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Para especialistas, mudanças na PM do Rio são insuficientes e tardias

4 out 2011 - 16h00
(atualizado às 17h37)
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A queda do chefe da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da cúpula da instituição após o assassinato da juíza Patrícia Acioli é um sinal positivo, mas insuficiente e tardio, para recuperar uma corporação com longo histórico de violência e corrupção, advertem especialistas.

Missa em homenagem à juíza Patrícia Accio ocorreu na igreja do Carmo, centro do Rio de Janeiro
Missa em homenagem à juíza Patrícia Accio ocorreu na igreja do Carmo, centro do Rio de Janeiro
Foto: Alessandro Buzas / Futura Press

Faltando menos de mil dias da Copa do Mundo de 2014, a prisão de mais de uma dezena de policiais vinculados ao assassinato em agosto da juíza Patrícia Acioli - fato que chocou a sociedade brasileira - abre novos questionamentos sobre quanto a segurança do Rio pode melhorar.

"A polícia não vai mudar porque mudaram os nomes. É necessário uma mudança profunda na formação dos policiais, um controle mais efetivo sobre os policiais, uma maior independência dos policiais em relação aos controles territoriais e eleitorais da elite política do Rio. Enquanto isso não acontecer, não é uma limpeza", disse o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) à AFP.

Freixo citou o problema das milícias, formadas por policiais, ex-policiais, agentes penitenciários e bombeiros. "A questão das milícias no Rio está longe de ser resolvida", afirmou o deputado de extrema esquerda, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre esses grupos em 2008 e foi por isso ameaçado de morte.

As milícias tiveram sua origem nos esquadrões da morte que assassinavam opositores da ditadura militar (1964-1985), e foram por muito tempo consideradas um "mal menor" que os traficantes de drogas.

Em agosto, Patrícia Acioli, uma juíza de 47 anos conhecida por seu rigor no combate contra as milícias, recebeu 21 tiros na porta de sua casa. Hoje, 11 policiais estão presos por envolvimento no crime, incluindo um tenente-coronel acusado de ser o autor intelectual.

Vários desses policiais presos são suspeitos de esconder o assassinato de um jovem de 18 anos em uma favela da zona norte do Rio de Janeiro em junho, um caso investigado pela juíza. A Justiça acredita que os policiais mataram Acioli para evitar que fossem presos pela morte do jovem. Mas não sabiam que Acioli tinha assinado, horas antes de sua morte, a ordem de prisão deles.

O assassinato surpreendeu muitos em meio a uma sensação de melhora da segurança pública na cidade após a "pacificação" de quase 20 favelas onde vivem mais de 300 mil pessoas, iniciada em 2008, e cujo controle foi retomado pelo governo.

Devido ao assassinato da juíza, Mário Sérgio Duarte, comandante da Polícia Militar do Rio, apresentou sua renúncia na semana passada. Foi substituído por Erir Ribeiro da Costa Filho, um oficial com fama de incorruptível que logo depois de assumir demitiu toda a cúpula da corporação e pediu que a Corregedoria da PM, que fiscaliza os policiais, fosse mais rigorosa.

Para Ignacio Cano, do laboratório de Análises da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), "há uma sensação de que a tolerância da sociedade brasileira com a corrupção e a violência policial está diminuindo".

"Com a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos que ocorrerão no Rio em 2016, há uma pressão maior para que algo seja feito", afirmou Cano à AFP.

A queda de Duarte representa "uma busca por maior transparência na investigação é saudável", afirmou à AFP Claudinor Mendonça, presidente da ONG Ministério Público Democrático, que reúne promotores e funcionários do Judiciário. No entanto, chega "um pouco tarde". "As pessoas já não suportam mais a corrupção da polícia", completou.

Mendonça destacou a péssima imagem da Polícia Militar, pediu para investir mais em formação e considerou que os salários "muitas vezes indignos" arrastam os oficiais para a corrupção.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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