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Política

Dilma ainda precisa sair da sombra de Lula, dizem analistas

19 fev 2010 - 18h06
(atualizado às 18h38)
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O Carnaval é sempre um palanque disputado pelos políticos que têm pretensões eleitorais e Dilma Rousseff, que disputará o principal cargo do país este ano, festejou ao lado da pop star Madonna e sambando com um gari. Foi um dos poucos eventos públicos no qual a ministra-chefe da Casa Civil, geralmente de aparência séria, mostrou uma face mais humana e apareceu sem o seu mentor e padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Amparada por uma economia forte e pela popularidade de Lula, Dilma diminuiu a distância mantida nas pesquisas de opinião pelo líder o governador do Estado de São Paulo, José Serra, do oposicionista PSDB. Analistas argumentam, no entanto, que a corrida ainda tem de começar de fato e Dilma, cuja candidatura será lançada pelo PT no sábado, ainda precisa sair da grande sombra de Lula para consolidar uma imagem própria e definir suas políticas a fim de vencer a eleição de outubro.

"Ela ainda tem de se apresentar ao eleitorado brasileiro", disse Christopher Garman, analista para América Latina da consultoria Eurasia Group, de Nova York. "E ela ainda precisa aprender a fazer isso de forma convincente."

O primeiro desafio dela será convencer os militantes do PT de que é tão boa quanto Lula diz. O presidente praticamente impôs a candidatura de Dilma, ao qual ela se filiou apenas em 2001.

Procuradora de Lula?

Nos últimos meses, Lula acompanhou sua protegida em todos os passos, desde inaugurações e aparições na TV a reuniões ministeriais a portas fechadas. Como resultado, o reconhecimento do nome dela nas pesquisas de opinião melhorou, mas muitos brasileiros ainda a vêm como uma procuradora de Lula, e não como uma candidata por mérito próprio, afirmam os institutos de pesquisa.

"Eu não sei muito sobre ela, mas ela seria uma continuação do Lula", afirmou o taxista José Silva dos Santos, 52 anos, no centro de Brasília, ecoando um ponto de vista comum nas pesquisas de opinião. Apesar da personalidade excessivamente formal de Dilma, Lula acha que suas habilidades administrativas farão dela uma boa presidente. Ele também diz que o Brasil, o maior país da América Latina, está preparado para uma mulher na Presidência.

Mesmo assim, há especulações nos meios políticos de que Dilma, 62 anos, seria apenas uma "presidente interina" até que Lula possa concorrer de novo em 2014, intenção negada por ele em uma entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo publicada na sexta-feira. "Tenho total confiança em Dilma, de que ela saberá como fazer as coisas certas para este País", disse ele.

O antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, depreciou publicamente Dilma este mês como um mero boneco do chefe, prenunciando um tema provável da campanha que está por vir.

Risco político

A maioria dos investidores vê pouco risco de que qualquer um dos candidatos favoritos se afaste muito das políticas favoráveis ao mercado de Lula, embora alguns prefiram Serra, por sua experiência no Executivo. Dilma e boa parte do PT defendem um papel maior do governo na economia, basicamente por meio de grandes estatais.

"Essa conversa de crescimento induzido pelo governo e grandes estatais tem nos preocupado. Já fracassou no passado", disse Rodrigo Nogueira, sócio da construtora JC Gontijo Engenharia, com sede em Brasília. "Ela precisa tratar dessas preocupações logo."

Filha de imigrantes búlgaros e militante da esquerda na juventude, a ministra com frequência é chamada nos meios políticos de "dama de ferro". Durante boa parte do ano passado, ela manteve sua agenda intensa enquanto tratava um linfoma, uma câncer do sistema imune, do qual, segundo os médicos, ela está curada.

Dilma, no entanto, ainda é uma novata na política que geralmente se esforça para se ligar ao público, uma deficiência que mesmo seus partidários reconhecem. A aprovação e as habilidades políticas já comprovadas de Lula por certo agirão a favor dela na campanha. Mas Dilma enfrenta um forte concorrente com Serra, e a posição dela em algumas questões polêmicas poderá representar problemas.

Parlamentares da oposição a convocaram para uma audiência sobre o plano de direitos humanos que, trata entre outro tópicos, sobre a legalização do aborto, e eles querem questionar a ministra sobre seu apoio à medida, uma questão delicada numa sociedade de maioria católica.

Analistas afirmam que a falta de carisma e de jogo de cintura político de Dilma talvez não custem a sua eleição, mas, se ela vencer, poderiam dificultar o seu governo. "Ela tem dificuldade em lidar com políticos - os eleitores não perceberão, mas seus aliados poderão se aproveitar disso", disse Cristiano Noronha, diretor da empresa de consultoria Arko Advice. "O maior risco de Dilma é tornar-se refém de seus aliados."

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