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'Vou voltar a incomodar', diz Lula em congresso sindical em SP

15 jul 2011 - 11h51
(atualizado às 14h39)
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Simone Sartori
Direto de São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, durante o 2º Congresso Nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, que vai "voltar a incomodar algumas pessoas" e a viajar pelo País como o "lobista número 1 das causas sociais", sem esconder que deve permanecer como o principal cabo eleitoral da atual presidente, Dilma Rousseff. As declarações foram feitas diante de cerca de 3,5 mil sindicalistas provenientes de todo o Brasil. Na ocasião, Lula voltou a ressaltar conquistas do seu governo e a elogiar a atuação de sua sucessora.

Lula cumprimenta sindicalistas durante discurso no 2º Congresso Nacional da União Geral dos Trabalhadores, ocorrido nesta sexta-feira
Lula cumprimenta sindicalistas durante discurso no 2º Congresso Nacional da União Geral dos Trabalhadores, ocorrido nesta sexta-feira
Foto: Nelson Antoine / Foto Arena / Especial para Terra

"A companheira Dilma tem a cabeça mais acertada e mais voltada para o sucesso desse País. Eu tenho certeza que ela vai fazer muito mais. Ela vai fazer melhor e o País vai continuar crescendo, vai aumentar a categoria de comerciários no Brasil, vai aumentar o salário... Sabe por que vai aumentar? Porque nós temos o pré-sal, porque nós temos o PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), porque nós temos a Copa do Mundo, porque nós temos as Olimpíadas, porque esse País aprendeu a se respeitar e o povo voltou a ter auto-estima", disse Lula, em tom sempre efusivo para relembrar a evolução econômica dos brasileiros e afirmar que "foi apenas o começo".

"Agora os pobres estão viajando de avião. Eu fui agora para a Argentina... Está cheio de pobre dentro do avião indo para Buenos Aires, indo para o Uruguai, indo para o Ceará visitar seus parentes, para o Maranhão, para o Piauí, para a Paraíba, para o Rio Grande do Norte, para a Bahia. Ou seja, o que é mais importante é que está cheio de gente comprando carro novo e tem gente que fala: 'esse governo Lula é uma desgraça mesmo, até pobre está andando de carro novo aqui em São Paulo, está entupindo as ruas'. Pode ter certeza que o que aconteceu em nosso governo, foi apenas o começo".

O apoio à presidente é reiterado um dia depois de Lula discursar no 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), onde o ex-presidente garantiu que não interfere na gestão de sua sucessora e criticou a suposta tentativa dos jornais de mostrarem uma "divergência profunda" entre os dois. "Só diz que ela é fraca quem não conhece a personalidade dela", disse. "Ninguém que passa três anos e meio na cadeia, barbaramente torturada e é eleita presidente da República (é fraca). Essa é a maior vingança contra quem a torturou", afirmou.

Na quinta-feira, Lula já havia dito que "a presidenta Dilma vai fazer mais e melhor do que nós fizemos" para uma plateia de cerca de 2 mil estudantes no auditório do Centro de Convenções de Goiânia, durante o 2º Encontro Nacional dos Estudantes do Programa Universidade para Todos (Prouni). Ele citou futuras ações da presidente, como o programa de qualificação profissional, creches e outros. "Ela vai inaugurar, até o final do mandato dela, deste primeiro mandato, obviamente, mais 200 escolas técnicas", afirmou, indicando que Dilma pode tentar a reeleição.

A chegada de Lula ao auditório Elis Regina, no Anhembi, foi marcada pelo tumulto. Cercado por seguranças, com empurra-empurra, o ex-presidente foi recebido com aplausos e por sindicalistas que se aproximaram do palco para fotografá-lo. Não demorou para o ex-presidente reviver os tempos de campanha e anunciar que terminou, após cerca de seis meses, o "processo de desencarnação" que, segundo ele, permitiria a "encarnação" de Dilma Rousseff na Presidência da República.

O evento da UGT, que teve início na quinta-feira, chega à marca de 1.008 sindicatos registrados no Ministério do Trabalho e será realizado até sábado. Delegações de pelo menos 27 países, tais como Marrocos, Espanha, Itália, Portugal e Bélgica, além dos países da América Latina, num total de 83 nações participantes, também comparecem ao Congresso.

"100 real"
Durante os 26 minutos em que falou, Lula manteve o discurso de aproximação popular dos tempos de presidente. Em uma mesma frase, ele afirmou ter "olhar meio vesgo para os pobres", que "os ricos não sabem o que significa 100 real" e voltou a exaltar os programas sociais, como o Bolsa Família e o Programa Luz para Todos.

"Eu dizia pra todo mundo: 'eu sou presidente de todos', mas eu tenho um olhar meio vesgo para os pobres. Eu tenho um olhar porque é essa gente que precisa do Estado, é essa gente que precisa de políticas públicas, é essa gente que precisa do Bolsa Família. Quando a gente criou o Bolsa Família, chegaram a dizer que era esmola, que era assistencialismo, e o Bolsa Família hoje é maior política de transferência de renda e a mais bem sucedida. Porque os ricos não sabem o que significa 100 real (sic) na mão de uma mulher pobre. Eles não sabem o que significa um programa Luz para Todos, que levou energia para a casa de 13 milhões de brasileiros."

Denúncias no Transporte e Haddad

O tumulto causado pela presença de Lula no local o acompanhou também na saída do Palácio das Convenções. Ainda cercado por seguranças, ele fez breves paradas para tirar fotos com sindicalistas e para falar com a imprensa, apesar do constante empurra-empurra. Indagado sobre as denúncias de gestão no Ministério dos Transportes, Lula minimizou a troca de comando na pasta.

"É importante lembrar que o ministro dos Transportes no ano passado era o companheiro que assumiu agora, o Paulo Sérgio, que assumiu em março de 2004. Na medida que tem uma denúncia, o que importa de quando foi a denúncia, o que importa é que ela seja investigada. Porque se a pessoa for inocente terão que comunicar que é inocente, se forem culpadas, pagarão por isso", afirmou.

O ex-presidente voltou a sinalizar a sua preferência pelo ministro da Educação Fernando Haddad, a quem considerou um nome "adequado", para disputar pelo PT à prefeitura de São Paulo, nas eleições de 2012. "Eu acho que o companheiro Haddad é adequado. Foi ministro da Educação e acho que está na disputa interna, mas quem vai decidir são os delegados (do PT)", disse Lula, antes de deixar o local, suado após o "corpo-a-corpo" e ainda cercado por seguranças.

Assessoria de Lula lança site

O Instituto Cidadania lançou nesta sexta-feira um site para divulgar as atividades e projetos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A página entra no ar com mais de 50 notícias, além de vídeos, fotos e discursos. Sediado em São Paulo, o Instituto Cidadania foi onde Lula debateu e elaborou propostas de políticas públicas antes de ser eleito presidente em 2002. Hoje, é o espaço onde está sendo criado o Instituto Lula, voltado para causas políticas e sociais no Brasil, África e América Latina.

"O Brasil vive um momento de ouro, continua vivendo um momento extraordinário, e eu espero poder conversar com vocês daqui para frente neste pequeno espaço", afirma Lula em um vídeo de boas-vindas aos internautas. "(Vamos) tentar trabalhar a questão da integração, tentar trabalhar as experiências de políticas sociais bem-sucedidas. Não que a gente vá querer ensinar aos outros (países) o que eles têm que fazer, porque isso não deu certo em lugar nenhum do mundo. O que queremos é mostrar como fizemos as coisas no Brasil e, quem sabe, adequando à realidade deles, com a vontade cultural deles, com a vontade política deles, isso possa ser aplicado em outros países", diz o ex-presidente na mensagem.

Fonte: Especial para Terra
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