PUBLICIDADE

Ossadas são achadas em possível vala comum da ditadura em SP

30 nov 2010 - 19h21
(atualizado às 19h29)
Compartilhar

A equipe que realiza uma escavação no cemitério Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, desde segunda-feira, encontrou restos mortais no interior de um ossuário clandestino, abaixo de um canteiro onde havia um letreiro do cemitério. O grupo trabalha para a identificação de uma vala comum que pode ter sido usada como cemitério clandestino de desaparecidos políticos durante a ditadura militar. A informação foi divulgada nesta terça-feira, pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP)

Trabalho de esvação vai se estender durante a semana e conta com a ajuda de funcionários da prefeitura
Trabalho de esvação vai se estender durante a semana e conta com a ajuda de funcionários da prefeitura
Foto: Simone Sartori / Redação Terra

Até a profundidade em que o material foi vasculhado, os peritos visualizaram restos mortais no interior de sacos. Na tarde de hoje, foi feita a remoção de 16 ossadas, que seriam datadas da década de 1980. Segundo a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, autores de uma ação civil pública que pede que sejam responsabilizados autoridades públicas que autorizaram a ocultação de cadáveres de opositores mortos, os trabalhos dos peritos prosseguirão até a próxima sexta-feira.

Participam da escavação representantes do MPF-SP, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Polícia Federal e do Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo.

Os trabalhos de busca no cemitério Vila Formosa, iniciados no dia 8 de novembro, visam a localizar os restos de aproximadamente dez desaparecidos políticos, entre os quais os de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, líder sindical dos químicos, que mais tarde acabou liderando o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. Mais de 450 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o período do último regime militar no Brasil (1964-1985).

Identificação de restos mortais
Após o trabalho de localização, serão selecionadas ossadas para pesquisa antropológica, na qual fotos, dados médicos e dentários das vítimas serão cruzados com as características das ossadas. Essa primeira fase será realizada em conjunto pelo IML e o INC, que extrairá dos ossos o material genético para a segunda fase, na qual serão confrontados com o material colhido dos familiares das vítimas e que compõe o banco de DNA.

Para o MPF, o trabalho será muito difícil, principalmente se as ossadas não tiverem sido acondicionadas adequadamente. Caso não ocorra identificação positiva, o MPF quer que seja erguido no local um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos na ditadura.

É o que deseja também a viúva de Virgílio, Ilda Gomes da Silva, que há 41 anos espera encontrar os restos mortais do marido. "Mesmo que não se localize o corpo dele, que pelo menos se faça uma homenagem a ele e aos demais desaparecidos. São mais de 400 pessoas. Pelo menos, eles lutaram", disse ontem, pouco antes do início dos trabalhos.

A família de Virgílio Gomes da Silva obteve documentos que apontam o número do terreno em que ele teria sido enterrado no cemitério da Vila Formosa, em 1969. Essas informações foram repassadas aos procuradores, que realizaram uma série de diligências preparatórias no cemitério. No trabalho de buscas, foi constatado que a sepultura e respectiva quadra foram renumeradas, bem como a possibilidade de que os restos mortais tenham sido transferidos para outro local, pois antigos funcionários indicaram que, quando houve a mudança, os restos mortais foram transferidos para esse ossuário clandestino, posteriormente coberto pelo canteiro e o letreiro.

Uma análise pelo INC, realizada com base nos dados preliminares coletados com a ajuda de um radar de penetração no solo (GPR), combinado com fotografias aéreas de 1972, permitiram aos peritos localizar a estrutura embaixo do canteiro, removido para que fossem iniciados os trabalhos ontem. A avaliação é de que esse compartimento tenha aproximadamente 3 m de largura por 3 m de comprimento, com profundidade indefinida.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade