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RJ: "acordei com lama até o peito", diz sobrevivente da chuva

15 jan 2011 - 14h39
(atualizado às 15h11)
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Cláudia Marapodi
Direto de Nova Friburgo

Com 252 mortes em decorrência das chuvas confirmadas até este sábado, o município de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, exibem marcas do drama de moradores que perderam tudo na enxurrada. No Ciep Licínio Teixeira, em Olaria, onde funciona um dos principais abrigos da cidade, muitas famílias choram as perdas e relatam os momentos de pânico vividos nesta semana. "Estava dormindo em minha casa na quarta-feira com minha mulher, filha e sogra, quando, de repente, acordei no meio dos escombros, com lama até o peito", diz o lavrador Marcelo Moura, 34 anos.

O lavrador - um dos 120 desabrigados acolhidos no Ciep - conta que só está vivo porque Deus quis assim. "Comecei a me desenterrar e, quando consegui me salvar, comecei a procurar e chamar por minha mulher e minha filha", relata. "Quando já estava desesperado, achando que tinha perdido minha família, ouvi Ludimila (8 anos) me chamando. Comecei a procurar de onde vinha a voz dela e escavar. O que salvou minha filha foram os móveis e cobertor que estavam sobre ela", acrescenta.

"Depois consegui encontrar minha mulher e também precisei tirar os escombros e lama que estavam encobrindo ela", disse Moura. O lavrador, entretanto, não conseguiu salvar sua sogra. "Minha sogra foi a única que não sobreviveu e morreu soterrada. Agora estamos bem, apenas precisamos melhorar dos ferimentos para eu poder voltar a reconstruir minha casa e cuidar da terra, que é a única coisa que sei e gosto de fazer. Eu e minha mulher estamos com os pés cortados e minha filha quebrou a clavícula. Agora estamos bem, com a graça e a vontade de Deus, estamos vivos", afirmou.

Caos

Voltou a chover forte na tarde deste sábado em Nova Friburgo, o que aumentou a apreensão da população. A grande concentração de viaturas da polícia e do Corpo de Bombeiros e de ambulâncias e caminhões e os bloqueios parciais na rodovia RJ-116 fez com que o trajeto de carro da capital até o município serrano - que normalmente seria feito em, no máximo, três horas de carro - aumentasse em pelo menos uma hora.

O ponto mais crítico da rodovia fica em Mury, distrito de Nova Friburgo, onde uma parte do asfalto cedeu na pista sentido Rio de Janeiro. Nesse trecho, a espera é longa e a fila de carros tanto para entrar quanto para sair da cidade é grande, pois só é possível passar um veículo de cada vez.

Segundo Thiago Salazar, 23 anos, funcionário da concessionária que administra a via que fazia a sinalização na estrada, se os engenheiros e técnicos não conseguirem conter a água que jorra das encostas, a estrada para a cidade pode ser fechada novamente. Os motoristas ficam tanto tempo parados na entrada da cidade que atraiu a presença de vendedores ambulantes na estrada.

Ao chegar à ponte da Saudade, primeiro bairro logo após Mury, onde fica a rodoviária da cidade, o cenário é de caos. O fluxo é lento e há sinais de destruição por todos os lados. Os postos de combustíveis estão lotados com filas quilométricas de carros e motos. A maioria deles não têm mais combustível e aguardam o abastecimento que vem da capital. Mesmo nos bairros de Paissandu e Olaria, que sofreram menos danos com a enxurrada, é possível encontrar muita entulho e sujeira. A praça do Paissandu foi completamente destruída e a lama invadiu diversas residências e estabelecimentos comerciais.

Chuvas na região serrana

As fortes chuvas que atingiram os municípios da região serrana do Rio nos dias 11 e 12 de janeiro provocaram enchentes e inúmeros deslizamentos de terra. As cidades mais atingidas são Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu cerca de 300 mm em 24 horas na região.

Rua do centro de Nova Friburgo é tomada pela lama

Veja onde foram registradas as mortes

O Ciep tem mais de 120 desabrigados e, dentre as várias famílias, está a do lavrador Marcelo Moura
O Ciep tem mais de 120 desabrigados e, dentre as várias famílias, está a do lavrador Marcelo Moura
Foto: Claudia Marapodi / Especial para Terra
Fonte: Especial para Terra
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