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Polícia

Ministro diz que campanha do desarmamento não é oportunista

6 mai 2011 - 12h56
(atualizado às 13h43)
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Luís Bulcão Pinheiro
Direto do Rio de Janeiro

Foi lançada nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, a nova campanha nacional para o desarmamento da população. Adiantado pela comoção com a tragédia na escola de Realengo - a campanha estava prevista para iniciar somente no segundo semestre -, o projeto prevê a coleta da armas da população, que pode doar de forma anônima. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, rebateu críticas de que a campanha seja oportunista por ser lançada um mês após o massacre na escola Tasso da Silveira.

"A campanha não foi decidida agora. Foi prevista em lei. É uma política de Estado que cumpre uma lei aprovada por unanimidade no Congresso", afirmou. O valor de R$ 100 a R$ 300 será pago por cada arma entregue pela população, dependendo do calibre. O armamento será inutilizado com o uso de marretas no momento da coleta para que não haja desvios.

Segundo Cardozo, a campanha pretende coletar até 31 de dezembro um número maior de armas do que foi arrecadado nas duas campanhas anteriores, quando 500 mil armas foram entregues e destruídas. No entanto, a verba do ministério para a campanha é de R$ 10 milhões, o que viabilizaria o pagamento de apenas 100 mil armas, sem contar o pagamento de R$ 300 para armas de grosso calibre. José Eduardo afirmou que o objetivo é esgotar os recursos. "Pela primeira vez, um ministro diz que quer que falte verba. Se faltar, eu vou buscar mais. O nosso objetivo é recolher o maior número de armas possível", destacou.

Para ele, a diminuição da violência está diretamente ligada ao resultado das campanhas. "Nas duas campanhas anteriores, mostramos que cai brutalmente o número de homicídios. Não estamos falando de teses. Está provado", afirmou.

Plebiscito

Cardozo evitou tomar posição na discussão para o lançamento de um novo plebiscito popular pelo desarmamento. Segundo ele, cabe ao Congresso decidir. "Foi uma proposta do senador José Sarney (PMDB-AP). O governo mantém uma posição equidistante. Aquilo que o Congresso determinar, vai ser cumprido", afirmou.

Política de fronteira

O ministro afirmou que, até o final do mês, deve entrar em vigor o Comitê de Gestão Integrada de Controle das Fronteiras, que pretende fazer com que o Exército e as polícias Federal e Rodoviária colaborem na fiscalização e no combate ao tráfico nas fronteiras do País. José Eduardo prometeu também o lançamento de campanhas para a redução de homicídio e de prevenção da violência. "As campanhas também têm um componente pedagógico e social importantíssimo. Elas vão na contramarcha da cultura da violência. Até em jogos de videogame as crianças aprendem que quem ganha é quem mata mais. Nós temos que refletir, temos que discutir isso", afirmou.

Rubem César Fernandes, diretor da ONG Viva Rio, ressalta que a nova campanha de desarmamento traz duas novidades. A primeira é a garantia de anonimato para quem entregar a arma. A segunda é que as pessoas vão poder coletar o dinheiro em uma agência bancária logo após terem feito a entrega. Segundo Fernandes, o desarmamento pode ser efetivo no combate à violência. "Temos que tornar o acesso ao armamento difícil e fazer com que tenha menos armas que possam ser roubadas", afirmou. Para ele, a ligação com a tragédia de Realengo pode inspirar uma maior adesão à campanha. "Uma das armas utilizadas pelo Wellington quando ele causou todo o horror na escola, saiu da casa de um homem de bem. Esta é a ligação com a campanha", afirmou.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também lembrou a tragédia. "Não custa repetir que a escola é um lugar de construção de sonhos, de futuro. É muito ruim um lugar como esse ser palco da tragédia que vimos ali", afirmou. Para o governador Sérgio Cabral, a campanha está diretamente ligada ao que ocorreu na escola. "A resposta está se dando de uma maneira extraordinária. Uma arma na mão de alguém não capacitado é sempre um risco. É sempre uma vida interrompida. Muito mais escandaloso quando essa vida é uma criança ou um adolescente. Mas é sempre trágico", afirmou.

O governador aproveitou para destacar a votação do STF, que ontem aprovou por unanimidade a união entre gays. "O Supremo deu ganho de causa ao amor, à vida, à liberdade", afirmou.

Capitão Nascimento endossa campanha

Wagner Moura, que interpreta o popular personagem Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, narra o texto do vídeo que passará a ser veiculado a partir de hoje em rede aberta de televisão. "Tire uma arma do futuro do Brasil", afirma Moura no vídeo da campanha. Ele não cobrou cachê pela participação.

Familiar de vítima faz apelo

Policial militar reformado, Raymundo Nazareth Freitas da Silva, pai da menina Ana Carolina, uma das vítimas da escola de Realengo, também colabora com a campanha. "Para quê manter arma em casa? Se quer atirar, vá em um estande de tiro. Armas devem estar nas mãos de profissionais e não de pessoas comuns. Se houver uma briga de vizinhos, alguém pode cometer uma besteira", destacou. Raymundo lembrou com carinho da filha, que tinha 13 anos quando foi morta por Wellington. "Era uma criança superativa, acordava todo mundo, chamava as colegas para ir para a aula. Tudo o que eu puder fazer em memória da minha filha, vou fazer", recordou.

Vice-presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) das Armas da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado Zaqueu Teixeira (PT) afirmou que a entrega de armas realizada de forma voluntária pela população também pode ser eficaz no combate ao tráfico de armas. "A maior parte das armas ilegais são armas curtas que chegam à sociedade legalmente e acabam caindo na ilegalidade. É preciso diminuir essa fonte", afirmou.

Tragédia em Realengo

Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.

Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta, Wellington não deu razões para o ataque - apenas pediu perdão de Deus e que nenhuma pessoa "impura" tocasse em seu corpo.

Familiares de vítimas do massacre em Realengo participaram do lançamento da campanha de desarmamento
Familiares de vítimas do massacre em Realengo participaram do lançamento da campanha de desarmamento
Foto: Adriano Ishibashi / Futura Press
Fonte: Especial para Terra
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