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Mundo

Lula sobre acordo com Irã: fizemos o que os EUA queriam fazer

19 mai 2010 - 10h51
(atualizado às 11h31)
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Lúcia Müzell
Direto de Madri

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumentou, para uma plateia de empresários e personalidades espanholas nesta quarta-feira, em Madri, que o acordo obtido por ele e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad previa "exatamente" o que os Estados Unidos desejavam há seis meses, em uma proposta que foi inclusive explicitada ao Brasil em carta enviada pela Casa Branca em abril.

Os presidentes Lula e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, comemoram, com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o acordo nuclear que estabelece troca de urânio entre Irã e Turquia
Os presidentes Lula e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, comemoram, com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o acordo nuclear que estabelece troca de urânio entre Irã e Turquia
Foto: AFP

"Vocês sabem bem que nós fizemos exatamente o que os Estados Unidos queriam fazer há cinco ou seis meses atrás. Qual era o grande problema do Irã? Era que ninguém conseguia fazer o Irã sentar à mesa para conversar", disse, completando que Ahmadinejad concordou em negociar com ele e o primeiro-ministro turco.

O presidente brasileiro chamou os países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) para dialogar com o Irã e insinuou que as seis nações não estão querendo negociar, apenas aplicar sanções. Foi a primeira manifestação pública de Lula desde que os Estados Unidos mobilizaram os países do Grupo 5+1 para aprovar uma nova resolução da ONU, prevendo punições comerciais e econômicas ao país do Oriente Médio.

"Agora depende do Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar, porque se sentar sem querer negociar, vai voltar tudo à estaca zero", afirmou o presidente.

Lula defendeu o direito de o Brasil continuar atuando como mediador na questão iraniana, mesmo que não tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Conforme análise de Lula, nem o Brasil nem a Turquia possuem poder para negociar o acordo nuclear em si, mas podem viabilizar as discussões que os países do Grupo 5+1 não parecem, no seu entender, dispostos a realizar.

"A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que ele deveria assumir um compromisso com a gente, deveria negociar e deveria depositar seu urânio na Turquia. Tudo isso foi concordado".

O presidente aproveitou para criticar a ONU, que representaria um mundo político da geração pós-guerra, e não o de 2010. "Não concordamos com a atual governança global", reclamou o petista, que durante o discurso de 45 minutos abordou o tema em pelo menos três ocasiões. "É preciso mais atores, mais negociadores e mais disposição política. E acho que o mundo caminha para isso: uma nova governança global, com a ONU bem fortalecida". Para ele, também os conflitos no Oriente Médio, como o israelo-palestino, não vão encontrar uma solução enquanto os negociadores forem sempre os mesmos.

O presidente ainda advertiu para o risco de as divergências internacionais se acentuarem a longo prazo. "Se a ONU continuar assim, nós vamos ter problemas sérios envolvendo a sua diplomacia".

Fonte: Especial para Terra
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