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RJ: descarte de ambulâncias do Samu será alvo de investigação

22 jul 2011 - 04h05
(atualizado às 04h08)
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Clarissa Mello
Pâmela Oliveira

O governo do Estado do Rio de Janeiro vai ter que explicar por que vai descartar 40 das 50 ambulâncias que estão paradas no Quartel de Guadalupe. A Defensoria Pública da União vai instaurar um procedimento para saber se houve mau uso da verba federal destinada à compra dos veículos do Samu. A Secretaria Estadual de Defesa Civil terá 15 dias para entregar à Defensoria a relação dos defeitos de cada uma das ambulâncias que, segundo o estado, não têm como ser consertadas. Na quarta-feira, o Corpo de Bombeiros anunciou a compra "como medida emergencial" de 50 ambulâncias. O custo estimado é de R$ 7, 6 milhões.

"Parece que se deixou chegar a um ponto tão periclitante que agora é necessária uma compra emergencial de ambulâncias. A questão é se essa compra de 50 ambulâncias foi fabricada ou não. Parece que sim. Quarenta ambulâncias não quebram de uma hora para outra", afirma o defensor público da União André Ordacgy, titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva.

Suspeita de crime

Segundo Ordacgy, o Estado terá que informar ainda a quilometragem de cada veículo e quando foram adquiridos. "Se ficar constatado que houve mau uso da verba pública, é crime", afirmou o defensor.

Conforme O Dia mostra desde terça-feira, além das 50 ambulâncias paradas em Guadalupe, outras 29 do Corpo de Bombeiros e do Samu estão quebradas. Na quinta-feira, 25 veículos usados em salvamentos foram deslocados para atender a população, mas há quartéis onde só há veículos quebrados.

'Veículos colocariam ocupantes em risco'

Quatro das 44 ambulâncias que seriam 'descartadas' pelo Corpo de Bombeiros serão consertadas e voltarão às ruas. A informação é do secretário de Defesa Civil e comandante da corporação, Sérgio Simões.

"Foi feita avaliação criteriosa. Ao invés de 44, 40 serão descartadas. Esses veículos não podem ser usados porque já tiveram todo o tipo de problema e colocariam em risco os ocupantes", explicou.

Simões disse que a compra das 50 ambulâncias não tem relação com o descarte das 40. E garantiu que usará o registro de preços da Aeronáutica: "Estou cumprindo todo rito legal. Não há dispensa de licitação".

Simões afirma que dará as explicações necessárias. "A expressão 'medida emergencial' é porque estamos lidando com uma situação inaceitável. Não posso levar 1h20 para socorrer uma pessoa", disse, referindo-se ao pedreiro Waldir do Nascimento, que se acidentou e ficou à espera de atendimento.

Desigualdade

Regiões com as avenidas com maior índice de acidentes de trânsito, as Zonas Norte e Oeste têm 30% de suas ambulâncias quebradas. Das 29 que estão paradas na capital, 24 estão nessas áreas, ou 82% dos veículos com defeito.

Como O Dia mostrou ao longo da semana, as duas vítimas da falta de ambulância - Daniele Bispo e o pedreiro Waldir Nascimento - enfrentaram a dificuldade em bairros das regiões que mais sofrem com a escassez de veículos - Campo Grande e Méier, respectivamente. Daniele deu à luz a um menino no banco da estação de trem. Já Waldir caiu de andaime e esperou sangrando na calçada por cerca de 1h20.

Do outro lado da cidade, a realidade é diferente: além de contarem com 40% da frota de ambulâncias da capital, 27 viaturas, centro e zona sul têm um déficit de cinco ambulâncias - 18,5%. Pela classificação dos bombeiros, Alto da Boa Vista e Vila Isabel fazem parte do eixo Centro-Sul. A discrepância não para: as regiões têm 695 mil moradores. O resto da cidade, cerca de 1,8 milhão.

Fonte: O Dia
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