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Polícia

Polícia investiga remessa de R$ 60 mil feita por Adriano

1 jun 2010 - 07h57
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O atacante Adriano é investigado por ter sacado cerca de R$ 60 mil, no fim do ano passado, e entregue a um integrante da quadrilha liderada por Fabiano Atanásio da Silva, o FB, da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. O inquérito 6.284/2009 da 38ª DP (Brás de Pina) apura as supostas relações do ex-jogador do Flamengo com traficantes que dominam o Complexo da Penha. Adriano havia sido intimado para depor na delegacia na segunda-feira, mas não se apresentou.

"No momento, ele está depondo na condição de testemunha. Não posso revelar mais detalhes da investigação, mas eu acho conveniente ele se apresentar, até para mostrar que não tem envolvimento com essas pessoas citadas. O nome dele (Adriano) é citado (na investigação) e tem envolvimento com o nome do Fabiano, sim", disse o delegado Luiz Alberto Andrade, titular da 38ª DP.

Um dos advogados do atacante, Adílson Fernandes, esteve na delegacia e alegou que a ausência se deveu a problema pessoal, mas não disse qual. Ele tentou negociar para que o Imperador fosse ouvido só daqui a 15 dias. Depois, ficou acertado que o depoimento deverá ser nesta terça-feira. Ontem, dezenas de curiosos aguardaram a chegada de Adriano na entrada da delegacia.

"A defesa não teve acesso aos autos", disse o advogado, após ser informado de que o inquérito está em segredo de Justiça. Gilmar Rinaldi, empresário de Adriano, disse que o craque ficou abalado com o novo episódio envolvendo seu nome com traficantes e desabafou dizendo que "o melhor mesmo é ele ir embora do Brasil, porque aqui há muitas pessoas ruins querendo prejudicá-lo".

Tentativa de extorsão

Gilmar contou que o atacante sofre tentativas de extorsão há três anos por causa das fotos em que ele aparece com um fuzil que seria de brinquedo e exibindo as siglas CV com as mãos. Segundo ele, o caso foi denunciado à Polícia Federal (PF) em 6 de junho de 2007 e segue em segredo de Justiça. Dias antes de procurar a polícia, segundo o empresário, Adriano teria recebido uma intimação para depor na própria PF em inquérito sobre a relação do atleta com traficantes. A assinatura do então superintendente da PF, delegado Jacinto Caetano, porém, era falsificada. Ainda segundo Gilmar, antes desse episódio, Adriano e sua mãe, dona Rosilda, teriam sofrido outras tentativas de extorsão.

Na 22ª DP (Penha), o jogador já é investigado por ter comprado uma moto de R$ 35 mil, que acabou emplacada em nome da mãe de outro chefe do tráfico da Penha, Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica. Em abril, um advogado chegou a impetrar um pedido de habeas-corpus em favor de Adriano, que foi negado pelo juiz da 36ª Vara Criminal.

Repercussão

A nova polêmica envolvendo o Imperador mobilizou a mídia italiana. Os sites dos jornais Corriere dello Sport e La Gazzetta dello Sport reproduziram a primeira página do jornal O Dia. Já os dirigentes da Roma, clube que está para fechar um contrato de três anos com o ex-jogador do Flamengo, se calaram sobre o assunto.

A reportagem da La Gazzetta foi a mais extensa. O jornal relata que Adriano não teria comparecido à 38ª DP porque havia uma multidão à sua espera. Segundo o diário, seu advogado teria feito acordo para que o craque só prestasse depoimento ao voltar da Itália (ele embarca domingo), o que foi desmentido pela polícia.

Com o subtítulo "Festa narco", o jornal explica o que significam o gesto de Adriano mostrando "CV" com as mãos. Em outro trecho da reportagem, há as explicações de Gilmar Rinaldi sobre as fotos polêmicas, afirmando que tudo foi uma brincadeira.

Apologia ao crime

O delegado Marcus Vinícius Braga, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), vai instaurar inquérito para apurar o crime de apologia ao tráfico cometido por Adriano nas fotos em que ele mostra com as mãos as letras C e V, alusão à sigla do Comando Vermelho. Segundo o delegado, o fato de ele posar com réplicas de armas também é grave. "Mesmo sendo de brinquedo, quer dizer que ele faz apologia reiterada. Vamos apurar os crimes, inclusive se essas armas, de fato, não são de verdade. Ele terá que se apresentar à delegacia", disse.

Gilmar Rinaldi disse que o gesto não passou de brincadeira e significa Vila Cruzeiro, favela onde o atleta foi criado. Para o criminalista Antônio Gonçalves, da OAB-SP, o sinal "incita a violência e fomenta o crime organizado".

"Não está fazendo VC, mas CV, e não tem espelho na frente para falar que saiu invertido. Uma pessoa pública não pode ser expor dessa forma. O Adriano entra em campo cercado de crianças que o admiram e que querem ser e fazer o que ele faz", afirmou.

Já o advogado Luiz Flávio Gomes acredita que o gesto não é crime, mas é eticamente discutível. "Só seria apologia se ele estivesse falando e enaltecendo o crime", disse.

Abajur italiano

Em 16 de abril, após ter acesso às fotos que mostram Adriano e um amigo posando de atiradores, o jornal O Dia mostrou as imagens a Thássilo Soares, assessor de imprensa do craque. Ele explicou que as fotografias haviam sido tiradas durante uma festa na casa do jogador na Itália e que uma das armas é de brinquedo e a outra, parte de um abajur italiano. Na semana passada, as fotografias chegaram à polícia, que decidiu investigá-las, o que levou à decisão de publicá-las.

Segundo Gilmar Rinaldi, na foto, Adriano segura uma BB gun, fuzil de brinquedo que tem bolas brancas como munição. Já a peça dourada, que aparece com o amigo do craque, é a base de um abajur criado pelo designer Philippe Starck, com o formato do fuzil AK-47. Inspirado numa foto do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein com um fuzil dourado, o ornamento teria sido comprado por cerca de 1,3 mil euros (R$ 3 mil).

O empresário contou que na festa que reuniu um primo e dois amigos do craque, o abajur foi quebrado para que pudessem ser feitas as fotos imitando um fuzil. "Foi uma brincadeira impensada, mas uma brincadeira. Eles não pensaram nas consequências", disse.

Fonte: O Dia
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