Em convenção tucana, Aécio cobra CPI e explicações de Palocci
- Cláudia Andrade
- Direto de Brasília
O ex-governador de Minas Gerais e atual senador Aécio Neves (PSDB-MG) cobrou neste sábado a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso Nacional para investigar o aumento de patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. "O PSDB já deu suas assinaturas. O Brasil clama ainda por explicações em relação ao aumento de patrimônio do ministro e o PSDB tem utilizado todas as instâncias possíveis para que isso ocorra", disse. A oposição ainda não conseguiu alcançar as 27 assinaturas no Senado e 171 na Câmara dos Deputados para instalar a comissão parlamentar mista.
O caso Palocci foi alvo de críticas indiretas nos discursos dos tucanos durante Convenção Nacional realizada em Brasília. O ex-governador de São Paulo José Serra foi um dos mais veementes. "Este é o Brasil do engano. Temos um governo negligente, ineficiente, omisso e incompetente e que agora, de novo, começa a navegar nas águas da corrupção. Temos que ter isso presente", afirmou.
O presidente de honra do partido, Fernando Henrique Cardoso, foi outro crítico dos adversários petistas, dizendo que o governo Dilma "é fracasso pra todo lado e muito papo furado" e que "usa instrumentos para calar a boca, para impedir CPI e fazer tudo por medida provisória".
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo afirmou que o patrimônio de Palocci se multiplicou por vinte nos últimos quatro anos. A oposição protocolou representações contra o ministro e recolheu assinaturas para a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no Senado, enquanto a base aliada tentou blindar Palocci. Em declarações à imprensa, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse considerar que o ministro já prestou os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes.
Na quarta-feira, deputados tucanos apresentaram nova denúnciacontra o ministro. O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) disseque, de acordo com dados do Sistema Integrado de AdministraçãoFinanceira (Siafi), Palocci teria praticado tráfico de influência parabeneficiar a então candidata do PT à presidência da República em 2010,Dilma Rousseff. Um cliente da empresa de consultoria de Palocci teriarecebido cerca de R$ 9 milhões em restituição do imposto de rendapessoa jurídica (IRPJ) logo após o primeiro turno das eleições, edoado R$ 2 milhões para a campanha petista. Mais tarde, o Ministérioda Fazenda alegou que o pagamento das restituições do Imposto de Rendaà empreiteira ocorreu por determinação da Justiça.
Mensalão
A convenção contou com também com a presença do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), que defendeu o esclarecimento das denúncias contra Palocci, mas posicionou-se contra uma CPI."Não tem motivo para fazer CPI. Uma CPI vai paralisar o governo Dilma, e o País não precisa disso".
Ele disse ver o caso Palocci "com apreensão", mas descartou qualquer semelhança entre as atuais denúncias e aquelas do esquema do mensalão, suposto pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio político, denunciado por ele mesmo em 2005. "Não vejo semelhança. O mensalão não existe mais. É um fato superado que ficou no passado da história do País".
Crise na oposição
Depois da derrota nas eleições presidenciais de 2010, a oposição enfrenta uma crise marcada por rachas internos e a possível fusão de PSDB e DEM. O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso afirmou que há conversas sobre a união das duas legendas, mas que são "preliminares". Para o senador Aécio Neves (PSDB), as reuniões com o DEM para a definição das candidaturas nas eleições municipais de 2012 devem começar o quanto antes. Aécio, no entanto, descartou uma fusão das duas siglas.
Na capital paulista, sete vereadores haviam anunciado saída do PSDB, mas Adolfo Quintas voltou atrás e foi nomeado secretário-geral do PSDB municipal. Segundo o grupo dissidente, a decisão foi tomada em razão da dificuldade de diálogo com a nova cúpula do partido no município, presidido por Julio Semeghini. Em convenção do PSDB paulista, José Serra admitiu a crise, inclusive "em nível federal", enquanto o governador Geraldo Alckmin preferiu dizer que "há fragmentações".
Ao mesmo tempo, o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, deixou o DEM e iniciou um processo de criação de um novo partido - o PSD - que ganha força com a adesão de outros políticos descontentes dentro da oposição. Entre eles estão o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, o governador do Amazonas, Omar Aziz, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, a senadora Kátia Abreu, e o ex-candidato a vice-presidente na chapa de Serra, Indio da Costa. Quanto à orientação do PSD, Kassab disse que será "independente".