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Projeto de estação de metrô gera luta de classes em São Paulo

14 mai 2011 - 10h01
(atualizado às 12h41)
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O projeto de construção de uma estação de metrô em um bairro de classe alta de São Paulo gerou um conflito instigado pelas redes sociais, que tem os elementos clássicos da luta de classes.

Usuários do metrô foram chamados de "gente diferenciada" por uma mulher no Facebook
Usuários do metrô foram chamados de "gente diferenciada" por uma mulher no Facebook
Foto: Governo SP / Divulgação

Um grupo de moradores de Higienópolis, um bairro residencial da elite paulistana, se opõe à estação Angélica porque considera que o caráter popular do metrô é uma ameaça à exclusividade da região, enquanto outros residentes apoiam o projeto pela melhoria que representaria para o transporte urbano.

A empresa que administra o metrô de São Paulo anunciou nesta semana que está estudando, por razões "técnicas", a mudança do local da estação, que faz parte do projeto da futura linha 6, o que foi o estopim da polêmica.

O anúncio foi interpretado como uma concessão à associação de moradores que havia recolhido 3,5 mil assinaturas contra o projeto no bairro, batizado de "Higienópolis no século XIX", porque apresentava condições de saneamento básico dificilmente encontradas em outras partes da cidade.

"O caso foi interpretado como se o Metrô e o governo de São Paulo tivessem cedido ao lobby dos moradores. A lógica da mudança responde a um reequilíbrio entre estações, é uma decisão técnica", disse um porta-voz da empresa que gere o meio de transporte. Segundo o porta-voz, o projeto da linha 6 está em fase inicial, à espera da conclusão de estudos geotécnicos, o que explicaria os remanejamentos.

"A verdade é que já tinham sido feitas alterações antes e ninguém protestou", acrescentou a fonte, que explicou que, em uma "previsão otimista", a linha começará a ser construída em 2013 e será finalizada em quatro anos.

A empresa se viu forçada a divulgar um comunicado nesta semana no qual desmente de forma categórica ter se dobrado às demandas dos moradores. "A questão é que a estação prevista ficava a 600 m de outra. Então o metrô perde velocidade porque é muito pequena a distância. A nova estação que está sendo estudada também será em Higienópolis", declarou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Mas as explicações das autoridades não conseguiram convencer boa parte dos paulistanos, que se lançaram às redes sociais para mostrar seu descontentamento. "É tão fácil resolver o problema: façam uma entrada principal e uma de serviço", escreveu uma mulher em seu perfil no Twitter.

Já o Facebook serviu de plataforma para convocar um "evento popular" em Higienópolis, que teve a presença confirmada de mais de 50 mil pessoas, sob o slogan "Churrasco para gente diferenciada", em referência ao suposto comentário de uma moradora do bairro que classificou os usuários do metrô com esse termo.

"Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada", foi a frase atribuída pela imprensa a Guiomar Ferreira, uma psicóloga de 56 anos que desmentiu ter cunhado a expressão, mas reafirmou sua oposição ao metrô por achá-lo "desnecessário".

A batalha entre moradores motivou a reação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se posicionou como claro aliado dos defensores da estação. "Eu acho um absurdo, porque isso demonstra um preconceito enorme contra o povo que anda de transporte coletivo neste país", disse na quinta-feira, 12, o ex-governante.

Polêmicas à parte, a rede do metrô de São Paulo, que tem como lema "Metrô para todos", conta com apenas 70 km distribuídos em quatro linhas e cobre um raio muito limitado da superfície da capital financeira do Brasil, cuja população supera os 11 milhões de habitantes.

Segundo números oficiais, o metrô da cidade é o transporte escolhido todos os dias por 3,4 milhões de pessoas.

EFE   
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