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Política

Wyllys sobre Bolsonaro: sou homossexual com H maiúsculo de homem

29 jun 2011 - 16h44
(atualizado às 22h53)
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Claudia Andrade
Direto de Brasília

Após ouvir o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) dizer que é "parlamentar com P maiúsculo, não com H minúsculo de homossexual", em sua defesa na tarde desta quarta-feira no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) rebateu a alegação dizendo ser "homossexual com H maiúsculo de homem". Wyllys acompanhou a reunião em que foi negada a abertura de processo disciplinar contra Bolsonaro pela acusação de disseminar o preconceito e estimular a violência com declarações contra negros e homossexuais.

Jean Wyllys é deputado pelo Psol do Rio de Janeiro
Jean Wyllys é deputado pelo Psol do Rio de Janeiro
Foto: Agência Câmara

De acordo com Bolsonaro, é vergonhoso que um representante do partido tenha orgulho de ser chamado de "veado", referindo-se ao deputado Wyllys. "A grande preocupação do pessoal do Psol é eu falar qual o pai que tem orgulho de ter um filho gay? Não vou me calar com essa representação sem vergonha, com esse lixo. Sou parlamentar com P maiúsculo, não com H minúsculo de homossexual", disse Bolsonaro.

O deputado Wyllys lembrou o movimento Black is Beautiful, iniciado por afro-descendentes americanos na década de 60, no qual "insultos eram ressignificados como instrumentos políticos", para rebater os argumentos do deputado do Partido Progressista. "Eu tenho orgulho de ser chamado de veado por outro veado, sim, mas não pelo senhor. O senhor tem que lavar a boca antes de falar isso. Eu sou homossexual com H maiúsculo de homem, mais homem que o senhor que fugiu da acusação de racismo porque racismo é crime e se refugiou na homofobia", disse o deputado.

Wyllys se referia à entrevista de Bolsonaro ao programa CQC, na qual, em resposta a uma pergunta da cantora Preta Gil sobre como ele reagiria se seu filho namorasse uma mulher negra, disse que não corria esse risco já que, ao contrário de Preta, seu filho não havia crescido em um ambiente promíscuo.

O deputado rebateu as declarações de Bolsonaro, afirmando que "dizer que os pais de LGBTs não têm orgulho de seus filhos é ofender a dignidade dessas famílias". "É lamentável que ele ofenda a família brasileira dessa maneira e queira sair impune. Eu tenho orgulho de ser chamado de veado por outro veado, mas não pelo senhor. O senhor tem que lavar a boca antes de falar isso", disse.

Wyllys argumentou ainda que o princípio da dignidade humana está acima da liberdade de expressão dos parlamentares. A fala veio depois da manifestação do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que defendeu a imunidade parlamentar dizendo que "é inviolável", mesmo que não concordasse com uma palavra do que foi dito. "Não vou ser eu que vou apoiar a fragilização do único escudo que dá altivez a todos os indivíduos que compõem esse parlamento", disse Lorenzoni.

Depois de se manifestar na comissão, Jean Wyllys deixou a sala, ouvindo Bolsonaro dizer, irônico: "fica, deputado".

Bolsonaro iniciou sua defesa dizendo que lhe deva "asco ser representado por questões como estas". Ele alegou que não havia nenhuma materialidade nas denúncias e defendeu sua liberdade de expressão. O deputado não poupou críticas ao Psol: "É um partido muito preocupado com a ética dos outros. Mas um partido que defende o kit gay não tem moral pra criticar ninguém", disse, referindo-se ao kit contra a homofobia, que o governo preparava para distribuir nas escolas.

O deputado terminou sua defesa antecipando que esperava ficar livre das acusações. "Não posso ter medo dos senhores, até porque a maioria aqui são heterossexuais preocupados com a família. Se fosse LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), eu seria condenado", afirmou. "Não vou me calar com essa representação sem vergonha, com esse lixo. Sou parlamentar com P maiúsculo, não com H minúsculo de homossexual".

O conselho acabou rejeitando, por 10 votos a 7, o relatório que defendia a abertura de processo disciplinar contra Bolsonaro. O relator, deputado Sérgio Brito (PSC-BA), havia considerado que deveria ser dado prosseguimento ao processo, argumentando que "há programas de televisão e reportagens que relacionam a ele os fatos narrados e, ao menos em tese, o acuso da prerrogativa da imunidade parlamentar constitui ato incompatível com o decoro parlamentar. Ademais, os fatos são recentes e não evidentemente atípicos". Os argumentos, contudo, não convenceram os conselheiros. O resultado da votação arquiva o caso, a menos que haja apresentação de recurso ao plenário.

Denúncias

As representações que estavam sendo relatadas referem-se à discussão entre ele e a senadora Marinor Brito (Psol-PA), durante debate sobre o projeto de criminalização da homofobia, no dia 12 de maio. Na ocasião, Bolsonaro e Marinor trocaram insultos depois que o deputado se posicionou atrás da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que concedia entrevista, com folhetos "anti-gays", o que irritou a senadora do Psol.

Na representação, o partido acusa Bolsonaro de "ofender moralmente a senadora", distribuir panfletos com afirmações "mentirosas, difamatórias e injuriantes" a respeito da causa LGBT e também correlacionar a mulher negra à promiscuidade.

Fonte: Terra
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