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Polícia

Os três passos do negociador em casos com reféns

24 jun 2011 - 10h06
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Hermano Freitas

Invasão é considerado o último recurso da polícia em casos de cárcere privado. As tratativas entre as autoridades e agressores que mantêm vítimas sob a mira de uma arma é composta de três fases, sendo a "invasão tática" o último recurso, explicou o negociador da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, major Francisco Lannes Vieira, 41 anos.

De acordo com ele, a chamada "doutrina das negociações" para casos como o do último domingo em Guaíba, quando um homem acabou tirando a vida de sua ex-companheira após 17 horas de negociações divide em três fases as conversas com o sequestrador. Do início da ocorrência até 4 horas de cárcere privado é a chamada "fase afetiva", em que o diálogo tende a ser difícil e o policial deve mais ouvir do que falar. "O sequestrador geralmente não está consciente de tudo o que faz e só quer se livrar da situação. É o momento de saber com quem estamos lidando e pesquisar quais as características do indivíduo e suas intenções", disse o major Vieira.

Passada a "fase afetiva", o oficial ensina que tem início o "período cognitivo" da ocorrência. Policiais já sabem quem é o sequestrador e podem dar início a uma negociação técnica. "O criminoso deve entender que sair livre da situação é impossível e suas exigências devem chegar a termos compatíveis à legalidade", disse Vieira.

Finalmente, passadas 8 horas e faltando cerca de 5 horas para que encerre o ciclo de 24 horas do sequestro hipotético, tem início a fase chamada de "caótica". É o momento de pressionar. "O negociador deve colocar que nada do que foi falado aconteceu e cobrar alguma atitude. Do seu lado, o sequestrador também não aguenta mais e fará a exigência de alguma atitude da parte do policial", disse Vieira.

Terminadas as três fases da negociação, outros recursos podem ser utilizados para resolver a ocorrência. Pela chamada "progressividade de meios", pode ser empregado o armamento com menor potencial de letalidade, como bala de borracha, gás, cães ou ainda o uso de atiradores de elite (snipers). Pelo alto índice de letalidade, a invasão tática fica em última na fila das ações policiais para esses casos. "Há pelo menos uma baixa (morte) em 30% das invasões, seja do sequestrador ou de um policial", disse o major.

Requisitos para ser negociador

Apenas policiais experientes, com no mínimo 15 anos de polícia, podem chegar ao cargo de negociador de operações especiais da polícia. Segundo o major Vieira, um curso que pode variar de dois meses a 15 dias habilita o policial a exercer a atividade e instrui a respeito dos fundamentos da negociação policial. O curso é ministrado em alguns Estados do País e também no exterior.

A psicóloga Henriette Penha Morato compara a negociação policial com uma barganha clássica, com a diferença de que o preço que o criminoso exige pela liberdade da vítima, no início, não pode ser pago pelos policiais. "O sequestrador parte de um valor absurdo, a liberdade, para termos mais razoáveis como a garantia da integridade física. Tem que deixar claro que a liberdade não é um objetivo possível", disse.

Segundo ela, o autoritarismo pode ser a maior barreira no diálogo entre o criminoso e o policial. Deixar claras as consequências da atitude do criminoso são um passo para se aproximar do convencimento do delinquente. "O negociador tem que agir não no sentido policialesco clássico, de autoridade, mas tentar na medida do possível se colocar no lugar do criminoso para ganhar sua confiança."

Ainda de acordo com a especialista, as emoções do policial também podem ser um entrave para o desfecho de sucesso para o "negócio". "O negociador precisa trabalhar com ele mesmo para não deixar emoções como a raiva, ansiedade, e a arrogância própria da autoridade tomar conta e provocar o outro. Isso causaria um retraimento do sequestrador que poderia ser danoso", afirmou.

Fonte: Terra
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