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Polícia

Comunidade teme ação da polícia na Rocinha, diz associação

29 nov 2010 - 18h35
(atualizado às 19h40)
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Hermano Freitas

Luís Bulcão Pinheiro

Veja imagens da invasão da PM ao complexo do Alemão, no Rio:
Direto do Rio de Janeiro

Após a ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão por forças de segurança, a comunidade da Rocinha, no bairro de São Conrado, teme uma ação da polícia na maior favela do Rio de Janeiro. "A população tem medo de ficar no meio do fogo cruzado da polícia e dos bandidos", disse o presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Barcelos (Amabb), Vanderlan Barros, o Feijão. No domingo, após a tomada do Alemão, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, não descartou uma invasão no local. "Se chegamos ao Alemão, vamos chegar à Rocinha e ao Vidigal", afirmou.

A comunidade mantém sua rotina, mas é inegável que um desconforto foi sentido por todos os que habitam a região. Apesar disso, o movimento das ruas, vielas e do enorme comércio local seguem a pleno vapor.

Na quarta-feira, dia com maior número de ataques a veículos, a associação de moradores pagou um carro de som para tranquilizar a comunidade e transmitir a mensagem de que a Rocinha é "ordeira". A Amabb garante que a tática funcionou.

Rumores sobre a Rocinha ser destino de bandidos
Os moradores negam com veemência o que chamam de "boatos" sobre a procura de asilo por traficantes desalojados do Complexo do Alemão e de Vila Cruzeiro. Alguns acham graça, dizendo que um membro do Comando Vermelho, facção que dominava as favelas recém pacificadas, jamais seria bem recebido em uma comunidade controlada pela Amigos dos Amigos (ADA), grupo que domina o tráfico na Rocinha. No entanto, ninguém aceita ser identificado ao falar sobre isso.

Feijão afirma que o boato de que barricadas estariam sendo construídas na comunidade pode ter começado com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a colocação de canos de esgoto. Seu irmão, Telmo Barros, acrescenta que, após o início dos atos de hostilidade, os operários espalharam tais factóides para poder faltar ao trabalho. "O peão inventa isso para não trabalhar", disse.

As lideranças comunitárias se apressaram em levar o Terra para um passeio pelas principais ruas da favela para comprovar o que diziam. Em mais de 40 minutos de caminhada sob um sol escaldante, foi possível constatar que todas as principais ruas que dão acesso ao alto do morro estão desbloqueadas. "Olha ali, a única coisa que bloqueia a passagem é este monte de Kombi", disse, em tom de brincadeira, o presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), Leonardo Rodrigues.

As obras do PAC seguiam na maior favela da América Latina no primeiro dia útil após a tomada das maiores fortalezas do tráfico carioca. Eletricistas faziam reparos na fiação de uma travessa da avenida das Américas que dá acesso ao morro. Da polícia, no entanto, nem sinal.

Secretário nega união de facções

A união entre traficantes do Comando Vermelho e da Amigo dos Amigos (ADA) foi rechaçada pelo secretário de segurança José Mariano Beltrame. De acordo com ele, a inteligência apurou informações de que as duas facções criminosas estariam negociando um armistício para atuarem juntas contra o Estado. No entanto, o secretário afirmou que a união não foi concluída. Segundo ele, seria "suicídio" para uma das facções.

Segundo Beltrame, há muito ressentimento da ADA em relação ao Comando Vermelho, cujo a base era o Complexo do Alemão. Beltrame se referiu ao assassinato de lideranças da facção que controla a Rocinha por homens do Comando Vermelho em um presídio do Rio. Outro fator que impediria a união é o histórico de tentativas de tomada de território. Segundo Beltrame, se uma facção abrisse uma brecha, assim que possível tentaria absorver a outra, através da morte de seus líderes.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.

Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.

Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.

Fonte: Redação Terra
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