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Polícia

Candidatos passam por 'vestibulinho' para comandar UPPs no Rio

5 fev 2011 - 21h50
(atualizado às 22h05)
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Ocupados pelas forças de paz desde o fim de novembro, os complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, vão ganhar 11 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que serão instaladas entre setembro e outubro. Ao todo, 2,2 mil policiais vão atuar nas 25 favelas da região - 15 no Alemão e 10 na Penha. À frente da tropa estará um grupo de oficiais que terá de passar por um processo interno de seleção: o "vestibulinho", apelido dado pelo coronel Robson Rodrigues, comandante das UPPs.

Exército vigia entrada da favela da Grota, no Complexo do Alemão
Exército vigia entrada da favela da Grota, no Complexo do Alemão
Foto: Fabio Motta / Agência Estado

No posto há oito meses, o coronel é responsável pela nova forma de escolha dos comandantes das unidades. Com a sua chegada, os candidatos deixaram de ser indicados e passaram a ser selecionados depois da análise da ficha funcional e do currículo. Em seguida, os interessados passam por uma entrevista com o coronel, que dá a palavra final. O encontro com o comandante encerra a seleção que dura cerca de 15 dias. A abertura de vaga é comunicada pelo Boletim Interno (BI) da PM e a apresentação, voluntária.

"O critério tem que ser mais rigoroso. A gente faz questão de analisar a ficha disciplinar e eliminamos o policial que tiver alguma anotação. E nem precisa ser uma grande transgressão disciplinar, como corrupção", afirmou. "Minha concepção de desvio aqui é diferente. Uma anotação que demonstre falta de sensibilidade comunitária já manifesta que ele não tem a habilidade do diálogo, um dos principais pré-requisitos para ser comandante de UPP. Mas é lógico que isso não vai ser a única questão analisada. Vou ouvi-lo também e, na entrevista, podemos avaliar melhor o oficial", disse.

O coronel disse que dez candidatos se apresentaram para a escolha dos comandantes das próximas três UPPs. As futuras unidades deverão estar em funcionamento dentro de aproximadamente um mês, nas comunidades do Estácio, Santa Teresa, Rio Comprido e Catumbi.

A capitã Alessandra Carvalhaes, da UPP Formiga, na Tijuca, foi a primeira comandante de uma UPP a ser selecionada no "vestibulinho". Desde então, cinco oficiais já passaram pelo mesmo processo. Um deles é o capitão Almir Beltran, que comanda a UPP do Turano, no Rio Comprido. "Foi fácil. Eu já havia trabalhado com o coronel Robson no Batalhão de Choque e ele conhece meu trabalho. Esse processo de escolha é mais democrático porque dá chance de todos serem comandantes de uma UPP", afirmou.

Até o fim do ano, os comandantes serão treinados pela Escola Nacional de Polícia Pacificadora (Enapp), que funcionará no atual quartel do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Laranjeiras - a sede da tropa de elite vai se mudar para Ramos. O atual quartel do grupo vai abrigar o Comando de Polícia Pacificadora (CPP).

Capacidade de diálogo é qualidade fundamental

Liderança, inteligência, conhecimento, compromisso e solidariedade comunitária são algumas das principais "armas" que um oficial precisa ter para comandar uma UPP. "Inteligência é fundamental porque você está num espaço aberto e precisa inovar as ações a todo momento", disse o coronel Robson. "E solidariedade comunitária, porque ele vai lidar com novas realidades que se descortinam quando você acaba com a tirania do tráfico. Por isso, o policial tem que estar atento. Se continuar com os modelos tradicionais, ele não avança. Se for alguém extremamente conservador, resistente a mudanças, já corto. Tem que ter capacidade de ouvir, dialogar", disse.

Os candidatos que não forem escolhidos para comandar uma UPP ficam com seu processo arquivado e podem participar de outra seleção. "A gente faz uma espécie de banco de dados e avisa quando haverá uma nova escolha. Fica mais fácil porque já temos os candidatos com o perfil que procuramos", disse o coronel.

Governo federal vai implantar 30 unidades em outros Estados

As UPPs se tornaram uma opção também do governo federal no combate e prevenção à criminalidade. Citado com frequência pela presidente Dilma Rousseff, o projeto está próximo de chegar a outros Estados. Já há verba para implantar pelo menos 30 unidades, mas valores, locais e datas ainda não foram informados.

Uma equipe de 18 pessoas de Brasília chega no domingo ao Rio para conhecer o projeto desde sua criação até os resultados alcançados. Entre elas, está a diretora de Prevenção da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), Cristina Villanova, que vai se encontrar com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e policiais militares envolvidos no programa das UPPs.

Violência no Rio

O Complexo do Alemão está ocupado pelas forças de segurança desde o dia 28 de novembro. A tomada do local aconteceu praticamente sem resistência numa ação conjunta da Polícia Militar, Civil, Federal e Forças Armadas. A polícia investiga uma possível fuga de traficantes pela tubulação de esgoto do Alemão antes dos policiais subirem o morro. Em 25 de novembro, a polícia assumiu o comando da Vila Cruzeiro, na Penha. Ambos dominados, até então, pela facção criminosa Comando Vermelho. As ações foram uma resposta do Estado a uma série de ataques, que começou na tarde do dia 21 de novembro. Em uma semana, pelo menos 39 pessoas morreram e mais de 180 veículos foram incendiados por criminosos nas ruas do Rio de Janeiro.

Fonte: O Dia
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