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Polícia

Morador do Alemão: toda vez que saio de casa, eles arrombam

30 nov 2010 - 18h10
(atualizado às 21h10)
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Luís Bulcão

Hermano Freitas

Fuzil de longo alcance é achado no lixo no 'Alemão':
Direto do Rio de Janeiro

É só a polícia se afastar um pouquinho que um grupo de moradores chama a reportagem do Terra para caminhar por entre as vielas da favela da Grota, no Complexo do Alemão. Chega um homem com uma corrente no pescoço. "Toda a vez que saio de casa, eles arrombam", disse ele. "O pior não é isso. O pior é que levam dinheiro. Roubam mesmo. Tudo o que o trabalhador tem, eles levam", afirmou. A região está ocupada por causa da onda de violência que atinge o Rio desde o dia 21 de novembro.

A moradora Rosilda dos Santos, 53 anos, vai até a casa de sua filha, Gisele. As duas mostram a porta arrombada e os armários quebrados. Não estavam em casa quando a polícia bateu. "Agora não saio de casa, não estou indo trabalhar. Vá que eles passam por aqui e quebram tudo de novo?", disse Gisele.

Ela afirmou que sente medo e disse que na segunda-feira um grupo de jovens parou em frente a sua casa e diziam que iam entrar. "Fiquei morrendo de medo. Quando os traficantes estavam aqui, esse tipo de coisa não acontecia". Os moradores também relatam saques. As casas ficam abertas. "Quem garante que não é a própria polícia que rouba?", diz um morador. Além de um par de tênis, ele teve sua niqueleira roubada.

Outra moradora que fez questão de levar os repórteres a sua casa, Clara Augusta Fernandes, disse que além de ter a maçaneta da porta quebrada, os policiais viraram o guarda-roupa, quebraram a cama e um armário da cozinha durante uma revista a sua casa. "Foram com um X-9 encapuzado na minha casa e disseram que tinha arma e droga, reviraram tudo e nada encontraram", disse a auxiliar de produção. Ela afirmou que levaram um celular e R$ 2 mil em dinheiro.

Vizinha de Clara, a diarista e manicure Roberta Cristina Silva Salles, 24 anos, disse que a invasão a sua casa foi praticada por um soldado que usou a sola do coturno para vencer o metal da porta. "Fui trabalhar, voltei e encontrei este estrago". Além das denúncias de invasão e abuso por parte das forças policiais, os moradores falaram que pessoas do próprio complexo aproveitaram o arrombamento dos agentes para saquear a casa dos vizinhos.

O posto da Defensoria Pública montado na entrada do Complexo do Alemão recebeu nesta terça-feira ao menos seis denúncias - de acordo com um balanço não-oficial - de moradores que afirmam ter tido suas casas arrombadas.Os casos serão encaminhados para a 44ª Delegacia de Polícia e devem ser investigados.

A operação de varredura, que envolve policiais de todas as delegacias de Polícia Civil, diversos batalhões da polícia militar, além dos homens de elite do Bope e do Core, começou no domingo, logo após a invasão do Complexo do Alemão. O objetivo da limpa é encontrar armas, drogas e traficantes escondidos. De fato, 135 armas foram encontradas.

Mais de 30 t de maconha foram apreendidas. Da mesma forma, cocaína, 235 kg de cocaína e outros 27 kg de crack.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.

Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.

Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.

Fonte: Especial para Terra
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