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Cidades

SP: governo quer oferecer até 5 mil empregos a ex-detentos

14 dez 2009 - 10h57
(atualizado às 12h33)
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Vagner Magalhães
Direto de São Paulo

O decreto assinado pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que permite que os órgãos estaduais exijam das empresas vencedoras de licitações de obras e serviços reservem 5% do número total de vagas a ex-detentos, deve gerar no próximo ano pelo menos 5 mil vagas de trabalho para pessoas nessas condições. Egressos da Fundação Casa (antiga Febem) também poderão ser atendidos.

Na cerimônia de assinatura do decreto, na última segunda-feira, o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo (Seac-SP) disponibilizou 1 mil vagas para serem preenchidas durante 2010 no setor. Em 2009, de janeiro a setembro, foram inseridos 941 ex-detentos no mercado de trabalho paulista. Além do governo estadual, assinaram o termo de cooperação técnica 12 municípios do Estado, incluindo a capital.

O programa foi criado como apoio à campanha Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça, que no último fim de semana teve apoio de divulgação em todas as partidas da última rodada do Campeonato Brasileiro, quando os clubes entraram em campo com faixas em alusão à iniciativa.

Para participar do Pró Egresso e o Pró-Egresso Jovem, como foram batizados os programas, os ex-detentos e egressos terão de se encaixar em algumas normas. No caso dos ex-detentos, eles precisam ter deixado o sistema carcerário há no máximo um ano ou estejam em liberdade condicional, estejam cumprindo pena em regime semiaberto ou aberto, condenados a penas alternativas ou aqueles que tiveram a pena considerada extinta como anistiados. Para os adolescentes é necessário que eles estejam cumprindo ou já cumpriram medida sócio-educativa na Fundação Casa.

De acordo com o secretário Estadual do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, a maioria das vagas será na construção civil e no serviço de limpeza e conservação das ruas. "As 5 mil vagas são factíveis em um ano em que o crescimento econômico do Brasil deve ser elevado e temos muitas obras em execução no Estado. Nós daremos a capacitação a essas pessoas e a iniciativa privada as oportunidades", diz.

Segundo ele, quando um preso recebe uma oportunidade de trabalho, o grau de recuperação chega a até 90%. "Esses são os números que histórico que temos, nos trabalhos desse tipo que já existem".

Capacitação

A Fundação Casa tem usado cursos de capacitação na esperança de diminuir o número de reincidentes em suas unidades. No complexo da Vila Maria uma experiência que tem dado bom resultado é o curso de encanador, que já formou duas turmas, totalizando cerca de 50 internos.

Com a ajuda da Organização Não-Governamental Bem-Querer Assistência Social que formatou um curso profissionalizante em que os adolescentes já saem empregados, os resultados têm sido bons.

Odilene Aniteli, presidente da ONG, diz que são selecionados para o curso os garotos que estão prestes a deixar a unidade. Terminado o curso, a documentação é providenciada e assim que termina a internação, os garotos já começam a trabalhar.

"Isso é muito importante porque o interno já sai daqui com uma perspectiva diferente daquela que ele entrou. Temos meninos aqui com muita habilidade e que conseguem se destacar", diz.

Segundo ela, foi feito convênio com uma construtora de edificíos e os ex-internos são acompanhados até se adaptarem à nova função.

Luiz Paulo, 18 anos, começa a trabalhar na próxima semana e pretende um futuro diferente daquele que viveu até aqui. Internado três vezes por roubo e pai de duas filhas, será a sua primeira oportunidade de trabalho com carteira assinada.

"Eu mudei até de bairro para tentar uma vida diferente. Conseguir essa oportunidade agora é a chance de eu mudar a minha vida e é isso que eu vou fazer".

Bruno Osório de Souza, 19 anos, está há três meses no trabalho e já teve uma promoção. Hoje, e o responsável pelo almoxarifado da obra em que está empregado.

"Ter o próprio salário é muito importante. Até já ganhei mais dinheiro do que hoje, no crime, mas nesse caso a gente não dá valor. Quem fica mais feliz com isso tudo é a família", diz.

Outro interno que está prestes a deixar a Fundação Casa afirma que não vê a hora de começar no emprego. "Nunca imaginei que depois de passar duas vezes por aqui poderia sair em uma situação dessas. Agora, não volto mais", disse.

Internos aguardam liberdade para iniciar trabalho como encanadores
Internos aguardam liberdade para iniciar trabalho como encanadores
Foto: Raphael Falavigna / Redação Terra
Fonte: Terra
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