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Polícia

Em faixa, moradores da Rocinha pedem 'paz com justiça social'

12 nov 2011 - 21h42
(atualizado às 22h17)
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Vagner Magalhães
Direto do Rio de Janeiro

Antes mesmo da entrada das forças de segurança do Rio de Janeiro na comunidade da Rocinha - prevista para a madrugada deste domingo -, um grupo de moradores da Rocinha estendeu faixas na passarela próxima à entrada de São Conrado que traziam um recado ao poder público: de que não há paz sem justiça social. Por volta das 19h deste sábado, faixas com a inscrição "paz com justiça social" foram penduradas no local.

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Bruno Borges, 32 anos, é comerciante e mora na Rocinha desde que nasceu. Ele afirma que a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no local não é suficiente para que a realidade da população sofra uma mudança significativa.

"Pode ser bom para o futuro dos nossos filhos, mas não sabemos o que o governo vai realmente prover para a comunidade. Sabemos que os policiais são mal remunerados e que nem sempre agem de maneira correta. Na verdade, há um grande receio de todos que moram aqui sobre o que pode acontecer, já durante a invasão", diz.

Caio Bernardes, 22 anos, que já trabalhou como garçom na França por meio de um convênio com uma organização não-governamental que atua na Rocinha, disse que nesse sábado o clima dentro da comunidade era praticamente normal ao de outros finais de semana, mas que existe apreensão sobre o que pode acontecer neste domingo, quando as forças policiais entrarão na favela.

"Nosso maior receio é em relação ao abuso de poder. De entrarem nas casas e haver problemas como os relatados no Complexo do Alemão. No mais, o que se espera é que a vida volte ao normal o mais rápido possível", diz.

No ano passado, quando policiais e o Exército entraram no Complexo do Alemão, houve relato do furto de eletrodomésticos e de truculência policial com moradores durante a revista de algumas casas.

Fernando Vieira, 18 anos, aluno do segundo ano do ensino médio, afirma que muitos moradores preferiram deixar as suas casas para só voltar quando tudo estiver normalizado. "Muita gente preferiu sair. Esperamos que a ocupação seja tranquila. Dentro da favela ninguém espera qualquer tipo de reação", disse.

A prisão de Nem
O chefe do tráfico da favela da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, foi preso pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar no início da madrugada de 10 de novembro. Um dos líderes mais importantes da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA), ele estava escondido no porta-malas de um carro parado em uma blitz por estar com a suspensão baixa, em uma das saídas da maior favela da América Latina -, que havia sido cercada por policiais na noite do dia 8 de novembro.

Desde o dia anterior, a polícia já investigava denúncias de um possível plano para retirar o traficante da Rocinha. Além de Nem, três homens estavam no carro. Um se identificou como cônsul do Congo, o outro como funcionário do cônsul, e um terceiro como advogado - a embaixada da República do Congo, entretanto, informou não ter consulados no Rio. Os PMs pediram para revistar o carro, mas o trio se negou, alegando imunidade diplomática. Os agentes decidiram, então, escoltar o veículo até a sede da Polícia Federal. No caminho, porém, os ocupantes pediram para parar o carro e ofereceram R$ 1 milhão para serem liberados. Neste momento, os PMs abriram o porta-malas e encontraram Nem, que se escondia com R$ 59,9 mil e 50,5 mil euros em dinheiro.

Nem estava no comando do tráfico da Rocinha e do Vidigal, em São Conrado, junto de João Rafael da Silva, o Joca, desde outubro de 2005, quando substituiu o traficante Bem-te-vi, que foi morto. Com 35 anos, dez de crime e cinco como o chefe das bocas de fumo mais rentáveis da cidade, ele tinha nove mandados de prisão por tráfico de drogas, homicídio e lavagem de dinheiro. Nem possuía um arsenal de pelo menos 150 fuzis, adquiridos por meio da venda de maconha, cocaína e ecstasy, sendo a última a única droga consumida por ele. Com isso, movimentaria cerca de R$ 3 milhões por mês, graças à existência de refinarias de cocaína dentro da favela.

Fonte: Terra
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