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Moradora: prefeitura incentivou construções no Morro do Bumba

10 abr 2010 - 15h28
(atualizado às 16h07)
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Mariana Canedo
Direto do Rio de Janeiro

Recém chegada de Natal, para onde foi transferida há alguns meses, a comerciante Rose Monteiro, 37 anos, parecia não acreditar no que restou de sua casa, uma das que sofreu menos danos após o deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói (RJ), na madrugada de terça para quarta. Moradora do terreno de número 853 da estrada Viçoso Jardim desde que nasceu, ela afirma que "a prefeitura foi permissiva e não só não removeu quem construía irregularmente no morro, como em época de eleição distribuía material de construção para as pessoas".

Pessoas choram após ver o corpo de parente encontrado debaixo de escombros, no Morro dos Prazeres
Pessoas choram após ver o corpo de parente encontrado debaixo de escombros, no Morro dos Prazeres
Foto: AP

Rose disse que sua família morava no local há mais de 40 anos e que no seu terreno haviam quatro casas, a dela, a dos pais e outras dos irmãos. Rose acredita em generalização quando se fala da tragédia, já que, na sua opinião, "estão fazendo parecer que só afetou quem morava irregularmente, dá a impressão de que só tinha barraco aqui". "As casas de quem morava na parte baixa eram casas boas. Todo mundo tinha telefone, computador e documentos de registro de residência", afirmou.

Dividida entre o alívio por não ter perdido nenhum parente em função do deslizamento e a dor de perder a casa que suou para construir, Rose desabafou. "Diante de circunstâncias tão terríveis, fui uma felizarda. Da minha família, só o meu pai se machucou um pouco. Minha irmã disse que teve a sensação de que estava afundando tudo. É muito triste saber que em apenas um minuto perdi algo que minha família levou a vida inteira para construir", disse, com os olhos marejados.

Informações previamente divulgadas pela prefeitura de Niterói dão conta de que a cidade apresentou um acentuado crescimento no número de favelas, com o surgimento de 30 novas comunidades entre 2004 e 2008. O prefeito da cidade, Jorge Roberto Silveira, do PDT esteve à frente da administração de Niterói em três gestões. De 1989 a 1993, depois assumiu a prefeitura 1997 a 2001 e de 2001 a 2002, quando deixou o cargo para concorrer ao governo estadual. Na ocasião, quem assumiu a prefeitura foi Godofredo Pinto, seu vice na época, e que continuou na prefeitura de 2005 a 2008. Jorge Roberto assumiu novamente a prefeitura no início deste ano.

Reportagem publicada no jornal O Globo deste sábado apresenta um relatório de um psicólogo do Tribunal de Justiça do Rio com suas impressões da casa onde morava um adolescente em processo de adoção identificado apenas como David. Segundo a reportagem, após a mãe de David falecer, quando ele tinha apenas sete anos, o menino continuou morando com o padrasto, que se casou novamente e teve outros filhos.

No relatório, reproduzido pelo veículo impresso, está escrito: "Parece que todos os terrenos da região são de posse. O Poder público faz "vistas grossas", permite a invasão e se isenta de todo compromisso com melhorias e com as vidas das pessoas tendo em vista que nas últimas chuvas pessoas já morreram nas imediações vítimas de desabamento. A casa dos requerentes, por exemplo, fica colada num elevado de terra com rachaduras que dá a impressão que vai desabar na próxima chuva." Segundo a matéria, o relatório foi escrito pelo psicólogo no dia 29 de janeiro deste ano.

Procurado pela reportagem do Terra para dar sua versão dos fatos, o prefeito Jorge Roberto Silveira não se manifestou.

A chuva que castiga o Rio de Janeiro desde segunda-feira deixou pelo menos 216 mortos e 161 feridos, alagou ruas, causou deslizamentos e destruição no Estado. Segundo o Instituto de Geotécnica do Município do Rio (Geo-Rio), desde o início do mês foi registrado índice pluviométrico entre 200 mm e 400 mm (dependendo da localidade). É o maior índice de chuvas na cidade desde que começou a medição, há mais de 40 anos. A média prevista pro mês de abril é de 91mm.

Fonte: Redação Terra
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