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'Estamos vivendo como porcos', diz desabrigado de Teresópolis

25 abr 2011 - 19h25
(atualizado às 21h36)
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A cidade de Teresópolis, localizada na região serrana do Rio de Janeiro, atingida no início do ano por enxurradas, ainda não conseguiu resolver os problemas com os desabrigados. Na última quinta-feira, a situação piorou com a transferência de alguns moradores, abrigados até então em escolas, igrejas e galpões, para o Ginásio Pedro Jahara. De acordo com alguns desabrigados, o local não apresenta a infraestrutura necessária para atender as pessoas.

Os deslizamentos na região serrana deixaram mais de 900 mortos
Os deslizamentos na região serrana deixaram mais de 900 mortos
Foto: Everton Gomes/Diário de Teresópolis / Futura Press

"Estamos vivendo como porcos. Não tem comida, não tem limpeza, não tem espaço, não tem nada", afirmou um dos abrigados que não quis se identificar. O homem, que antes estava no abrigo Renascer, no bairro Meudon, disse que a situação no ginásio é a mais precária possível e que o principal problema é o alojamento, onde estão 15 homens em beliches.

"Não tem ventilação nenhuma, não tem limpeza. Fica um monte de caixas entulhadas, muita roupa espalhada entre os beliches, uma confusão", disse o abrigado. "Tem gente que fuma, que bebe, que chega alterado e faz xixi no chão. A gente vive no meio disso", afirmou.

Outro desabrigado, que também não quis revelar o nome, reclamou da falta de infraestrutura e de privacidade do novo abrigo. Ele, que perdeu a casa e 14 pessoas da família, afirma que preferia ser transferido para uma das barracas cedidas pela organização não governamental (ONG) inglesa ShelterBox, que foram instaladas no Bairro Alto. "A gente teria muito mais privacidade e eu poderia ficar com minha namorada também desabrigada", disse.

Cedido por um empresário, o abrigo Renascer, que funciona em um galpão, precisará ser desocupado até o fim da semana. Por isso, todos os desabrigados solteiros foram levados para o ginásio. Segundo a prefeitura, o local "dispõe de melhor estrutura e privacidade", e, em 20 dias, será decidido o destino final das 13 pessoas.

Famílias desabrigadas conseguiram vagas nas barracas, apontadas pelos moradores de abrigos como a melhor solução. "Vou ter o meu primeiro momento de tranquilidade e privacidade", afirmou Cristiane Almeida, que vai para as tendas com os três filhos. Após três meses da tragédia, recebendo os R$ 500 de aluguel social, ela ainda não conseguiu uma casa.

Embora não tenha oferecido as tendas aos solteiros, a prefeitura não descartou pedir mais barracas para a ONG. Também informou que negocia com o governo estadual a inclusão de mais 200 famílias no aluguel social. Atualmente, 2,3 mil são beneficiadas no município.

As medidas, no entanto, são lentas e deixam em situação vulnerável as pessoas que perderam suas casas, segundo o presidente da Associação de Vítimas de 12 de Janeiro, João Alves Caldeira. Ele cobra a inclusão de mais famílias no cadastro do aluguel social e é a favor da transferência dos desabrigados para o ginásio municipal, apesar do local não oferecer as "condições ideais".

"Até quando essas pessoas vão ficar em igrejas, em galpões alugados pelos empresários, apertados e em casas de parentes?", perguntou. "Essa é uma forma de cobrar respostas e ações da prefeitura. O que não pode é as pessoas ficarem sem atendimento", afirmou Caldeira.

Tragédia na região serrana

As fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro nos dias 11 e 12 de janeiro provocaram enchentes, deslizamentos de terra e mataram oficialmente 905 pessoas. Mais de 300 foram consideradas desaparecidas. As cidades mais atingidas pelos temporais foram Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), chuvas com tal intensidade - algumas estações registraram quase 300 mm de precipitação em 24 horas - têm probabilidade de acontecer apenas a cada 350 anos.

Veja a Praça do Suspiro, em Nova Friburgo, antes e depois da chuva

Veja onde foram registradas as mortes

Agência Brasil Agência Brasil
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