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Polícia

RJ: escutas apontam que ordens para ataques continuam a vir de presídios

26 nov 2010 - 03h22
(atualizado às 05h41)
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Apontado como principal mandante dos ataques ao Rio de Janeiro, o traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, teria dado uma nova ordem aos aliados para intensificarem os ataques. A mensagem teria sido interceptada por gravações telefônicas, autorizadas pela Justiça, durante conversas entre três advogados que atuam em processos dos chefões do tráfico de drogas da facção criminosa Comando Vermelho (CV).

O conteúdo dos diálogos foi enviado ao governador Sérgio Cabral; ao presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Zveiter; e à chefia do Ministério Público do Estado. Numa das conversas, duas advogadas, uma em Foz do Iguaçu, no Paraná, e outra em Brasília, falam que Marcinho foi taxativo: "é para piorar os ataques". Terceiro advogado também foi flagrado em outro diálogo servindo como 'pombo-correio' do tráfico.

Quarta-feira, Marcinho VP recebeu na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná, onde estava preso, a visita de um advogado e da mulher dele, que não atua em seus processos, mas também se apresenta como advogada. Na quinta à tarde, o traficante foi transferido com outros 11 chefões do tráfico - entre eles Marco Antônio Pereira Firmino, o My Thor; e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco -, para a penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, a 3,5 mil km do Rio de Janeiro. Há dois meses Marcinho VP e My Thor foram colocados no regime disciplinar diferenciado (RDD), desde que foram apreendidas duas cartas que falam de represálias às Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Nacional (OAB), Ophir Cavalcante, voltou a defender os advogados em relação às suspeitas de transmissão de mensagens de chefes do tráfico de drogas. "Sem provas, isso é leviano", analisou Ophir.

Forças Armadas já atuaram outras vezes

Essa não é a primeira vez que as Forças Armadas atuam no Rio. Em 2007, o exército patrulhou as ruas no entorno das unidades militares após série de ataques. Entre 2007 e 2008, o exército esteve na Providência, no Centro. A ocupação foi marcada pela morte de três moradores inocentes da comunidade entregues pelos militares a traficantes de facção rival. As tropas foram obrigadas a sair pela Justiça.

As Forças Armadas também estiveram nas ruas em 2008 para garantir a segurança das eleições depois de candidatos serem ameaçados pelo tráfico ao irem a favelas. Em 1997, três mil militares ficaram na cidade devido à visita do então Papa João Paulo II.

Em 1992, durante a Eco-92, uma conferência da ONU para o meio ambiente que reuniu representantes de quase todos os países do mundo, as Forças Armadas também atuaram na segurança.Elas fazem parte do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança do Rio de Janeiro.

Mais de 80 policiais civis investigam quadrilha

O chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, montou uma força-tarefa com foco principal as quadrilhas que dominam os complexos do Alemão e da Penha. A região tornou-se o principal esconderijo da facção Comando Vermelho, que tem como principais líderes Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, ambos presos fora do Rio desde janeiro de 2009. Em 2007, o jornalista Tim Lopes foi morto na região enquanto fazia uma reportagem.

Desde o início da semana, cerca de 80 agentes e oito delegados estão reunindo dados sobre o bando, que tem como principais líderes soltos Fabiano Atanásio da Silva, o FB, Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, e Luiz Cláudio Serrat Corrêa. Apesar de terem ameaçado ficar e lutar pelo terreno que dominavam, eles fugiram para o terreno vizinho, o Alemão, controlado por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Lá, agora, está concentrada a maioria dos refugiados das favelas já dominadas pelas UPPs.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.

Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.

Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.

Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado.

O comando do grupo está a cargo do subchefe Operacional, delegado Rodrigo Oliveira. E apesar do acordo descoberto entre o CV e a facção Amigos dos Amigos (ADA), que domina a Favela da Rocinha, uma ação na comunidade de São Conrado só acontecerá se os bandidos de lá entrarem na onda de ataques.

Criminosos atearam fogo em veículo no bairro do Rio Comprido
Criminosos atearam fogo em veículo no bairro do Rio Comprido
Foto: Álvaro Riveros / Jornal do Brasil
Fonte: O Dia
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