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ABCâncer: Requião deve cuidar para não estigmatizar gays

27 out 2009 - 18h39
(atualizado às 21h48)
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Fabiana Leal e Fabricio Moreira

A diretora-executiva da Associação Brasileira do Câncer (ABCâncer), advogada Marília Casseb, afirmou que o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), "deve tomar mais cuidado para não estigmatizar uma determinada parcela da população e fazer uma pesquisa mais aprofundada (sobre o assunto)". Requião disse nesta terça-feira, durante o programa Escola de Governo, da TV Educativa do Paraná, que o câncer de mama nos homens pode ser consequência de paradas gay. "Embora hoje câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay", disse o governador.

"Sinceramente, eu lendo e ouvindo a declaração, não ficou claro o que ele quis dizer. Se a intenção era dizer que o público gay tem mais câncer de mama do que os heterossexuais, não faz sentido, não tem estudo que aponte isso, ou se ele fez outra associação. Não ficou claro o significado da fala. Não tem raciocínio lógico. Deve ter tido um pensamento e juntou uma coisa com a outra", disse Marília.

Segundo a diretora-executiva da ABCâncer, a incidência de câncer de mama em homens é muito baixa se comparada às mulheres. Conforme Marília, foram previstos 49,4 mil casos de câncer de mama para o ano de 2008. Desse total de casos, apenas 1% seria em homens.

De acordo com Marília, além de fatores hereditários e alguns tipos de doenças infecciosas, são fatores de risco para o câncer de mama em homens a execução de atividades nos setores elétrico, de radiação ionizante, de exposição crônica ao calor e de fundição de aço.

Ativistas e profissionais da saúde

Profissionais do setor de saúde e ativistas homossexuais entrevistados pelo Terra rejeitaram e criticaram a declaração do político paranaense.

"É como quando surgiu a aids e um cientista disse que era porque os gays usavam silicone. São chutes que refletem um preconceito sem base científica alguma", afirmou o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia. Para ele, a fala de Requião tem um propósito ideológico, já que, diz Mott, "as paradas têm uma função política que eles (os críticos) querem desqualificar como sendo mero bacanal".

Questionado se o grupo gay pretende entrar com algum tipo de questionamento judicial à declaração do governador do Paraná, Mott disse esperar que o Conselho Regional de Medicina "dê alguma advertência a esse tipo de intromissão".

"Não há relação alguma (entre paradas gay e câncer de mama). Isso é uma opinião não-técnica, pessoal, sem base científica", disse o mastologista especialista em câncer de mama Vicente Tarricone. Ele não arriscou opinar de onde Requião tirou a teoria. "A intenção dele se desconhece."

Fonte: Terra
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