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Polícia

Presos envolvidos com atos no RJ estão isolados, diz ministro

27 nov 2010 - 16h46
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O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse neste sábado que todos os apenados do sistema prisional federal envolvidos direta ou indiretamente com os atos do Rio de Janeiro entraram no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), para que não haja repasse de informações para o lado de fora dos presídios. Segundo ele, o governo está estudando a possibilidade de aumentar o tempo de enquadramento de presos no regime diferenciado.

O RDD é aplicado em presídios de segurança máxima e mantém o preso em cela individual monitorada por câmera, com banho de sol de duas horas por dia. O apenado não pode assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornais e revistas. Ele recebe a visita de duas pessoas por semana, sem contato físico. Atualmente, o tempo máximo de detenção por este regime é de um ano.

"Um RDD mais prolongado é necessário, principalmente quando um preso tenta organizar o crime de dentro da cadeia. Isso não pode ser permitido de nenhuma maneira. O Estado é mais forte que o crime e tem que agir com rigor para proteger a população", afirmou o ministro.

Em entrevista coletiva à imprensa, em Brasília, Barreto disse que, se for preciso, o governo federal vai disponibilizar mais vagas no sistema prisional federal para a transferência de presos do Rio de Janeiro. O Ministério da Justiça já ofereceu 50 vagas ao Estado, e até agora 10 foram usadas. "Se for preciso um número maior de vagas, o Ministério está absolutamente pronto para oferecer para o Rio de Janeiro", disse o ministro.

Segundo ele, novas transferências de presos podem acontecer a qualquer momento. "Sempre que a área de inteligência do Rio detectar que o melhor caminho é a transferência de uma ou outra pessoa, ela será realizada". Atualmente, há cerca de 300 vagas do sistema prisional disponíveis para ajudar os Estados nos momentos de crise.

O ministro disse que todas as forças policiais estão em alerta para evitar a entrada de armas no Rio de Janeiro. "Estamos mais atentos nas estradas, nos postos de fronteira, para evitar qualquer tipo de coisa, até mesmo uma fuga de pessoas que estão sendo procuradas pela Justiça", afirmou.

Barreto voltou a destacar que tudo o que for necessário para ajudar o Rio de Janeiro será feito pelo governo federal. "Mas isso tem que ser uma avaliação que começa lá no estado, pelos profissionais de segurança de lá. E o governo federal não poupará nenhum esforço para ajudar o Rio de Janeiro neste momento e manter uma política de pacificação, que é o quadro que a população quer", disse.

Desde o início dos ataques, no último domingo, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.

Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.

Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.

Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado

Na quinta-feira, a polícia confirmou que nove pessoas morreram em confronto na favela de Jacaré, zona norte do Rio. Durante o dia, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na maior operação desde o começo dos atentados. Os agentes contaram com o apoio de blindados fornecidos pela Marinha. Quinze pessoas foram presas ao longo do dia e 35 veículos, incendiados.

Durante a noite, 13 presidiários que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Entre eles, Marcinho VP e Elias Maluco, considerados, pelo setor de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança, diretamente ligados aos atos de violência ocorridos nos últimos dias. Também à noite, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização para que 800 homens do Exército sejam enviados para garantir a proteção das áreas ocupadas pelas polícias. Além disso, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que a Polícia Federal vai se integrar às operações.

Na sexta-feira, a força-tarefa que combate a onda de ataques ganhou o reforço de 1,1 mil homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e da Polícia Federal, que auxiliaram no confronto com traficantes no Complexo do Alemão e na vila Cruzeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia permanecerá nas favelas por tempo indeterminado. A troca de tiros entre policias e bandidos no Complexo do Alemão matou o traficante Thiago Ferreira Farias, conhecido como Thiaguinho G3. Uma mulher de 61 anos foi atingida pelo tiroteio na favela e resgatada por um carro blindado da polícia. Foram registrados quatro mortos e dois feridos ao longo do dia. Um fotógrafo da agência Reuters foi baleado no ombro e hospitalizado.

Na parte da noite, o Departamento de Segurança Nacional (Depen) confirmou a transferência de 10 apenados do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Também à noite, a Justiça decretou a prisão de três advogados do traficante Marcinho VP e a Polícia Civil anunciou a prisão de sua mulher por lavagem de dinheiro.

Agência Brasil Agência Brasil
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