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Pesquisador: deslizamentos ocorreriam sem intervenção humana

23 jan 2011 - 12h45
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De acordo com o pesquisador da Área de Recuperação de Áreas Degradadas e Proteção de Encostas da Embrapa Solos, Silvio Tavares, os deslizamentos registrados nas cidades de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, onde mais de 700 morreram, ocorreriam mesmo sem a intervenção humana, por causa de fatores geomorfológicos como o processo natural de formação de solo das baixadas.

Moradores procuram corpos de vítimas de deslizamento de terra em área de risco
Moradores procuram corpos de vítimas de deslizamento de terra em área de risco
Foto: AP

Segundo ele, apesar da intervenção humana, a região da Serra do Mar, que atravessa quase todo o Estado do Rio de Janeiro, inclusive as cidades atingidas, é propícia a deslizamentos. "A intervenção humana vai aumentar os eventos que ocorreram. É um fator natural. E a Serra do Mar é toda, naturalmente, propícia a isso. As vertentes são muito íngremes e muito longas. E esse é um processo natural de formação do solo nas baixadas. Então, não precisa nem ocupação humana para acontecer isso", disse.

Tavares diz que nos municípios da região serrana fluminense, uma conjugação de fatores facilitou a ocorrência dos deslizamentos. "É muito mais pelo solo conjugado com a posição na paisagem. É uma conjugação de fatores geomorfológicos", explicou.

Segundo ele, obras de engenharia podem ser a solução para os deslizamentos de encostas no Estado do Rio de Janeiro, mas exigem recursos elevados de que o governo não dispõe. Ele afirma que o Brasil, como um País tropical, tem 39 classes de solo e que o Estado do Rio tem quase todas elas.

Ele esclareceu que, geotecnicamente, a presença do homem amplia a probabilidade de desmoronamento, reduzindo o fator de segurança com as construções. "Mas o solo, dependendo da posição da paisagem, vai cair naturalmente", devido à erosão.

Para impedir que os deslizamentos ocorram, Silvio Tavares destacou que deve ser feito estudo que estabeleça um fator de segurança humana e patrimonial e que não haja ocupação. Acrescentou que a tragédia da região serrana fluminense não tem nada a ver com mudanças climáticas. "Tudo isso é uma balela. Você tem picos. Não existe uma modelagem perfeita para ser anticlimática".

Nos rios, por exemplo, ele afirmou que deve ser definido um fator de segurança de 20% ou 30% a mais, após os trechos de cheias, para se pensar em realizar construções. O mesmo ocorre em relação às encostas. "O que o homem faz é diminuir o fator de segurança e aumentar o risco de desmoronamento". Para Tavares, a solução seria não ocupar.

O pesquisador disse ainda que nos municípios serranos nenhum governo poderá resolver o problema porque a população já está instalada. "Ou seja, vai ser morte anunciada ano após ano. O que se vai fazer são obras de contenção em áreas mais críticas, que não garantem nada. Cabe ao homem decidir se quer morar sob risco ou não".

Silvio Tavares acredita que a solução seria fazer um mapeamento das áreas de risco e estabelecer níveis. "Dentro dos níveis de risco 4 e 5, ninguém poderia ocupar". Nos locais situados embaixo, onde fica muito caro remover a população, seriam feitas obras pesadas de engenharia, que minimizariam os problemas. "Infelizmente, a geografia do Rio é desfavorável à ocupação humana. A solução é: a engenharia resolve 90% dos problemas, mas com muito dinheiro".

O pesquisador assegurou que o custo é muito caro e que o governo não tem recursos para obras de grande envergadura como as realizadas em Dubai, nos Emirados Árabes, por exemplo, que transformaram o deserto em cidades com toda a infraestrutura.

Chuvas na região serrana

As fortes chuvas que atingiram os municípios da região serrana do Rio nos dias 11 e 12 de janeiro provocaram enchentes e inúmeros deslizamentos de terra. As cidades mais atingidas são Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu cerca de 300 mm em 24 horas na região.

Veja onde foram registradas as mortes

Agência Brasil Agência Brasil
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