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CGU vê uso irregular de R$ 7 mi após chuvas em Teresópolis

5 ago 2011 - 19h24
(atualizado às 19h59)
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Indícios de direcionamento na contratação de construtoras e de fraude na atuação de uma delas, incluindo o possível uso de "laranja", e a ausência de comprovantes de pagamentos são algumas das irregularidades identificadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) na aplicação dos R$ 7 milhões emergenciais repassados pelo governo federal para a prefeitura de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em virtude das fortes chuvas que atingiram a região serrana do Estado em janeiro deste ano. Uma das empresas contratadas foi uma locadora de vídeos até 2009.

12.01 - Teresópolis/RJ: moradores e Defesa Civil trabalham no resgate de pessoas após fortes chuvas que causaram deslizamentos
12.01 - Teresópolis/RJ: moradores e Defesa Civil trabalham no resgate de pessoas após fortes chuvas que causaram deslizamentos
Foto: Vanderlei Almeida / AFP

A fiscalização, feita em conjunto com a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), do Ministério da Integração Nacional, constatou que, das três construtoras contratadas para desobstruir e recuperar vias públicas, duas (Vital Engenharia Ambiental e Contern Construções e Comércio) possuem ligações societárias em comum, sendo que uma delas foi contratada sem cotação prévia. O valor empenhado para custear os serviços a cargo dessas duas empresas chega a R$ 5,7 milhões, mas a prefeitura não demonstrou empreender controle adequado da prestação dos serviços.

Quanto à terceira construtora (R.W. Construtora e Consultoria), o relatório de fiscalização coloca em dúvida sua capacitação para executar os serviços. Foi constatado que, até 2009, ela era uma locadora de vídeo cujo capital social era de apenas R$ 80 mil. Seu endereço, indicado nos documentos, fica num edifício residencial, e seu sócio-administrador, de apenas 21 anos, era, até 2009, montador de equipamentos eletrônicos.

Ainda segundo a fiscalização da CGU e da Sedec, o endereço da T.P.F. Serviços de Limpeza, Manutenção e Conservação, contratada pela prefeitura para armazenar e selecionar doações, também fica num edifício residencial, sem qualquer indício de funcionamento no local. Além disso, a nota fiscal de um pagamento no valor de R$ 208,1 mil não consta do processo referente à contratação da empresa.

Foi constatado que a prefeitura promoveu uma espécie de triangulação não justificada entre contas bancárias, efetuando pagamentos com recursos próprios e, depois, se apropriando dos recursos federais, o que dificulta a fiscalização da aplicação desse dinheiro e pode indicar pagamento em duplicidade, de acordo com a CGU.

A prefeitura, ainda, pagou por dois contêineres frigoríficos para o Instituto de Medicina Legal antes de receber os equipamentos e, apesar de ser atestada a compra, a lista de empenhos e as ordens de pagamento mencionam a aquisição de apenas um contêiner. Foram identificados, ainda, indícios de direcionamento na contratação das empresas funerárias Irmãos Berlim e MC Funerária, pertencentes a membros de uma mesma família.

O relatório de fiscalização foi encaminhado à prefeitura de Teresópolis, que pode se manifestar em até 30 dias, prazo após o qual o relatório será encaminhado ao Tribunal de Contas da União. Diante de indícios de irregularidades apresentados pela CGU em julho, a Sedec notificou a prefeitura do município e determinou o bloqueio de recursos disponibilizados pela União na conta bancária vinculada às ações de socorro e assistência às vítimas. A Sedec informou que, se as justificativas da prefeitura não forem convincentes, os recursos bloqueados serão retomados e medidas serão adotadas para resgatar os valores gastos de forma irregular.

Tragédia na região serrana

As fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011 provocaram enchentes, deslizamentos de terra e mataram oficialmente 905 pessoas. Mais de 300 foram consideradas desaparecidas. As cidades mais atingidas pelos temporais foram Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), chuvas com tal intensidade ¿ algumas estações registraram quase 300 mm de precipitação em 24 horas - têm probabilidade de acontecer apenas a cada 350 anos.

Veja onde foram registradas as mortes

Fonte: Terra
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