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Política

"ACM cometeu exageros na vida política", diz ACM Neto

8 nov 2009 - 12h51
(atualizado às 12h55)
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Hermano Freitas
Direto de Salvador

"Acha que bati muito em Wagner (Jaques Wagner, governador da Bahia do PT)?", sorri o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), 30 anos, para o assessor de imprensa que o acompanhou na entrevista exclusiva que concedeu na tarde de sexta-feira ao Terra. "Nunca é demais bater em Wagner", responde, também sorrindo, o jornalista Alexandre Reis.

Deputado do DEM diz considerar governo Jacques Wagner o pior da BA
Deputado do DEM diz considerar governo Jacques Wagner o pior da BA
Foto: Hermano Freitas / Terra

O parlamentar, herdeiro do legado político de Antonio Carlos Magalhães, de quem declara sentir uma "saudade saudável", fala dele citando nome e cargo. Ele recebeu a reportagem em uma sala climatizada do seu escritório político em Ondina, Salvador. O chão é forrado com tapetes em detalhes trabalhados. Nas paredes, quadros de ACM e do também falecido tio, Luis Eduardo Magalhães. Duas xícaras de café ainda sujas sobre a mesa expõem uma rotina de até 25 doses diárias da bebida. Entre os acessórios, três águias esculpidas em pedras diversas.

Neto, como gosta de ser chamado, olha para baixo, para o assessor e escolhe em segundos suas palavras a cada indagação da reportagem. Surpreende ao reconhecer que o avô errou ao tomar posições demasiado fortes na vida política e diverte-se ao comentar seus hábitos esportivos. ACM Neto não se altera nem com a menção do apelido de "grampinho", dado por adversários políticos pelo suposto uso de escutas ilegais. "Não colou aqui na Bahia", garante.

Ao terminar a entrevista, entra com pressa em seu Honda Accord, rumo a um compromisso político no interior do Estado. Oferece a mão duas vezes e manda "um abraço".

Confira a íntegra da entrevista de ACM Neto ao Terra:

Foi uma escolha natural seguir a dinastia política de sua família, fazia parte do seu imaginário infantil?

É uma vocação que foi desabrochando. Desde os 10 anos, acompanhava as campanhas, participava de comícios e levava santinhos de meu avô para a escola. Disputei uma eleição para síndico mirim de meu prédio, fiz militância em grêmio estudantil, liderança de classe. Depois, participei da juventude do então PFL, hoje Democratas (DEM).

O legado foi um peso ou uma oportunidade?

Oportunidade. Como tudo na vida, existem ônus e bônus, mas os benefícios são muito maiores. Jamais teria conseguido entrar tão novo, ter uma votação tão expressiva e conduzir uma carreira com tanta velocidade se não fosse o legado do senador Antonio Carlos Magalhães e até o fato de carregar o nome dele.

Quando o senhor se lembra do avô, como sente a perda?

Todas as minhas recordações são muito positivas. Você tem aquela saudade que lhe martiriza, que lhe deixa com remorso, mas minha saudade é do tipo saudável. Tive o privilégio de conviver com ele por 28 anos, pude aprender com os erros e com os acertos dele, desfrutar do carinho e da atenção.

Onde você acha que ele errou?

Eu acho que, por conta de uma política de outro momento, ele exagerou em determinados casos. Por certas causas, ele brigou com algumas pessoas. Hoje eu acho que a política é muito mais do diálogo. Às vezes você tem que estar pronto para administrar situações sem ir ao extremo. Ele era uma pessoa muito passional. Era do perfil dele. Você precisava compreendê-lo, porque era capaz de brigar, de estourar, de dar um esporro, mas tudo estava numa boa em cinco minutos. Numa dessas, com quem não era tão próximo, às vezes isso gerava inimizades.

Existe um vídeo em que ele aparece agredindo um repórter. Refere-se a isso?

Eu não me refiro a isso e nem sei que vídeo é este, mas a um traço da personalidade, de ter sido explosivo, sem papas na língua. Não era capaz de dissimular. Ele chegava para você e dizia na lata. Custasse o que tivesse que custar.

Quais são as semelhanças e diferenças entre a atuação política do avô e do neto?

Difícil estabelecer uma comparação entre duas figuras de gerações totalmente distintas. O senador Antonio Carlos disputou a primeira eleição dele em 1954. Eu disputei em 2002. A minha geração é a da política na internet, do Twitter, do Youtube. A geração do senador foi outra, ele passou por outros tempos.

O que o Brasil precisa hoje de diferente daquela época?

Muito diferente. O Brasil se livrou efetivamente das amarras da colonização. Quem começou a fazer política na década de 50 teve que passar por momentos de regime militar e depois de redemocratização. Houve todo um esforço para que as instituições existissem, hoje trabalhamos para fortalecê-las. Antes o Brasil era visto com muito preconceito. O trabalho de política externa iniciado fundamentalmente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso(PSDB) e continuado pelo presidente Lula resultou em um país muito mais destacado, reconhecido. O político do passado teve de conviver com inflação e a luta para debelar este mal, hoje as preocupações são outras.

O senhor é um crítico do governo Jaques Wagner. Quais suas insatisfações?

Jaques Wagner tem o pior governo da história da Bahia. Aqui na década de 1980, especificamente em 1986, a Bahia elegeu Waldir Pires, não por coincidência também do PT, que foi identificado como o governo "da moleza". Eu imaginei que nenhum governo pudesse superá-lo em termos de ineficiência e incompetência e lentidão. Wagner conseguiu ser pior, eis porque conseguiu o título de governo da "vagareza", fazendo inclusive uma alusão ao nome do governador.

Como o senhor vê a liderança do prefeito Gilberto Kassab (prefeito de São Paulo, do DEM)?

É um grande quadro, um articulador conhecido, que já demonstrava estas qualidades como parlamentar na Câmara dos Deputados, depois uma pessoa que vem demonstrando ser muito cuidadoso e diligente. Almocei com ele nesta semana em São Paulo e ele me dizia que já havia feito, não sei, mais de 10 mil visitas, uma coisa nesta ordem. Então você vê, acompanha cada problema da cidade, cada coisa que está acontecendo e é um quadro importante do partido para futuros projetos, então é uma pessoa muito querida no DEM.

O senhor pensa em algum momento mudar de partido? O DEM não tem um perfil muito jovem.

Nunca pensei. Eu acho que tem um perfil jovem, pelo contrário. O Democratas é presidido por um deputado que tem 39 anos, o Rodrigo Maia, teve como líder na Câmara no meu caso, com 29 anos, o próprio Kassab é um cara novo, então você tem um grupo de deputados bastante jovem. Talvez seja o partido com mais baixa idade dentro da Câmara dos deputados. Está passando por um processo de transformação e está buscando conhecer o que há de melhor no mundo.

Bebe bastante café... álcool também?Fuma?

Bebo muito café, talvez o único vício verdadeiro que tenho. Às vezes chego a tomar 25 xícaras num dia. Não afeta meu sono. Álcool, bebo socialmente. Não fumo cigarro, mas quando estou relaxando, num ambiente descontraído gosto de fumar uma cigarrilhazinha, ou charuto, mas é eventual, não diário.

Já fez uso de alguma droga?

Não. Não tenho nenhum preconceito com quem já fez. Talvez pelo ambiente escolar, de amigos, minha galera não tinha contato com drogas. Talvez porque hoje em dia não seja mais moda. Você tinha um momento, na época da ditadura, que fumar maconha era até uma coisa charmosa e hoje você tem as drogas de festa, de rave, que não é bem da minha geração, aquela pastilhazinha, como é que chama?

Ecstasy?

Isso. Minha geração talvez, pelo menos na minha turma, era feio fumar cigarro e era feio fumar maconha, então não era do ambiente.

Pratica esportes?

Tomei vergonha na cara e estou correndo. Não estou todos os dias, mas corro 5 vezes por semana, seis a sete quilômetros. Já joguei muito futebol, era um perna de pau. Ou ficava na zaga, para não deixar ninguém passar, ia na canela sem dó nem piedade, ou ficava no gol. Mas nunca tive muita habilidade.

Os seus adversários políticos o chamam de "grampinho", como o senhor vê o apelido?

É engraçado, isso nunca me incomodou. Não pegou aqui na Bahia. Um dos criadores do apelido hoje se dá muito bem comigo e publicamente, por vezes, já reconheceu meu trabalho.

Fonte: Terra
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