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Após vandalismo nos trens, Cabral pede apuração rigorosa

9 out 2009 - 04h05
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O governador Sérgio Cabral determinou à Secretaria Estadual de Transportes nesta quinta-feira uma apuração rigorosa para identificar os participantes das ações de vandalismo nos trens. Nas estações de Nova Iguaçu e Nilópolis houve quebra-quebra e roubo na quarta-feira. Passageiros enfurecidos também incendiaram duas composições devido à paralisação dos trens."A SuperVia tem que verificar as falhas, mas nada justifica vandalismo. Temos que identificar os ladrões de bilheterias e os que quebraram os trens. Não estão prejudicando a SuperVia, mas a população que usa o transporte de massa. Esses vagabundos têm que ser presos!", afirmou Cabral.

Um dia após tumulto no ramal de Japeri, os passageiros voltam a se rebelar contra os trens. A quinta-feira foi marcada por tiros, bombas, pedradas e correria no sistema ferroviário da cidade. A volta para a casa de milhares de trabalhadores se transformou em uma batalha pelo direito de ir e vir na Central do Brasil. Uma pane no sistema elétrico provocou a paralisação dos trens, causando revolta nos passageiros. Sete pessoas ficaram feridas e o tumulto gerou mais um efeito-dominó.

A confusão começou por volta das 16h, quando, segundo a SuperVia, um objeto foi lançado na rede aérea de energia e interrompeu o sistema. Passageiros que já estavam nas composições, paradas nas plataformas, se revoltaram com a falta de informações e iniciaram protesto.

Os manifestantes disseram que seguranças da empresa usaram cassetetes e spray de pimenta, aumentando ainda mais a revolta. Os usuários, obrigados a desembarcar, exigiam o dinheiro de volta, mas a demora nas bilheterias provocou empurra-empurra dentro da gare. Apavorados, comerciantes baixaram as portas. Mesas, cadeiras e lixeiras das lanchonetes foram quebradas.

Sem poder controlar a situação, a SuperVia acionou o Batalhão de Choque da PM, que enviou 35 homens para o local. Com a chegada dos policiais, novos protestos, com pedras arremessadas contra os soldados, e mais repressão, desta vez com o uso de gás lacrimogêneo, gás de pimenta e balas de borracha. No tumulto sete pessoas, entre elas uma funcionária da SuperVia, ficaram feridas. Cinco delas foram levadas para o Hospital Souza Aguiar. Os acessos à estação foram bloqueados pelos PMs. O 5º BPM (Praça da Harmonia) foi avisado do tumulto depois e enviou 50 policiais. O comandante da unidade, tenente-coronel Carlos Henrique Alves, esteve na estação e criticou a conduta da SuperVia.

O tumulto na Central aumentou a procura por ônibus, e as rodoviárias no entorno da Central ficaram superlotadas. O metrô suspendeu a venda dos bilhetes da integração com os trens e houve princípio de tumulto na Estação Estácio de Sá. Nas barcas também houve confusão por causa do atraso. O tráfego de trens só foi normalizado às 18h40, segundo a SuperVia. O trânsito ficou caótico em toda a cidade, com engarrafamentos que se estenderam da Praça da Bandeira ao Aterro do Flamengo. A Agetransp enviou técnicos à estação para investigar o incidente.

A diarista Raquel Lopes, 32, desmaiou com o gás pimenta. Socorrida por PMs, ela foi levada para o Souza Aguiar. A estilista Elaine Ferreira dos Santos estava preocupada com a amiga. ¿Tentamos ir de ônibus, mas a Raquel voltou a passar mal e retornamos para a Central¿, explicou. O vendedor Rogério Chaves amparou a mulher, Ana Claudia Correia, dentro da gare. ¿Pensei que ela fosse morrer e não tinha ninguém para socorrê-la¿, criticou. Uma equipe de TV acusa seguranças da SuperVia de agressão e retenção de câmera.

O Ministério Público Estadual e quatro delegacias ¿ uma especializada e três distritais ¿ também estão apurando a confusão. Imagens dos atos de vandalismo estão sendo analisadas pela promotoria e também serão encaminhadas à polícia. Ontem, policiais da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) fizeram operação nas estações de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu para tentar identificar os participantes da confusão. Na quarta-feira, passageiros atearam fogo a uma composição e promoveram quebra-quebra nas estações de Deodoro, Nova Iguaçu e Nilópolis, revoltados com o atraso./p>

Comandante do 5º BPM (Praça da Harmonia), o coronel Carlos Henrique Alves de Lima suspeita de sabotagem na SuperVia: ¿Pane elétrica na hora do rush, uma dia depois do quebra-quebra nas estações da Baixada? Parece que há uma sabotagem interna na SuperVia para prejudicar os usuários do transporte¿. O coronel negou que houve excesso por parte dos PMs na repressão aos protestos. Carlos Henrique criticou a falta de comunicação da concessionária com os usuários. ¿Sequer usaram o sistema de som e alto-falantes para informar aos passageiros, e acabei negociando direto com os usuários para evitar uma confusão maior e depredação da estação¿, completou o oficial.

A SuperVia informou que o problema na Central do Brasil foi causado por objeto, não identificado, que teria sido atirado na rede aérea de energia, na altura do Viaduto São Sebastião, perto do Sambódromo. Um trem vazio que chegava à estação teve o pantógrafo (equipamento que faz a ligação da composição à rede elétrica) danificado às 16h06 por causa desse objeto. Isso causou queda de energia no pátio de embarque e desembarque, impedindo a circulação de todos os trens a partir da gare D. Pedro II.

Sobre a confusão de quarta-feira, a SuperVia informou que não tem o cálculo dos prejuízos e ainda apura o defeito que causou a pane na composição que chegava à estação de Nilópolis.

¿Será difícil identificar os autores, porque fazem parte de uma multidão, mas talvez com cadastro de baderneiros reincidentes a SuperVia nos ajude¿, afirmou o delegado Eduardo Freitas. Segundo ele, os autores podem responder por roubo e dano, que somam mais de 8 anos de prisão.

Nesta quinta, funcionários da SuperVia instalaram novas roletas e consertaram equipamentos destruídos. A revolta com o serviço ainda estava viva nas palavras de muitos usuários. ¿Geralmente, a gente fica parado no meio do trajeto, sem saber o que acontece. É irritante. O passageiro tem de ser bem informado para buscar alternativas e não chegar atrasado ao compromisso ou perder o dia de trabalho¿, reclama o professor José Mariano Guedes, 39.

A agência Agetransp, que fiscaliza o serviço de transportes, recebe mensalmente 20 queixas em média contra o sistema de trens administrado pela SuperVia. Ontem, abriu dois procedimentos investigatórios ¿ uma para apurar o quebra-quebra de quarta-feira e outro para o de ontem, na Central do Brasil. Já o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, entra nesta sexta com ação civil pública contra a SuperVia pela precariedade no serviço.

A CRONOLOGIA

16h06

Pane na rede elétrica que move os trens paralisa todas as composições na Central. Todas as partidas a partir de lá são suspensas.

16h40

Usuários reviram lixeiras e derrubam mesas e cadeiras. Trens voltam a sair da Central. Plataforma liberada para desembarque

17h

PMs do Batalhão de Choque fecham os acessos, disparam bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para impedir a entrada

17h40

Acesso à estação é reaberto para embarque, mas tráfego no ramal Saracuruna, entre Central e Triagem, continua paralisado

18h40

Todos os ramais voltam a funcionar

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