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Reação de índios e ribeirinhos à construção de usina no Xingu é imprevisível, diz bispo

1 fev 2010 - 19h00
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O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Erwin Kräutler, afirmou hoje (1º) que é imprevisível a reação dos povos indígenas e das populações ribeirinhas contráriasao projeto da Hidrelétrica de Belo Monte, se ausina for realmente construída no Rio Xingu, no Pará. "Esse povo vai chorar, vai gritar,vai se levantar", disse o bispo, durante debate sobre a construçãoda usina.

De acordo com dom Erwin, que também é bispo de Xingu, não se descarta apossibilidade de os índios e os ribeirinhos recorrerem à violência paraprotestar contra a remoção da área, por causa do alagamento desuas casas. "Eu peço a Deus que a violencia não aconteça", afirmou o religioso.

A Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, é um dosprincipais projetos previstos no Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) do governo federal.

Dom Erwin disse que, para os índios, sair daregião teria um impacto ainda maior do que para os ribeirinhos, devido àrelação cultural que eles têm com a terra. "Transferência depovos indígenas é horrível", afirmou. "Arranca-se um povo deum lugar que habitaram por milhares de anos. Não é possível, elesnão têm o direito de fazer isso", completou.

Para o bispo,a construção da hidrelétrica é mais uma forma de explorar asriquezas do estado sem foco no desenvolvimento local, como ocorre coma mineração, a extração de madeira e a criação de gado. "Oque a família paraense normal está ganhando com aquilo tudo, nestemomento, neste segundo? Não sei quantos comboios de minério seguem para o Porto de São Luís, no Maranhão, levandominério pelo mundo afora. E nós com uma mão na frente e outraatrás", reclamou.

O bispo duvida, inclusive, dos postos detrabalho que, segundo os defensores do projeto, serãocriados com a instalação do empreendimento. "Esse negócio deempregos diretos e indiretos, isso para mim é falácia, eu nãoacredito", ressaltou. "Está claro que, hoje em dia, umaconstrução dessas não vai dar tanto emprego porque tudo é feitopor máquinas."

Ele criticou também a maneira como alguns agentes dogoverno apresentam o empreendimento aos indígenas. "Esse povo que está no alto escalão nãotem didática para trabalhar com os povos indígenas. Eles pensam quepodem falar como se estivesse em uma faculdade de engenharia." Essafalta de tato foi, segundo dom Erwin, um dos motivos pelos quais umengenheiro da Eletrobrás foi agredido com um facão em uma audiênciacom diversas etnias sobre a usina, em maio de 2008.

O bispo citou ainda a expressão "forças demoníacas", segundo ele, usada em setembro pelo Minas e Energia, Edison Lobão, para sereferir aos que são contra o projeto da usina. Para dom Erwin,trata-se de uma fala racista.

Por ser de interesse das grandesempreiteiras, que fariam a obra, e das mineradoras, que usariam aenergia, diz o bispo, tenta-se construir a usina aqualquer custo, apesar de existirem outras opções. "O sujeito históricoé o projeto. Onde esse sujeito histórico tem que ser realizado,aparece um povo indígena. É preciso uma solução para esse povo,mas não se questiona o projeto. Aí é que está o erro de lógica." Como opções, ele apontou o uso das energias eólica esolar e a modernização de hidrelétricas mais antigas para queproduzam mais.

Agência Brasil Agência Brasil
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