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Oriente Médio

Política de 'embaixador do mundo' de Lula é criticada

13 mar 2010 - 22h37
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Laryssa Borges
Direto de Brasília

Que há de comum entre Irã, Cuba, Honduras e a Venezuela? Resposta: são países onde há controvérsias envolvendo direitos humanos ou liberdades políticas e de pensamento e em todas as polêmicas envolvendo estes países o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma posição nem sempre elogiada.

O próximo alvo da retórica lulista é o Oriente Médio, há anos palco de conflitos. O presidente Lula, que embarcou neste sábado para o Oriente Médio, tem como foco de sua agenda a tentativa de intermediar o processo de paz entre árabes e israelenses. Estão previstos encontros com o presidente do Estado de Israel, Shimon Peres, com a líder oposicionista israelense, Tzipi Livni, além de reunião reservada com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.

Porém, alguns especialistas criticam a pretensão pacifista do presidente, chamada de "ilusão" e "travestismo político", entre outros adjetivos.

O Brasil quer uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), instância responsável por dirimir potenciais conflitos. Para aumentar o prestígio do País como candidato a essa vaga, Lula tem se valido de seu prestígio mundial, além da máxima de haver um convívio harmônico entre os povos em território brasileiro, como credenciais para se manifestar sobre a condução das negociações de paz entre Israel e os territórios palestinos ocupados.

Aviso aos mediadores

O diretor político da chancelaria de Israel, Rafael Barak, já enviou recados de que aqueles que forem à região é que devem chegar a um acordo. Além disso, o próprio Lula admitiu, em entrevista à imprensa árabe e israelense, que "necessariamente o Brasil não precisa estar na negociação".

Mesmo assim, a viagem, a primeira de um governante do Brasil a Israel e à Palestina, é tratada na Presidência da República como uma oportunidade, principalmente por ocorrer no momento em que "o Brasil se aproxima crescentemente dos países do Oriente Médio e atua na busca de solução para o conflito israelo-palestino", segundo o porta-voz da República, Marcelo Baumbach.

A participação do Brasil no impasse entre árabes e judeus não é vista por Barak como uma intromissão brasileira no conflito, embora ele destaque que o "esforço (pela paz) deve ser concluído pelas partes". A dubiedade da posição do Brasil diante de problemas vividos por outras nações, no entanto, tem sido condenada por jornalistas e analistas de relações internacionais.

À imprensa do Oriente Médio, Lula disse que teria alguns "ensinamentos" a oferecer a quem vive no conflito entre judeus e palestinos e indicou, quando questionado sobre uma possível mediação em favor de soldados prisioneiros do Hamas, que faria "tudo o que puder fazer que possa construir sinais de paz". Já no que diz respeito à situação de presos políticos cubanos, em contrapartida, o presidente brasileiro tem sido criticado por supostamente se negar a interceder em favor de opositores do regime político em Cuba.

Marketing

Para o cientista político Paulo Kramer, há um paradoxo das atitudes de Lula na política externa. Isso se reflete, entre outros episódios, na disposição do Brasil de articular uma eventual solução de paz no Oriente Médio ao mesmo tempo em que se alia e busca defender um programa nuclear considerado duvidoso e desenvolvido pelo governo do Irã.

"Essa pretensão de projetar o Brasil internacionalmente está auto-condenada ao fracasso porque o governo Lula tem uma política externa digna de política estudantil", diz o analista, para quem setores do governo pressionam na direção de políticas anti-americanistas, como no caso do Irã e no de não deixar os Estados Unidos como mediadores preferenciais no caso de Israel. "Esse tipo de atitude não leva a absolutamente nada", afirma.

"O presidente Lula faz uma aproximação com o Irã, que é um pária da comunidade internacional, tanto quanto Cuba. Agora só falta ele abraçar o ditador da Coreia do Norte. O governo Lula tem uma 'política externa do B', que cumpre princípios ideológicos muito precisos. E o presidente (como mediador de conflitos) é visto em regiões da Europa como uma figura folclórica, pitoresca, que preenche o ideal de pureza, (...) o que é uma ilusão", avalia.

Plástica política

Colaborador do blog dissidente "Desde La Habana", o jornalista cubano Iván García endossa as duras críticas ao presidente Lula, classificando-o como "um produto resultado da cirurgia política, um fruto do marketing, um craque da nigromancia (forma de adivinhação com consulta a demônios) e do travestismo político".

Se nos fóruns internacionais e em conversas com o presidente dos EUA, Barack Obama, Lula mostra-se um político hábil na discussão de assuntos ditos globais, pondera o jornalista, ele também é capaz de se fazer de "surdo" em questões como a dos direitos humanos em Cuba, invocando o princípio da não-interferência e da soberania do governo comandado por Raúl Castro.

O analista em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato, por sua vez, vê "prioridades esquisitas" na política externa brasileira, incluindo a disposição do governo brasileiro de atuar como mediador no conflito do Oriente Médio. "Ao invés de olharmos se o Brasil tem importância em um lugar ou outro, temos que fazer uma lista de prioridades. A dose de pragmatismo foi uma nota marcante na diplomacia brasileira, mas por alguma razão não está se dando valor a esse pragmatismo. O Brasil tem pouca capacidade de influência no processo de paz no Oriente Médio", afirma Sato.

Credenciais do Brasil

Independentemente das contestações, em especial sobre a participação do Brasil no impasse israelo-palestino, o porta-voz da Presidência acha que uma solução para o conflito é possível. Claro, com uma forcinha nossa. "O Brasil tenta contribuir e continuará tentando contribuir para a busca de uma solução para o conflito e para que as negociações a respeito desse assunto prossigam da melhor maneira possível. O presidente acha que o Brasil tem credenciais para participar dessa busca de uma solução e vai sempre procurar aproximar as partes e fomentar o diálogo".

Fonte: Redação Terra
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