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Polícia

Rio tem 'apoio irrestrito' do governo federal, diz Jobim

26 nov 2010 - 15h35
(atualizado às 16h06)
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O ministro da Defesa, Nelson Jobim, declarou nesta sexta-feira que o Rio de Janeiro conta com o "apoio irrestrito" do governo federal na ofensiva das forças de segurança em resposta à onda de ataques na capital fluminense. Em entrevista concedida ao lado de Sérgio Cabral, Jobim cumprimentou o governador pela "coragem da decisão" de pedir o apoio das Forças Armadas.

Ministério da Defesa ampliou atuação das Forças Armadas no Rio
Ministério da Defesa ampliou atuação das Forças Armadas no Rio
Foto: Reinaldo Marques / Terra

"Cabe a mim cumprimentá-lo pela coragem da decisão", disse Jobim a Cabral, acrescentando que tem políticos que preferem "contornar os riscos". "O senhor está contando com o apoio irrestrito do governo federal", afirmou. Na quinta-feira, o ministério da Defesa anunciou o envio de 800 homens do Exército para auxiliar os trabalhos da força-tarefa de segurança no Rio de Janeiro. Também foram enviados dois helicópteros da Força Aérea e 10 blindados de transporte. Outros blindados da Marinha já se encontram no Rio de Janeiro e participaram da tomada da Vila Cruzeiro na tarde de ontem.

Segundo o ministro, caberá ao Exército a função de proteção do perímetro, ou seja, cercar o território da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão. Jobim afirmou ainda que a Força Aérea e a Marinha continuarão prestando apoio logístico, principalmente no transporte de contingente em blindados e aeronaves. Ainda conforme Jobim, os militares que vão participar das operações são experientes - alguns inclusive com atuação no Haiti. "Não são recrutas", afirmou.

Ao lado de Jobim, Cabral agradeceu também a atuação do ministério da Justiça, à Polícia Federal e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Ministério da Defesa vem, nas últimas 72 horas, e mais objetivamente nas últimas 48 horas, dando o apoio fundamental para que a luta, o trabalho de retomada da paz definitiva em nosso Estado ocorra", disse.

Elogiado, o ministro Nelson Jobim afirmou que não há necessidade de agradecimentos sobre o apoio logístico prestado ao Rio, já que o governo federal estava apenas cumprindo obrigações com os Estados.

"O que está em jogo é uma política de segurança pública fundamentada, articulada e que permitirá à nossa população a paz e a tranquilidade tão esperadas", disse Cabral. "Esse é um trabalho de médio e longo prazo. Não há mágica nesse trabalho", afirmou o governador, referindo-se à pacificação de territórios dominados pelo tráfico no Rio de Janeiro. Cabral destacou os investimentos públicos feitos na região do Complexo do Alemão como fator decisivo na diminuição da criminalidade, mas fez uma ressalva: "se não levarmos paz, será uma obra incompleta".

Desde o início da onda de violência, pelo menos 192 pessoas foram presas e 33 foram mortas no Rio e em cidades da Baixada Fluminense.

Operação

Também presente na coletiva, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, deu detalhes sobre a atuação do Exército nas operações de segurança na zona norte do Rio de Janeiro. Segundo ele, os soldados vão se posicionar nos acessos da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão para que os policiais que fazem esta função sejam liberados para outras ações.

Beltrame negou que a atuação conjunta das Forças Armadas e das polícias Federal, Civil e Militar cause confusão nos objetivos propostos para cada um dos destacamentos. "A grande quebra de paradigmas é a definição do que cada um tem que fazer", afirmou.

Segundo o comandante militar do Leste do Exército, general Adriano Pereira Júnior, o perímetro para a atuação dos 800 soldados foi definido pela Secretaria de Segurança Pública. Ainda de acordo com ele, essa área de atuação pode sofrer alterações ou ser ampliada caso seja necessário. "Mais de 60% da tropa tem experiência neste tipo de operação (ocupação)", disse o general.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.

Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.

Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.

Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado

Na quinta-feira, a polícia confirmou que nove pessoas morreram em confronto na favela de Jacaré, zona norte do Rio. Com isso, desde domingo, o número de mortos na onda de violência nas ruas do Rio de Janeiro e nas cidades da região Metropolitana chegou a 32. Durante o dia, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na maior operação desde o começo dos atentados. Os agentes contaram com o apoio de blindados fornecidos pela Marinha. Quinze pessoas foram presas ao longo do dia e 35 veículos, incendiados.

Durante a noite, 13 presidiários que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Entre eles, Marcinho VP e Elias Maluco, considerados, pelo setor de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança, diretamente ligados aos atos de violência ocorridos nos últimos dias. Também à noite, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização para que 800 homens do Exército sejam enviados para garantir a proteção das áreas ocupadas pelas polícias. Além disso, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que a Polícia Federal vai se integrar às operações.

Fonte: Redação Terra
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