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Política

Palocci repete com Dilma pesadelo da renúncia que viveu com Lula

7 jun 2011 - 21h41
(atualizado às 23h38)
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O pesadelo que Antonio Palocci viveu em março de 2006, quando renunciou ao cargo de ministro da Fazenda por suspeitas de corrupção, se repetiu nesta terça-feira, quando apresentou sua demissão ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) por razões similares. Palocci, que no ano passado foi o principal coordenador da campanha eleitoral que levou Dilma ao poder, renunciou nesta terça-feira ao cargo de chefe da Casa Civil encurralado por denúncias relacionadas a seu patrimônio que, segundo a imprensa, se multiplicou por 20 nos últimos quatro anos.

Em 2006, Palocci caiu pela primeira vez ao ser demitido pelo presidente Lula do cargo de ministro da Fazenda
Em 2006, Palocci caiu pela primeira vez ao ser demitido pelo presidente Lula do cargo de ministro da Fazenda
Foto: AFP

Esse período foi justamente o de "renascimento político" do médico de 50 anos, que começou sua militância no trotskismo e com os anos amenizou suas posições até abraçar e impor a ortodoxia liberal que caracterizou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro da Fazenda entre 2003 e 2006. Há cinco anos, Palocci era considerado o "homem forte" do governo Lula, sobretudo depois da queda do então chefe da Casa Civil José Dirceu, que perdeu a pasta e o mandato ao ser acusado de participação no mensalão, suposto esquema de pagamento de propinas a parlamentares da base aliada.

O médico que havia "tirado a economia brasileira da UTI", como costumava dizer Lula, caiu em março de 2006 diante de um escândalo de corrupção que o manteve no olho do furacão durante meses. Palocci negou cada acusação, mas sua imagem acabou destroçada quando surgiram as denúncias de que havia utilizado seu cargo de ministro para investigar de forma ilegal as contas bancárias do caseiro Francenildo, que afirmou tê-lo visto em festas que eram realizadas em uma mansão de Brasília e nas quais circulavam garotas de programa e lobistas.

Sua reputação de administrador responsável, elogiada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros organismos, foi manchada ainda com acusações de corrupção nos tempos em que era prefeito da cidade de Ribeirão Preto, cargo que trocou pelo Ministério da Fazenda em 2006.

Abatido e com sérios problemas familiares, apresentou sua renúncia a Lula e retornou à política meses depois, para ganhar uma cadeira de deputado pelo Estado de São Paulo, após a Justiça ter declarado que era inocente do escândalo que custou seu cargo na Fazenda, visto que não foram encontradas provas de que estivesse envolvido em negócios escusos.

Desde que explodiu o escândalo no governo Dilma, Palocci deu várias explicações, mas não convenceu nem a oposição, nem muitos parlamentares da base governista de que, como consultor, não praticou tráfico de influência. Em comunicado emitido pouco depois das denúncias serem divulgadas, ele atribuiu seu alto preço no mercado de consultorias à experiência que tinha tido como ministro da Fazenda no governo Lula. Essa experiência, no entanto, não teve o mesmo valor no mercado da política, do qual Palocci pode ter se despedido nesta terça-feira de forma definitiva, transformado no primeiro ministro brasileiro que renuncia duas vezes, em diferentes governos, por conta de assuntos ligados à ética.

A segunda queda de Palocci

De acordo com reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de maio, semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil Antonio Palocci (PT) comprou um apartamento em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Um ano antes, ele havia adquirido um escritório na cidade por R$ 882 mil. Com os novos bens, o patrimônio do ministro teria se multiplicado 20 vezes em quatro anos. O ministro alegou que o lucro foi gerado por sua empresa de consultoria, a Projeto, dentro da legalidade e declarado à Receita Federal. No entanto, ele alegou que cláusulas de sigilo o impediam de revelar maiores detalhes sobre os contratos ou seus clientes.

Mas a onda de denúncias continuou. Na Câmara, o PSDB levantou suspeitas sobre a liberação rápida de cerca de R$ 9 milhões em restituição do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) logo após o primeiro turno das eleições de 2010 a uma empresa, a WTorre. Os valores, relativos aos anos-base 2007 e 2008, teriam sido liberados apenas um mês e meio após o pedido, em duas operações com diferença de quatro minutos entre uma e outra. Em contrapartida, segundo a oposição, a empresa teria financiado a campanha da presidente Dilma Rousseff no valor de R$ 2 milhões. A WTorre seria uma das clientes da empresa de Palocci.

Pressionado pela oposição e pela própria base para que apresentasse uma defesa em público, Palocci concedeu uma única entrevista sobre o tema. Na noite de 3 de junho, ele afirmou ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que sua empresa não atuou com contratos públicos. O ministro disse que trabalhou em fusão de empresas, mas que nunca junto ao Banco Central, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ou ao Ministério da Fazenda para resolver problemas das empresas que procuraram seus serviços.

A Procuradoria Geral da República solicitou explicações ao ministro, mas decidiu arquivar os pedidos de investigação por considerar que não houve indícios de procedimentos ilegais. Mesmo assim, a pressão política sobre Palocci não diminuiu e a articulção da oposição para aprovar uma CPI contra Palocci avançava no Congresso. Diante disso, no dia 7 de junho, o principal ministro de Dilma Rousseff pediu demissão.

EFE   
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