PUBLICIDADE

Polícia

Madrasta contraria Nardoni e diz que ele passou pela janela

25 mar 2010 - 19h58
(atualizado às 23h25)
Compartilhar
Hermano Freitas e Celso Bandarra
Direto de São Paulo

Enquanto era interrogada nesta quinta-feira, quarto dia de julgamento do caso Isabella, no Fórum de Santana, na zona norte da capital paulista, a ré Anna Carolina Jatobá contrariou o depoimento de Alexandre Nardoni sobre o buraco na rede da janela do edifício London. Ela disse o marido passou a cabeça pela abertura. Anteriormente, o réu havia dito que não havia passado sua cabeça porque o buraco era "muito pequeno".

Nardoni diz que pai vem sendo ameaçado por policiais:

"Assim que entramos no quarto, eu vi a janela aberta e uma gota de sangue bem próxima à cama do Pietro (filho do casal). O meu marido foi até a janela, colocou a cabeça para fora, virou-se para mim já branco e disse: 'Carol, a Isabella está lá embaixo'", disse Anna.

Antes, em depoimento de mais de cinco horas, Nardoni disse que ficou de joelhos na cama e encostou o rosto na tela. "Não dava para passar a cabeça", disse Alexandre. O promotor Francisco Cembranelli questionou se a cabeça dele tinha meio metro. O advogado de defesa, Roberto Podval, interveio e o juiz Maurício Fossen disse que não ia permitir xingamentos no tribunal.

Ao longo do depoimento, Anna caiu em contradição por uma segunda vez ao ser questionada sobre os primeiros passos do casal após verem o corpo de Isabella no pátio do jardim. Inicialmente, ela havia dito que a menina já havia sido socorrida enquanto dialogava com Alexandre e um policial.

Porém, ao ser questionada sobre o que havia respondido quando Alexandre pediu para ela subir e verificar se não tinham roubado nada, ela teria respondido ao marido: "Eu não vou coisa nenhuma porque a Isabella está precisando de socorro". Percebendo que caiu em contradição, Anna disse que havia se enganado. "O corpinho dela ainda estava na grama", afirmou.

O interrogatório de Anna começou às 16h35, menos de 10 minutos após o de Alexandre. Por diversas vezes, o juiz Maurício Fossen pediu para a ré falar mais devegar. Às 18h25, o magistrado encerrou seu questionamento, e o promotor Francisco Cembranelli passou a interrogar a ré.

Na primeira pergunta, a madrasta já chorou e negou o crime. "A senhora está ciente do crime?", questionou o juiz Maurício Fossen, antes de ver a mulher de Nardoni cair em lágrimas e dizer que a acusação era "totalmente falsa". Ela ainda afirmou que, durante a investigação, um policial a puxou forte pelo braço para "levá-la a uma diligência".

De volta ao apartamento, os policiais teriam passado a pressioná-la para que entregasse o companheiro. "Ele tem curso superior e fica em cela especial, você não. Você é uma filhinha de papai, tem noção de como é uma cadeia?", teriam dito os policiais.

"Não recordo"

Além de acusar os policiais, a madrasta repetiu outro comportamento de Alexandre: alegar que não recordava de muitas situações questionadas pelo juiz. Ela ainda afirmou que sua relação com Isabella "era muito boa". "Eu cuidava dela", disse, após chorar novamente.

Ao ser questionada sobre seu relacionamento com Alexandre, a madrasta admitiu que exitiam brigas. "Antes de ter o Pietro (filho do casal), nós brigávamos muito. Depois de meu filho nascer, eu amadureci." Juiz perguntou se havia algum motivo em especial. Ela respondeu que não.

"Aumentei as agressões"

Ao longo do interrogatório, o promotor relembrou depoimento anteriores de Anna Jatobá em que dizia que era agredida pelo pai. Ela respondeu afirmando que "inventou muitas coisas sobre seu pai". "Foi só uma vez que ele me agrediu, e eu fui dar queixa dele na delegacia da mulher. Fiz corpo de delito, mas não tinha marca nenhuma no meu corpo", disse. A madrasta disse que os desentendimentos com o pai foram resolvidos quando voltaram a conversar.

Alexandre Nardoni acompanhava o depoimento da mulher, ao contrário do que aconteceu na sua vez de falar. De acordo com a denúncia do Ministério Público, a madrasta teria agredido Isabella ainda no carro e a asfixiado dentro do apartamento, antes do marido a atirar pela janela.

Às 18h desta quinta-feira, o advogado do casal, Roberto Podval, desistiu de pedir a acareação entre Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá e a mãe da menina, Ana Carolina de Oliveira, isolada no fórum desde a segunda-feira. Ao deixar o fórum na quarta-feira, o promotor Francisco Cembranelli havia classificado um eventual enfrentamento como "desespero da defesa".

Depoimento de Alexandre

A sessão do júri recomeçou nesta quinta-feira novamente com mais de uma hora de atraso, com o interrogatório de Alexandre Nardoni. Um bate-boca e um choro posto em xeque pelo promotor Francisco Cembranelli foram os momentos mais marcantes do depoimento do pai de Isabella. Durante a oitiva, ele fez acusações contra a Polícia Civil. No entanto, na maior parte das perguntas, afirmou apenas que não se recordava dos fatos.

Nardoni chorou durante o interrogatório ao falar da morte da filha e quando encontrou a mãe dele no plenário. Ela se levantou com a outra filha, Christiane, foi até a frente com um terço na mão, bateu no peito e disse "meu filho". Os três choraram. As duas voltaram aos seus lugares e Christiane fez uma oração com a mão levantada ao céu.

A manifestação de emoção não convenceu o promotor responsável pelo caso Isabella, Francisco Cembranelli. Ele perguntou se havia algum problema com os olhos de Nardoni, que impediam que saíssem lágrimas quando ele chorava. A pergunta foi indeferida pelo juiz Maurício Fossen.

Alexandre ainda disse que o delegado titular do 9º Distrito Policial de São Paulo, Calixto Calil Filho, propôs, durante a fase do inquérito, que ele assinasse uma declaração de homicídio culposo (sem intenção de matar) pela morte da filha. Segundo Nardoni, isso seria parte de um acordo para que Anna Carolina Jatobá fosse dispensada pela polícia. Ele disse ter se recusado assinar, afirmando que é inocente.

O caso

Isabella tinha 5 anos quando foi encontrada ferida no jardim do prédio onde moravam o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, na zona norte de São Paulo, em 29 de março de 2008. Segundo a polícia, ela foi agredida, asfixiada, jogada do sexto andar do edifício e morreu após socorro médico. O pai e a madrasta foram os únicos indiciados, mas sempre negaram as acusações e alegam que o crime foi cometido por uma terceira pessoa que invadiu o apartamento.

O júri popular do casal começou em 22 de março e deve durar cinco dias. Pelo crime de homicídio, a pena é de no mínimo 12 anos de prisão, mas a sentença pode passar dos 20 anos com as qualificadoras de homicídio por meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e tentativa de encobrir um crime com outro. Por ter cometido o homicídio contra a própria filha, Alexandre Nardoni pode ter pena superior à de Anna Carolina, caso os dois sejam condenados.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade