PUBLICIDADE

Protestos contra Ahmadinejad dividem especialistas

23 nov 2009 - 19h26
(atualizado às 19h48)
Compartilhar

A passagem do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pelo Brasil tem gerado protestos por parte da sociedade civil que critica a intolerância sexual no país e a negação feita pelo líder iraniano da existência do Holocausto na 2ª Guerra Mundial, quando morreram seis milhões de judeus vítimas do nazismo. Mas há também manifestações de apoio de grupos que veem no líder iraniano uma figura de oposição à política imperialista norte-americana.

Manifestantes protestam no momento em que Mahmoud Ahmadinejad sai do Palácio do Itamaraty
Manifestantes protestam no momento em que Mahmoud Ahmadinejad sai do Palácio do Itamaraty
Foto: Elaine Lina / Terra

Na opinião do cientista político e professor Samuel Feldberg, os protestos são justificados uma vez que Ahmadinejad "vem de um processo eleitoral contestado por amplos setores da sociedade iraniana". Segundo o intelectual, que é do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), "o Brasil, que retomou o processo democrático há poucos anos, depois de sofrer um período extenso de ditadura, não deveria receber um presidente que não consegue demonstrar que foi eleito democraticamente".

"A maioria dos protestos no Brasil foi organizada por grupos que se sentem ofendidos pela recepção com todas as honras de chefe de Estado de um líder que declaradamente não reconhece os direitos das minorias no seu país", declarou Feldberg à Agência Brasil.

A professora Walquíria Leão Rêgo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende o direito legítimo de manifestação, protegido pela Constituição Federal. No entanto, ela aponta que há equívoco nos protestos. Segundo ela, "é preciso saber distinguir as relações de Estado e entre pessoas".

A acadêmica lembra que o Brasil mantém relações diplomáticas com o Irã e com outros países que são acusados de violar direitos humanos. "O Estado de Israel massacra os palestinos, desrespeita todos os direitos, inclusive com violência contra crianças e estupro em mulheres. Os Estados Unidos mantém a prisão de Guantánamo. Na década de 1990, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu o ditador Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru, sobre quem hoje pesam acusações de corrupção e genocídio e o presidente Lula recebeu o ex-presidente dos Estados Unidos George Bush."

Para o coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dirceu Fumagalli, a sociedade brasileira se comporta de maneira "anestesiada" quando se trata da violação de direitos humanos de alguns setores da população do próprio país. Ele lembra, por exemplo, que o trabalho escravo, "uma violação horrorosa dos direitos humanos", persiste em tempos de democracia institucionalizada.

De acordo com relatório divulgado hoje pela CPT, de janeiro até 15 de novembro deste ano, há uma manutenção da situação de violência no campo. Houve no período 20 assassinatos, 231 ocupações, 731 conflitos, 1.321 expulsões e 9.226 despejos.

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
TAGS
Publicidade