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Polícia

Poucos disparos e muita conversa: é o Alemão invadido

28 nov 2010 - 23h06
(atualizado às 23h14)
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Vagner Magalhães
Direto do Rio de Janeiro

O sobrevoo dos helicópteros da polícia deu início às 8h deste domingo à invasão do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. São dez bairros onde residem cerca de 400 mil moradores. Com poucos tiros, os diálogos entre aqueles que acompanharam e participaram da ocupação ficaram em evidência.

Na entrada da Grota, uma das comunidades que fazem parte do Alemão, quem quis deixar o morro a pé, teve de apresentar documentos e em alguns casos dar longas explicações aos soldados e aos policiais que faziam o controle dos acessos.

Logo pela manhã, um jovem tentou sair de lá. Explicou que era trabalhador, ofereceu o telefone de seu empregador, mostrou diversos documentos pessoais e ainda assim parecia não convencer o policial que o inquiria. Em um dado momento, teve de tirar a camisa e levantar a bermuda. Foi detido. Tinha tatuado no braço duas pequenas letras: F e B. Baixou a cabeça e foi levado. FB é o codnome do chefe do tráfico do Morro do Alemão. Ainda fez a última tentativa, dizendo que eram as iniciais da filha. Em vão.

Outro detido nem tentou argumentar. Em um dos braços, uma tatuagem com o nome do traficante Fernandinho Beira-Mar. Nas costas, logo abaixo do pescoço, a frase "eu cheiro", como se fosse o patrocínio de time de futebol. No antebraço, propaganda da maconha da boca a que pertencia.Enquanto era levado para a triagem, um policial brincou. "Olha esse aqui. É apaixonado pelo Fernandinho Beira-Mar. Agora vai fazer companhia para ele".

Dois homens estão sentados sobre um caixote, algemados com as mãos para trás, cercados por três policiais militares armados com fuzis. Um deles oferece água aos dois. Desconfiados, eles aceitam. Abrem a boca como um passarinho, voltada para cima. Ganham um refresco, enquanto aguardam a identificação. O policial ao lado não perde tempo: "tá vendo como a polícia é legal. Se vocês soubessem tinham se entregado antes, não é não?"

A poucos metros dali, um homem e uma mulher desciam o morro com uma geladeira. Um segurando em cada ponta. A mulher reclamava: "paguei dois homens para fazer isso, mas eles foram presos. Fazer o que..."

Ainda era de manhã, quando dois homens e uma mulher apareceram conduzidos por policiais. Pareciam transtornados pelo uso de crack. Foram identificados e pouco depois liberados. Mais tarde, lá estão os três de novo, desta vez, uns algemados aos outros. Na frente dos policiais e dos fotógrafos, a mulher aproveitou os seus 15 minutos de "fama". Fez caras e bocas para os fotógrafos e anunciou a sua própria chegada. "Olha eu aqui de novo, gente!"

Já era tarde, quando a avenida Itararé, perto da comunicade da Grota, concentrava mais de duas centenas de policiais. Uma música familiar começa baixa e se aproxima. Um carro de som, desses que anunciam as promoções do comércio, chega mais perto e o som fica claro aos ouvidos. Eram os versos do o hino à Independência. "Já podeis à Pátria filhos / Ver contente a Mãe gentil; / Já raiou a liberdade / No Horizonte do Brasil..." Nesse momento a rodinha dos policiais desviou a sua atenção para ouvir o carro passar. Entre sorissos, eles retomaram a conversa, contentes com a "homenagem".

À tarde, os policiais já haviam vistoriado a parte de baixo do morro. Enquanto os fotógrafos colhiam as primeiras imagens, de trilhos de trem bloqueando acessos e da tubulação do esgoto quebrado para impedir a entrada de veículos, os moradores já começavam a circular e algumas biroscas já estavam abertas.

Um "caveirão" fica apertado na pista e atinge parte de um veículo antigo, parado à esquerda. Ouve-se o latido seco de um cão debilitado, que foi atropelado. Ele agoniza e dois policiais caminham a pé, ao lado da cena. Um determina que o outro dispare contra o animal. Um tiro curto de pistola abrevia o sofrimento. Para ele, foi o fim.

Fonte: Redação Terra
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