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RJ: agentes contra dengue são impedidos de entrar em 1 mi de casas

31 jan 2011 - 05h18
(atualizado em 1/2/2011 às 08h19)
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O número de casos de dengue notificados na cidade do Rio de Janeiro no primeiro mês do ano foi três vezes maior do que o total de casos registrados em janeiro do ano passado. Apesar de a cidade estar "em alerta" para a doença e das autoridades não descartarem o risco de uma epidemia, agentes de vigilância responsáveis pelo trabalho de prevenção não conseguem entrar em 29% das residências visitadas. Só no ano passado, eles não puderam entrar em 1,1 milhão de domicílios.

"A grande maioria dos focos do Aedes aegypti (transmissor da dengue) está na casa das pessoas. Então, é inviável o combate ao mosquito sem a participação do cidadão. Sem o apoio da população, dificilmente se consegue manter a dengue sob controle", admite o secretário municipal de saúde e Defesa Civil, Hans Dohmann.

Professor de infectologia da UFRJ, Edmilson Migowski faz um alerta. "Essa recusa é muito elevada. Representa quase um terço dos domicílios e pode comprometer o combate à dengue. O fato de não abrir a sua casa para se fazer o trabalho de prevenção coloca em risco não só a saúde dos moradores do imóvel, mas toda a população", disse.

Há meses, os moradores da Rua Alves do Vale, em Vila Valqueire, vivem com medo devido a uma clínica de estética que fechou as portas e mantém o que eles vêm chamando de "piscinão da dengue" sem qualquer tratamento. "Os fiscais vieram aqui algumas vezes, mas disseram que não podem invadir. Essa piscina é um grande foco de dengue. Várias pessoas na rua tiveram a doença", diz a professora Marly da Rosa, 56 anos, que mora em frente ao imóvel.

Em alguns locais, como na região de Santa Cruz e no Centro, os agentes de vigilância não têm a entrada permitida em mais de 40% dos domicílios em que tentam entrar, segundo a secretaria. De acordo com Dohmann, os imóveis fechados como o de Vila Valqueire não são o único obstáculo. "Há os domicílios em que o morador não está em casa na hora da visita. Além disso, há pessoas que não abrem a porta por medo da violência e aqueles que não abrem porque não têm consciência do risco da dengue", revela. A pessoa que teme abrir a porta por não ter certeza de se tratar de um agente de vigilância pode conferir com o telessaúde (3523- 4025) se o profissional é cadastrado.

Para Migowski, é preciso encontrar caminhos para aumentar o combate ao Aedes. "Uma alternativa seria deixar um aviso na casa em que o morador não está, dando a possibilidade da pessoa agendar uma nova visita por telefone, por exemplo".Lei permite entrada nas casas, mas prazo é longo
O problema dos imóveis em que a visita dos agentes não é permitida levou o município a aprovar, em 2009, uma lei que permite a entrada dos agentes nos imóveis em que os proprietários não permitem que o trabalho de prevenção seja feito. A medida foi tomada após a epidemia de 2008 que provocou 240 mortes no Estado, 158 delas na capital. Mas, na prática, a lei nunca foi usada.

"Hoje, o tempo entre a primeira visita recusada, todas as publicações necessárias e a autorização de entrada no imóvel é de cerca de 60 dias. Usamos a lei duas vezes como elemento de negociação para entrar em duas residências", diz Dohmann, acrescentando que o número de denúncias tem sido baixo. "Estamos estudando uma forma de reduzir o prazo".

Segundo o especialista em insetos da Fiocruz Anthony Érico Guimarães, cada fêmea do Aedes vive entre 25 e 30 dias e coloca 1.500 ovos no período. Ou seja, na metade do tempo necessário para se entrar no imóvel com auxílio da lei em busca de focos do inseto, um Aedes é capaz de produzir 1.500 ovos. "Se a metade se transformar em mosquitos, são 750. Em média, 400 serão fêmeas que transmitiram a dengue", diz ele, que explica que só as fêmeas transmitem a doença.

Focos do Aedes aegypti são criados nos imóveis
Setenta e quatro em cada 100 focos do Aedes aegypti estão na casa das pessoas, segundo levantamento da Secretaria municipal de Saúde e Defesa Civil. Vinte e cinco anos após a primeira epidemia de dengue no Rio, que ocorreu em 1986, ainda são encontrados focos nos pratos de plantas, em pneus e caixas d'água.

"As campanhas contra a dengue têm que incentivar as pessoas a se livrar dos possíveis criadouros. Por exemplo, as pessoas não devem guardar garrafas de cabeça para baixo no quintal porque vai ter uma semana que elas vão esquecer de ver isso e a garrafa poderá servir de criadouro. Outro exemplo são os pratinhos das plantas. Não adianta colocar areia porque com o tempo a areia cai, acumula água e aparece o foco", critica Anthony Érico Guimarães, especialista em insetos da Fundação Oswaldo Cruz.

O especialista lembra que com a volta do tipo 1 da dengue - que não circulava no Rio desde o início da década de 90 - o risco de epidemia existe. "Temos um grande número de pessoas que não tiveram contato com esse vírus e, por isso, estão suscetíveis a ele. Então, enquanto tivermos o mosquito, há o risco de epidemia".

Prevenção é o melhor caminho

Mosquito
O Aedes costuma se deslocar a uma distância média de 150 m do lugar onde nasce, segundo Anthony Érico Guimarães, especialista em insetos da Fiocruz. Mas quando a fêmea não encontra água parada para colocar ovos e alimento disponível, o inseto é capaz de voar até 1.000 m em busca de condições favoráveis.

Denúncias
Moradores do Rio podem fazer denúncia de imóveis com focos do Aedes através do telessaúde (3523-4025). Ou na internet, pelo Twitter hansdohmann.

Crianças
O número de casos e mortes por dengue entre menores de 15 anos vem aumentando no País. Hoje, 25% dos casos graves do Brasil são de crianças e adolescentes nesta faixa etária. No Estado do Rio, os casos de dengue entre menores de 15 anos representavam 11% do total em 2001. Em 2008, o índice foi de 45%. Dos 240 mortos pela dengue naquele ano no estado, 94 tinham menos de 15 anos.

Imóvel fechado em Vila Valqueire preocupa moradores devido ao que chamam de "piscinão da dengue", por não ter tratamento adequado
Imóvel fechado em Vila Valqueire preocupa moradores devido ao que chamam de "piscinão da dengue", por não ter tratamento adequado
Foto: Carlo Wrede / O Dia
Fonte: O Dia
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