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No comando, policiais revelam dificuldades de chegar ao topo

14 ago 2011 - 22h43
(atualizado em 23/8/2011 às 20h13)
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Simone Sartori

Com 13 anos de farda, a major Pricilla de Oliveira Azevedo, 33 anos, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, conta que seguir a carreira policial não era um sonho de infância. O interesse pela profissão surgiu na adolescência, ao mesmo tempo em que o irmão. Ele desistiu. Ela seguiu em frente até se tornar a primeira mulher comandante de uma Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP do Morro Santa Marta, em Botafogo. Para ela, a diferença entre atuação masculina e feminina se limita à parte física.

Na época do trabalho na UPP, a então capitã era responsável pelo comando de 126 policias homens. "Só nos últimos meses é que recebi cinco policiais femininas. Duas estavam grávidas e foram designadas para o trabalho administrativo. As outras três foram integradas à tropa, junto dos homens", conta. Atualmente, das 17 UPPs no Rio de Janeiro, há uma média de 265 policiais mulheres.

Na favela do Morro Santa Marta, a figura feminina despertou uma aproximação natural das crianças e outras mulheres. Porém, a conduta policial é a mesma para ambos os sexos. "A diferença do homem para a mulher, logicamente, está na parte física. Não tem como competir. Mas acho que afora isso, temos totais condições de trabalhar como homens e de assumir funções de grandes responsabilidades", analisa.

A policial garante que durante sua trajetória na carreira nunca sofreu preconceito, mas sabe que ele pode existir pela própria tradição conservadora da sociedade brasileira sobre a participação feminina em profissões reconhecidas como masculinas. "Acredito que seja natural em qualquer área à resistência do homem. Porém, o militarismo não permite isso. O policial tem de cumprir uma ordem seja de quem partir", afirma Pricilla.

Delegada: ser mulher multiplicou dificuldades

A delegada Mailine Alvarenga chegou ao cargo máximo da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) em 2011. Foram 23 anos até ser nomeada pelo governador Agnelo Queiroz (PT) e se tornar a primeira mulher a comandar a Polícia Civil no DF. No Rio de Janeiro, a delegada Marta Rocha também se tornou este ano a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Estado fluminense.

Mailine admite que o fato de ser mulher multiplicou dificuldades durante a sua trajetória como policial, mas garante que conquistou o respeito até mesmo de criminosos.

"Durante toda a carreira enfrentei algumas situações que poderiam ser encaradas como preconceito, mas sempre mantive a minha postura séria e comprometida. Não me abalei e não permiti que elas perdurassem", afirma a diretora-geral.

Aos 49 anos, casada e mãe de um adolescente de 15 anos, Mailine garante conciliar a vida profissional e pessoal sem que uma atrapalhe a outra. "Não levo para casa assuntos profissionais, os deixo no gabinete", afirma. Para ela, a maior barreira a ser enfrentada pelas mulheres policiais talvez seja convencer os colegas homens de que elas podem desempenhar suas funções em níveis de igualdade, apesar das diferenças físicas. Atualmente, Mailine comanda um efetivo de 5.454 policiais. Desse total, 3.837 são homens e 1.617, mulheres. Ou seja, os homens preenchem 70% do quadro.

"Talvez a maior dificuldade seja convencer os colegas homens que nós somos tão boas policiais quanto eles. Fazemos curso de tiro, defesa pessoal. Estamos preparadas e as diferenças físicas não são empecilho. Uma vantagem: as mulheres são competentes e profissionais sem perder a sensibilidade. Se impõem pelo diálogo", alfineta a delegada.

Outras mulheres de destaque

Mulheres policiais se destacam em cargos de comando em vários Estados. No Acre, a tenente-coronel Francisca Margarete de Oliveira Melo é a atual comandante do Gabinete Militar do governo do Estado.

Em Minas Gerais, a tenente-coronel Cláudia Araújo Romualdo é comandante do 36º BPM, localizado em Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte. O Estado mineiro tem ainda a primeira mulher a se tornar coronel no País. Atualmente na reserva, a coronel Luciene Magalhães de Albuquerque foi subchefe do Estado-Maior.

No Paraná, a delegada Maritza Maíra Haisi assumiu como titular da Delegacia de Homicídios de Curitiba em 2011, após comandar Subdivisão Policial de Guarapuava, na região central paranaense.

No Rio de Janeiro, a delegada Marta Rocha encarou o desafio de chefiar a Polícia Civil e se tornar a primeira mulher a chefiar a instituição no Estado fluminense.

Em São Paulo, a coronel Fátima Ramos Dutra é Comandante de Policiamento do Interior 7, com sede em Sorocaba, município no interior do Estado paulista.

Em Sergipe, a delegada Katarina Feitosa Lima Santana é a atual superintendente da Polícia Civil de Sergipe e já desempenhou a função de corregedora da instituição.

A delegada Mailine Alvarenga se tornou em 2011 a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do DF
A delegada Mailine Alvarenga se tornou em 2011 a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do DF
Foto: PCDF / Divulgação
Fonte: Terra
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