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Polícia

'Estou cansado de ver ataques a gays', diz dono de bar em SP

4 out 2011 - 23h47
(atualizado em 5/10/2011 às 15h18)
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Simone Sartori
Direto de São Paulo

Moradores, comerciantes e frequentadores da região da avenida Paulista demonstram apreensão com os episódios de violência e denunciam o clima de insegurança após ataques homofóbicos em São Paulo. Um dono de bar na rua Peixoto Gomide, que cruza a rua Frei Caneca, um dos pontos de referência do público gay, relata que há cerca de um mês levou um soco ao tentar defender um homossexual que era espancado na rua. "Estou cansado de presenciar (ataques homofóbicos)", desabafa. Uma das críticas é a carência de policiamento, e a opção é contratar vigilantes ou criar "estratégias" próprias de segurança.

O dono de um bar, que não quis se identificar, diz já ter sido vítima de grupos de intolerância
O dono de um bar, que não quis se identificar, diz já ter sido vítima de grupos de intolerância
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

É o caso do técnico comercial Marcelo Albarossi, 34 anos, morador da Bela Vista, que diz não andar mais a pé pelas ruas. Em passeio com amigos no shopping Frei Caneca, ele nota um comportamento conformista diante dos episódios homofóbicos. "Tenho meu namorado, não ando de mãos dadas, não tenho atitudes de carinho em público. Na rua, não apenas pela homofobia, mas, às vezes, temos senhoras de idade que moram na região, que não estão acostumadas a ver essa situação e também não são obrigadas. Se você quer o respeito, dê o respeito também. Você acaba se coagindo por causa da falta de aceitação. Seria ótimo se pudesse (demonstrar carinho em público), mas, infelizmente, a sociedade não está preparada. Acho que você 'dar na cara' para conseguir isso de volta não é a solução. Temos outras maneiras de conseguir esse respeito", afirmou.

Ele confessa ter medo de ser vítima de um ataque violento. "Tenho medo, procuro não vacilar. Se eu saio, saio de carro, não ando a pé. Não apenas por agressão, mas também por assaltos, segurança pessoal. Sabemos que tem áreas em que você é bem-vindo, tem áreas em que não. Nas áreas em que você não é bem-vindo, não force uma aceitação, que é pior. Tudo o que choca, o que agride a outra pessoa, pode levar essa pessoa a te agredir da mesma forma."

O rapaz nunca foi ferido, mas diz serem frequentes os insultos verbais. "Eles xingam, principalmente. São homens em grupo, nunca sozinhos. Jovens de classe média a média alta, às vezes drogados ou embriagados. Eles têm também a consciência de que gays são gays, mas são homens e têm a mesma força e, muitas vezes, na hora de encarar, não encaram", afirma.

O comerciante da rua Peixoto Gomide relata a atuação de grupos de punks e skinheads que, segundo ele, atacam gays geralmente durante a madrugada. "Eles vêm e espancam as pessoas. Fiz uma denúncia nesta semana, chamei a viatura. A viatura veio, pegou jovens com faca, mas não fez nada, dispensou eles", disse.

"Eles aparecem em grupo, passam aqui e chegam 'apavorando'. Os gays são indefesos, não são de briga. Eles (skinheads) chegam de coturno, calça do Exército e jaqueta preta, carecas ou com boné. Chegam, olham na sua cara e batem. Eles batem do nada." Após ser agredido por ter defendido um homossexual, o comerciante disse que "a polícia veio, (mas) eles (os suspeitos) não tinham armas. A polícia checou documentos e dispensou."

Para o comerciante, que abriu o bar há sete meses, falta segurança e uma atenção maior da polícia para os ataques que não chegam ao conhecimento da imprensa. "Não está tendo policiamento correto. Eles (policiais) estão sabendo, a mídia está caindo em cima, mas os 'grandões' lá em cima não estão vendo isso. Se está ocorrendo esse tipo de coisa, por que não mandam mais policiais, aumentam a frequência da ronda, monitoram mais? Aí, quando mídia cai em cima, eles vêm com aquela desculpinha que não tem ocorrência. Como não tem ocorrência? A gente chama os policiais e eles nem dão atenção. Precisa de mais polícia e mais postos policias nessa região. A avenida Paulista, a rua Frei Caneca são conhecidas pelo público. Se o Rio é conhecido pelas praias, São Paulo é conhecida pela noite. Está acabando a noite de São Paulo por causa do medo."

Apesar disso, o dono do bar ainda não percebeu queda no movimento. Ele teve, porém, de contratar mais dois seguranças, além dos quatro que trabalham dentro do bar. "Por medo, a gente tem que pagar seguranças. O problema maior aqui não é assalto, é espancamento mesmo, que as polícias não estão tomando providências", desabafa.

Funcionário da loja de conveniência instalada no posto de combustíveis da rua Fernando de Albuquerque, próxima à avenida Paulista, Jefferson Macario, 27 anos, conta que é comum gays frequentarem o local. Foi na loja que o casal agredido no último sábado comprou cigarros após deixar uma casa noturna. Macario diz que nunca presenciou casos de violência, mas afirma que são comuns as agressões verbais, principalmente por parte de jovens.

"Durante o dia, a gente não escuta. É na madrugada que a gente ouve mais os comentários, os xingamentos, principalmente de jovens. Eles bebem e aí falam bobagem, fazem chacota." Foi pelo relato dos colegas do turno da madrugada que ele teve conhecimento da agressão. "Foi a primeira vez que aconteceu", garante.

Jefferson disse, ainda, que os funcionários do estabelecimento estão orientados a não se envolver em discussões ou brigas que eventualmente ocorram no ambiente. "Não podemos nos envolver porque somos alvos fixos. Procuramos evitar que aconteça aqui dentro", diz.

Em nota, o 7º Batalhão da Polícia Militar de informou que realiza a Operação Centro Seguro nas principais vias da região, entre elas a avenida Paulista, rua Frei Caneca e rua Augusta. De acordo com a PM, quatro viaturas atendem a área da 0h às 6h e, diariamente, PMs e policiais da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) "trocam informações sobre os últimos acontecimentos e definem a estratégia de atuação".

Fonte: Terra
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