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Polícia

Medo altera rotina nas ruas do Rio de Janeiro

25 nov 2010 - 03h16
(atualizado às 19h39)
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A onda de ataques e a sensação de insegurança mudaram completamente a rotina dos moradores da Região Metropolitana do Rio. Escolas públicas e particulares, comércios e postos de saúde foram fechados; trabalhadores, liberados mais cedo; e até ensaios de tradicionais escolas de samba, cancelados.

Nas ruas, o comportamento assustado da população refletia o medo. Em Duque de Caxias, um princípio de arrastão levou pânico ao centro do município no início da tarde. Bandidos em dois carros escuros fizeram disparos na direção do Teatro Raul Cortez, na Praça do Pacificador, e de um supermercado que fica próximo. Aos gritos, os criminosos ordenavam o fechamento das lojas e ameaçavam fazer arrastão. Houve confusão e correria, e o comércio fechou rapidamente.

A polícia foi chamada e, ainda de acordo com as testemunhas, perseguiu os criminosos. Na fuga, houve troca de tiros, mas os bandidos escaparam. Também à tarde, enquanto comboio da Polícia Militar passava pela Avenida Presidente Vargas, alguns pedestres chegaram a correr e a procurar abrigo, já prevendo possível enfrentamento.

"Vivemos criando distanciamento da violência. Quando ela se aproxima, temos reações distintas, mas sempre de defesa. Nos últimos anos, houve crescimento do transtorno de estresse pós-traumático, antes só desenvolvidos em homens que participavam de guerras", explica a médica psiquiatra Tuna Chagas.

A violência refletiu na frequência escolar. Segundo a Secretaria de Educação do Rio, escolas da rede registram muitas faltas. Ao todo, 47 unidades de ensino e 10 creches em áreas de risco não funcionaram, o que prejudicou 17.772 alunos. Na rede estadual, 18 colégios foram fechados, assim como cinco postos de atendimento médico da Secretaria Municipal de Saúde.

A unidade da Universidade Gama Filho, na Piedade, fechou as portas. Escolas particulares da Zona Norte também dispensaram alunos mais cedo. Comerciantes e funcionários administrativos de empresas foram liberados antes do fim do expediente. "Abrimos a loja, mas o movimento caiu mais de 50%. Estamos temendo ações de criminosos por perto", confessou Dilene Tenfone, gerente de loja de roupa na Avenida Brasil.

No meio da tarde, motoqueiros ordenaram que comerciantes de bairros como Méier, Irajá e Vista Alegre fechassem as portas. As escolas de samba Salgueiro, Vila Isabel e Portela, que realizariam ensaios ontem, cancelaram as programações. Os tiroteios na Favela do Jacarezinho fizeram com que os trens do ramal de Belford Roxo circulassem com intervalos irregulares.

Fecomércio: prejuízo de R$ 39 milhões

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio (Fecomércio-RJ) calcula que, se o comércio das localidades atingidas por ataques de criminosos na cidade, até o fim da tarde de ontem, ficasse fechado durante 24 horas, a perda para o setor seria de, aproximadamente, R$ 39 milhões. Esse valor representa 11% do faturamento diário do comércio na cidade. As regiões incluídas no cálculo são Cavalcante, Costa Barros, Del Castilho, Estácio, Flamengo, Irajá, Lagoa, Laranjeiras, Pavuna, Penha, Praça da Bandeira, Recreio dos Bandeirantes, Rio Comprido, Santa Cruz e Vicente Carvalho.

Ainda segundo a Fecomércio, o comércio do Rio de Janeiro gastou aproximadamente R$ 866 milhões em 2009 com segurança, cerca de 2,7% do faturamento do setor em todo o ano passado.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro.

Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso.

Ainda no domingo, em arrastão na Via Dutra, uma quadrilha armada bloqueou um trecho da pista sentido São Paulo, na altura de Pavuna, e roubaram um Kia Cerato e um Prisma. Na ação, uma das vítimas, identificada como Guilherme Feitosa da Silva, 26 anos, foi baleado na cabeça e levado em estado grave para o Hospital Getúlio Vargas.

Na manhã de segunda-feira, cinco bandidos armados atacaram motoristas no Trevo das Margaridas, próximo à avenida Brasil, em Irajá, também na zona norte. Os criminosos roubaram e incendiaram três veículos - uma van de passageiros que fazia o trajeto de Belford Roxo para o Centro, um Monza e um Uno. Também na segunda pela manhã, criminosos armados com fuzis atiraram em uma cabine da PM na rua Monsenhor Félix, em frente ao Cemitério de Irajá. A PM acredita que o incidente tenha sido provocado pelos mesmos bandidos que queimaram os carros no Trevo das Margaridas.

À noite, criminosos atearam fogo em outros dois veículos na rodovia Presidente Dutra, sentido Capital, na altura da Pavuna. Na zona norte, uma cabine da Polícia Militar (PM) foi metralhada próximo ao shopping Nova América, em Del Castilho.

Já na manhã de terça-feira, dois homens foram mortos a tiros em um Honda Civic na rodovia Washington Luís, altura do km 122. A PM diz que não há relação entre este crime e os ataques anteriores. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, atribuiu a escalada de violência à atuação do Estado no combate à criminalidade nas favelas. "Sem dúvidas isso tem relação com a nossa política de segurança pública", afirmou, referindo-se à implantação de unidades de polícia pacificadora (UPPs).

Também na terça-feira, a cúpula da Polícia Militar anunciou a operação "Fecha Quartel", que prevê colocar todos os homens nas ruas para reforçar o patrulhamento. A PM informou que reduzirá as folgas dos policiais gradativamente até o ano que vem, além de prometer a contratação de 7 mil policiais. Para o combate ao crime, a corporação ainda utilizará o Batalhão de Choque e 140 motocicletas.

Ataques de criminosos têm assustado e mudado a rotina dos cariocas
Ataques de criminosos têm assustado e mudado a rotina dos cariocas
Foto: Marcio Mercante / O Dia
Fonte: O Dia
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