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Polícia

Rio: testemunhas descrevem agressões sofridas por menina

5 mai 2010 - 03h48
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Uma voluntária do Conselho Tutelar que faz parte da denúncia apresentada pelo Ministério Público Estadual contra a procuradora aposentada Vera Lúcia Gomes, 66 anos, afirmou que a procuradora faz parte de uma "religião satânica" e teria adotado a criança que agrediu para sacrificá-la. 'Creio ser este o motivo da adoção: o sacrifício da criança', disse a voluntária. Vera Lúcia é acusada de agredir uma criança de 2 anos que tinha adotado e foi indciada por tortura pela promotoria, além de ter pedida sua prisão preventiva.

Conforme o depoimento da voluntária, as sessões de tortura física e psicológica sofridas por T. estão ligadas a uma seita. Ela conta que a procuradora tinha muitos 'vodus' e bonecos com rostos desfigurados. "Na mesa, havia cartas e um punhal que, neste ritual, significa sacrifício, morte". E continua: "Creio que T. foi escolhida para ser oferecida em sacrifício. A intenção da senhora Vera era de matar a criança, rituais eram feitos na casa, como banhos de canjica".

A denúncia ressalta ainda que T. não é a primeira criança vítima das agressões de Vera. Segundo o MP, ela obteve de forma irregular a guarda de outro menor deixado sob seus cuidados pelos pais biológicos. Ao saber dos maus-tratos, o casal teria pego o filho de volta.

O documento, assinado por cinco promotores, foi baseado em depoimentos de ex-empregados da procuradora, além da conselheira tutelar. Todos testemunharam as agressões contra T.. Os promotores Homero das Neves Freitas Filho, Márcio José Nobre de Almeida, Marisa Paiva, Claudia Canto Condack e Alexandre Murilo Graça afirmam que, de 17 de março a 14 de abril, período em que T. morou na casa da então mãe adotiva, "a procuradora, consciente e voluntariamente, submeteu a criança a intenso sofrimento físico e mental, agredindo-lhe de forma reiterada, para aplicar-lhe castigo pessoal".

Há poucos dias, antes da denúncia, a procuradora chegou a ir à casa de um dos promotores do caso, que impediu sua entrada. O MP afirma que T. foi alvo diário de violência desde que chegou à casa de Vera. "Seu estado de choque é tão avançado que inviabilizou qualquer aproximação e estudo psicológico", relatou ontem ao Ministério Público o psicólogo Gilberto Fernandes, da Polícia Civil.

Acompanhada de uma psicóloga da Vara de Infância, Juventude e Idoso e de duas funcionárias da instituição para menores onde está abrigada, T. foi levada ontem à Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav) para iniciar a avaliação psicológica. O objetivo é saber, por meio das reações emocionais emitidas pela menina durante as entrevistas, o quanto as agressões sofridas a comprometeram.

"Ela me evitou completamente, chorava muito, ficou de costas e não deu condição de estabelecer contato. É preciso respeitar os limites dela. A única coisa que aceitou foi uma escova de cabelos", contou Gilberto, que só conseguiu ficar 15 minutos com a criança.

Apesar dos brinquedos espalhados pela sala de avaliação, T. não aceitou nem entrar no cômodo. Gilberto ainda não sabe se vai chamar a criança para outra avaliação. Ele cogita a possibilidade de ouvi-la no próprio abrigo, único ambiente familiar da menina, onde ela mora desde os seis meses de vida. De lá, só saiu para ir viver com a procuradora.

A denúncia do Ministério Público, que traz depoimentos de ex-empregados de Vera Lúcia, pede a prisão da procuradora para "garantir a ordem pública e acautelar a credibilidade da Justiça, em face da gravidade do crime". Leia alguns trechos.

Luzia de Almeida relata frequentes tapas no rosto, puxões de cabelo e empurrões desferidos por Vera Lúcia em T.. "Numa sexta-feira, ela estava mais agressiva e mandou T. tomar copo de achocolatado. Como a criança não conseguiu, Vera Lúcia a obrigou a beber três copos, tapando o nariz da criança e jogando a bebida pela boca. A menina engasgava e vomitava. Vera a forçava a beber mais. A criança acabou chorando, toda suja, e foi apanhando na cara até o banheiro", disse em depoimento.

Sidilania de Lacerda Borges da Silva detalhou quando a menina apanhou após ir a um shopping com Vera. "Ela perguntou, aos gritos, por que ela estava tão feliz e dava tapas que a fizeram cair no chão", lembra. "Logo em seguida, ela arrastou T. pelo cabelo até o quarto, onde deu mais socos. A criança agarrou uma boneca de pano e ficou tremendo num canto", declarou. Dias depois, outra surra. "Ela derrubou a menina da cadeira e gritou para mim: 'Você está vendo? Ela se comportou no shopping e hoje já apronta! Essa garota é um demônio!!!'", acrescentou. Sidilania conta ter visto T. com sangue na boca após esta surra.

Luzia e Maria Isabel Lima de Castilho revelam ainda os insultos de Vera Lúcia à menina: "Sua filha da p...! Você não vale nada, sua vaca, cachorra! Você é igual à sua mãe! Sua piranha! Antes meus bichos do que você, mil vezes meus bichos do que você!!!".

Cláudio Pereira Morgado é outro ex-funcionário que, em depoimento, garantiu ter visto surras diárias. "Eu presenciei agressões em todos os cafés da manhã e almoços em que estive na casa".

Fonte: O Dia
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