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Polícia

Mandaram-no à favela se virar sozinho, diz mãe de Tim Lopes

19 dez 2010 - 10h03
(atualizado às 10h04)
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Maria Luisa de Melo
Direto do Rio de Janeiro

Pela primeira vez após 8 anos e meio da morte do jornalista Tim Lopes, familiares e amigos conseguiram homenageá-lo com a uma missa no complexo do Alemão, onde o repórter foi torturado e morto, em 2002, por traficantes de drogas. A celebração, ocorrida nesse sábado, contou não só com familiares e amigos, mas também com muitos moradores da localidade Nova Brasília, em Inhaúma, onde fica localizada a paróquia Nossa Senhora de Guadalupe.

Para a mãe de Tim, Maria do Carmo Lopes do Nascimento, 87 anos, o filho merecia mais. "Foi uma injustiça muito grande o que fizeram com meu filho. mandaram-no para a favela se virar sozinho, sabendo do risco que corria."

O ano de 2011 ainda não começou, mas Tânia Lopes, irmã do jornalista, já sabe o que pretende fazer assim que 2010 acabar. "Vou organizar uma grande caminhada até o lugar onde os restos mortais do meu irmão foram encontrados em 2002", planejou, fazendo referência ao cemitério clandestino da favela da grota.

"Lá no alto do morro fincaremos uma cruz. sempre quis chegar lá, mas antes da pacificação não era possível. Esta é a primeira vez que venho ao alemão, sempre tive medo de pisar aqui."

Responsável por organizar a celebração, Suzana Blass, presidente do sindicato dos jornalistas do município do Rio de Janeiro, criticou a cobertura de eventos de risco na cidade."A chefia de reportagem da TV Globo não avaliou os riscos antes de permitir que Tim viesse para o Alemão. foi muito ingênua, não teve a dimensão do perigo", opinou. "Além disso, este processo de pacificação das favelas cariocas demorou demais. Unidades de polícia pacificadora já deveriam ter começado a ser instaladas há muito mais tempo."

Procurada para comentar as declarações, a TV Globo não respondeu às solicitações.

Depois da celebração, que reuniu cerca de 85 pessoas, o padre Barnabé da Cunha, da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em Inhaúma, doou à família uma medalha dela e fez votos de dias menos violentos para o alemão."Acompanho essas transformações com uma perspectiva muito grande de que estas famílias possam estar integradas ao resto da cidade do Rio de Janeiro", desejou.

Para a moradora vizinha à paróquia Maria Inês Gonçalves, muitas famílias, como a de Tim, choraram face à maldade de traficantes. "Muita mãe já chorou por causa da barbárie destes bandidos. Graças a Deus, eles foram embora daqui.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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