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Política

Dilma chorou ao Rossi entregar cargo de ministro, dizem fontes

17 ago 2011 - 20h29
(atualizado às 21h38)
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Luciana Cobucci
Direto de Brasília

A presidente Dilma Rousseff chorou ao ouvir de Wagner Rossi (PMDB), entre as 18h30 e as 19h desta terça-feira, que ele deixaria o Ministério da Agricultura. É o que afirmam interlocutores no Palácio do Planalto, que garantiram que a ocasião foi "muito triste". Lamentando a decisão de Rossi, Dilma teria dito que ele era um homem "muito importante" para o governo. A pasta vinha sendo alvo de denúncias de corrupção e, na terceira nota de Rossi nesta semana em resposta às acusações, ele admitiu ter pego carona no jatinho da empresa Ourofino Agronegócios, de Ribeirão Preto (SP). No comunicado, ele negou favorecimento à empresa, cujo faturamento cresceu 81% desde novembro de 2010, segundo o Correio Braziliense.

Wagner Rossi entregou o cargo de ministro da Agricultura nesta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff
Wagner Rossi entregou o cargo de ministro da Agricultura nesta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

Segundo servidores do Ministério da Agricultura, a decisão de Rossi foi repentina e não havia sido informada para ninguém antes de Dilma. O agora ex-ministro saiu do Planalto direto para a sua casa. Por volta das 20h, seus pertences ainda eram recolhidos de sua sala no ministério.

Por meio de nota divulgada nesta quarta-feira, Rossi afirmou que todas as denúncias relativas a sua atuação são falsas, mas que, ainda assim, "a campanha insidiosa não parava". Segundo ele, as acusações tinham objetivos políticos, como a destituição da aliança de apoio à presidente Dilma e ao vice-presidente, Michel Temer.

"Durante os últimos 30 dias, tenho enfrentado diariamente uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova", disse ele, em nota. "Respondi a cada acusação. Com documentos comprobatórios que a imprensa solenemente ignorou. Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas", disse Rossi.

"Usaram para me acusar, sem qualquer prova, pessoas a quem tive de afastar de suas funções por atos irregulares ou insinuações de que tinham atuado", disse ele. "Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares. Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente". No entanto, conforme o comunicado, hoje sua família o orientou a deixar a "luta estoica, mas inglória".

A queda do ministro da Agricultura

Em decisão que surpreendeu a própria presidente Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), pediu demissão no dia 17 de agosto de 2011, após uma série de denúncias contra sua pasta e órgãos ligados a ela. Em sua nota de despedida, ele alegou que deixava o cargo a pedido da família e afirmou que todas as acusações são falsas, tendo objetivos políticos como a destituição da aliança de apoio à presidente e ao vice, Michel Temer.

A revista Veja publicou, no final de julho, denúncias do ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto de que um consórcio entre o PMDB e o PTB controlaria o Ministério da Agricultura para arrecadar dinheiro. O denunciante é irmão do senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, e foi exonerado após denúncia da própria revista de que teria autorizado o pagamento de R$ 8 milhões a uma empresa "fantasma". Outra reportagem afirmou que um lobista, Júlio Froés, atuaria dentro da pasta preparando editais, analisaria processos de licitação e cuidaria dos interesses de empresas que concorriam a verbas. Segundo a revista, o homem teria ligações com Rossi e com o então secretário-executivo do ministério, Milton Ortolan. Ambos negaram envolvimento, mas Ortolan pediu demissão em 6 agosto. Em seu lugar foi escolhido o assessor especial do ministro José Gerardo Fontelles, que acabou assumindo o lugar do próprio Rossi interinamente.

No dia 16 de agosto, o Correio Braziliense publicou reportagem que afirmava que Rossi e um filho sempre são vistos embarcando em um jato da empresa Ourofino Agronegócios. Conforme a publicação, o faturamento da Ourofino cresceu 81% depois que a empresa foi incluída como fornecedora de vacinas para a campanha contra a febre aftosa. O ministro admitiu que pegou "carona" algumas vezes na aeronave, mas negou favorecimento à empresa e disse que o processo para a companhia produzir o medicamento teve início em 2006, antes de ir para o ministério. Contudo, a Comissão de Ética da Presidência anunciou que iria analisar a denúncia. Por fim, no dia em que Rossi decidiu pedir demissão, o ex-chefe da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que Fróes lhe entregou um envelope com dinheiro depois da assinatura de contrato milionário da pasta com uma empresa que o lobista representava. A Polícia Federal instaurou um inquérito para tratar o caso.

Fonte: Terra
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