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Polícia

Pior é não fazer operações, diz coronel sobre morte de menino

17 jul 2010 - 22h21
(atualizado às 22h46)
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Responsável pela operação nas favelas da Quitanda e Pedreira, na capital fluminense, onde o menino Wesley Guilber de Andrade, 11 anos, morreu atingido por um tiro dentro da sala de aula de uma escola na manhã de sexta-feira, o coronel Fernando Príncipe lamentou a morte, mas defendeu a manutenção das ações policiais. "O Ciep Rubens Gomes (onde aconteceu o fato) é irrelevante. Se não houver Ciep, haverá uma casa, uma fábrica. Mas o pior é não realizar operações", disse.

Wesley Andrade morreu atingido por uma bala perdida na zona norte do Rio
Wesley Andrade morreu atingido por uma bala perdida na zona norte do Rio
Foto: Severino Silva / O Dia

O estudante, que sonhava ser policial militar, morreu depois de ter sido atingido por um tiro de fuzil em uma sala de aula do Ciep Rubens Gomes. Policiais do 9º Batalhão (Rocha Miranda) faziam uma operação nas favelas da Quitanda e da Pedreira, próximas à escola, quando aconteceu o tiroteio. Wesley foi socorrido por duas professores, que decidiram colocá-lo num carro e levá-lo para o Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes. No caminho, em Cascadura, pararam uma ambulância, mas o estudante não resistiu e já chegou morto à unidade.

Afastado do comando do 9º BPM, o coronel afirmou que a operação era necessária. "A ação começou às 8h20, havia 100 homens comandados por um major. Tínhamos como alvos a comunidade de Final Feliz e os morros da Pedreira, Lagartixa e Quitanda. O bandido é inconsequente, faz disparos em qualquer direção. Tivemos que trocar tiros. Não há outro jeito de se fazer operação. Ou é assim ou, então, não faz. A inteligência diz que o bandido ele está lá dentro (da favela). Temos que ir lá. O que a polícia deve fazer? Não fazer nada é prevaricação", disse.

Sobre a morte do menino, o comandante exonerado disse lamentar, porém se isentou da culpa. "Eu lamento muito, claro. Mas não fui responsável por ela, meus policiais também não. Com a minha exoneração, o comando mostra que não assume a responsabilidade de seus comandados. Não foi a primeira vez que um estudante foi atingido naquele Ciep, e o poder público nunca providenciou a blindagem do prédio. Abomino a morte de inocentes, mas isso, eventualmente, vai acontecer."

Enterro

Wesley foi enterrado na manhã de hoje, no cemitério de Irajá. No sepultamento, acompanhado por 70 pessoas, amigos da vítima e professores lembraram a tragédia. A professora do menino, Mariza Helena, foi a primeira a prestar socorro. "Quando ouvimos os primeiros tiros, saímos da sala e nos posicionamos no corredor. Ali era um lugar que considerávamos mais seguro. Mas o tiroteio parou e voltamos para a sala de aula. De repente, ouvimos novos disparos. As crianças começaram a correr para fora, mas uma bala entrou na sala".

Mariza disse que, depois de ser atingido, Wesley ainda correu até o corredor. "Ele caiu no chão do corredor e começou a sangrar. Os coleguinhas gritavam pedindo que não deixasse ele morrer. Tenho 40 anos de magistério, 17 só nesta escola. Mas, depois disso, não sei se conseguirei voltar para a sala de aula", afirmou.

Diretora da unidade, Rejane Faria passou mal no velório. "Tudo foi embora, todo o nosso trabalho", afirmou. Na segunda-feira, as aulas no Ciep Rubens Gomes estão suspensas. Psicólogos e assistentes sociais da Secretaria Municipal de Educação se reunirão com professores e alunos, que vão vestidos de branco em um pedido por paz.

Pai de Wesley, o comerciante Ricardo Freire cobrou a presença de autoridades do Estado na despedida do filho. "Eles não se preocuparam porque os filhos deles andam de carros blindados e passam longe das áreas de risco", disse. O governo estadual arcou com o custo do enterro.

Desculpas

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, utilizou a rede de microblogs Twitter neste sábado para pedir desculpas à família de Wesley. "Sou pai de cinco filhos e me coloco no lugar dessa mãe e desse pai. Minha mensagem é de pêsames e total solidariedade", publicou. Cabral disse também que a estratégia empregada na ação policial estava errada. "A melhor maneira de homenagear o Wesley é continuar a luta pela pacificação. Não abrimos mão disso", afirmou.

Fonte: O Dia
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