuários do programa federal Bolsa Família: "cesta básica do Fome Zero tinha que ser b**** de cachorro... desperdiçar comida com esse povo "lixo" é f***". Internautas revoltados com as mensagens xingaram o perfil. A hashtag #OrgulhodeSerNordestino chegou a entrar nos Trending Topics como resposta às ofensas.

Na madrugada desta quarta-feira foi a vez do perfil com o nome de Karine também surpreender os tuiteiros com mensagens contra negros. "Veja ao seu redor. Os negros vão para escola unicamente com propósitos sexuais. A raça negra age apenas com instinto, são selvagens", escreveu.

Com o uso de scripts, os perfis falsos somam seguidores, dando a impressão de serem pessoas reais. Tavares disse que o grupo "sofisticou" a criação de um perfil falso. "Até o jeito de escrever tenta chegar próximo ao que seria a escrita de uma adolescente", disse. Há também casos de perfis hackeados e comprados no comércio de contas nas redes.

As garotas que aparecem nas fotos dos dois perfis já tomaram conhecimento do caso. Segundo Tavares, Sophia na verdade se chama Eloíse Guimarães. É modelo e mora em Curitiba. Com as fotos roubadas, ela tem usado da sua rede de amigos no Facebook para explicar o ocorrido.

Denúncias
A célula tem também como alvo judeus, mulheres e homossexuais. De acordo com Tavares, um perfil que atua com o nome de Homem Sancto, que incentiva a violência contra a mulher, é o líder do grupo.

Tavares diz que seus integrantes estão espalhados em quatro ou cinco cidades do País. "Eles estão nas regiões Sul e Sudeste", afirma. Segundo ele, o grupo tem uma estrutura própria para as postagens. "Eles criaram um site que funciona como uma espécie de hub, com um servidor no exterior", afirma. A investigação da atuação da célula corre em sigilo na Polícia Federal.

De acordo com o presidente da Safernet, o número de denúncias envolvendo as duas contas foi surpreendente. "Foram cerca de 50 mil denúncias nos dois casos", diz. Em quase todas elas, os internautas discutem e atacam o perfil, o que dá mais publicidade aos criminosos.

"As pessoas precisam se limitar a denunciar e ponto. Não repassem, não retuitem as mensagens e não batam boca com o perfil. Fazendo isso, as mensagens de ódio à sociedade serão cada vez mais propagadas, o que é o objetivo do grupo", aconselha Tavares.

Para denunciar um perfil com mensagens racistas e de ódio, é só entrar nos sites da Polícia Federal ou da própria Safernet.

Terra

Colaborou com esta notícia o internauta Anderson Felipe Silva Cincura, de São Paulo (SP), que participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

Mensagens de ódio contra negros e nordestinos no Twitter aumentaram nos últimos meses
Mensagens de ódio contra negros e nordestinos no Twitter aumentaram nos últimos meses
Foto: Reprodução
vc repórter
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