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Polícia

Sem estrutura, IML de AL joga provas de assassinato no lixo

7 jul 2011 - 18h57
(atualizado às 21h08)
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Odilon Rios
Direto de Maceió

Sem estrutura para funcionar desde 1938 e com pedido de interdição do Ministério Público (MP), o prédio do Instituto Médico Legal (IML) Estácio de Lima, em Maceió, que abrange 50 cidades de Alagoas, é alvo de uma polêmica envolvendo as investigações do assassinato da estudante Giovanna Tenório. Ela havia desaparecido e foi encontrada morta no início de junho em um canavial. A direção do instituto confirmou que jogou na última quarta-feira no lixo hospitalar lençois e roupas que estavam com a estudante quando o corpo foi encontrado por não existir lugar para guardar o material no prédio.

O casal Mirella Granconato e Antônio Bandeira foi preso, acusado do crime. A defesa deles e os advogados de acusação da família de Giovanna reclamaram do descarte das provas. "Lamentamos profundamente que o IML tenha jogado fora o lençol e uma toalha de mesa usados para encobrir Giovanna encontrados sobre o corpo, sobretudo por envolver um crime dessa natureza", disse o advogado de acusação, Welton Roberto.

"Há muita coisa que poderia ser colhida daquele material. Se precisarmos de uma contraprova, por exemplo, não poderemos ter mais", afirmou o advogado de defesa do casal preso, Rodrigo Ferro. Giovanna Tenório foi encontrada morta em um canavial na Fazenda Urucum, entre as cidades de Rio Largo e Messias, quatro dias após seu desaparecimento. A jovem teria deixado uma faculdade particular e seguido ao encontro de um amigo.

Essa não é a primeira vez que o IML da capital é centro de polêmica. Em 2007, o corpo do servente de pedreiro Carlos Alberto sumiu do instituto. Até hoje, o pai dele, Sebastião dos Santos, procura pelo filho. "Quero encontrar o meu filho para que no Dia de Finados eu possa levar uma flor no túmulo dele. Tenho o direito de chorar pelo meu filho", disse.

O corpo dele foi enterrado como indigente, segundo documentos do IML. O MP, Conselho Estadual de Segurança e peritos buscaram o corpo durante anos, em escavações, mas não localizaram. Em 1996, os corpos do ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor, Paulo César Farias, e sua namorada, Suzana Marcolino, foram analisados pelo IML, mas, por falta de estrutura, não se descobriu se PC e a namorada foram assassinados ou se ela matou o empresário.

Cabeça de Lampião arrancada

Em 1938, o IML, que funciona no mesmo prédio há 78 anos, recebeu o corpo do cangaceiro Lampião para perícia. Ele foi morto em Sergipe, transferido para Alagoas, mas, sem estrutura para a perícia da cabeça, ela foi arrancada e levada para Recife.

Em janeiro, o MP alagoano pediu à Justiça a interdição do prédio. Além de ameaçar a saúde da população local, mil laudos periciais estão "encalhados", segundo o MP, que constatou "sujeira, podridão, descaso e abandono total", conforme relatório. Além disso, apontou o documento, o líquido que escorre dos corpos nas necropsias é despejado na rede pública de saneamento e restos de cadáveres são jogados no lixo, cujo destino é ignorado.

No IML, não existe raio-X para a identificação de balas ou averiguação de casos de tortura. Colheres de feijão substituem materiais especiais e o prédio funciona sem licenciamento ambiental. Ele foi condenado pela Vigilância Sanitária por ameaçar a saúde dos funcionários e há riscos de choques elétricos e desabamento. O governo prometeu construir uma nova sede, ao custo de R$ 4 milhões, e o MP decidiu retirar a ação da Justiça, mas, seis meses depois, nada foi erguido.

Fonte: Especial para Terra
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