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Vazão de rios muda paisagem de cidades do Amazonas

13 out 2009 - 15h07
(atualizado às 18h43)
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Arnoldo Santos
Direto de Manaus

Depois de uma enchente histórica, a vazante mudou a paisagem nas cidades de Manaus e de Coari, exigindo do povo ribeirinho uma nova adaptação às mudanças da época de estiagem, superando obstáculos e aproveitando o que a natureza oferece. Na quinta-feira, o nível do rio Negro atingiu a cota de 19,38 m. Desde que começou a vazante, em julho, o rio que banha a capital do Estado já diminuiu 9,56 m, o suficiente para deixar a paisagem bem diferente de três meses atrás. Em 25 de junho, o rio Negro atingiu a marca histórica de 29,71 m, o maior nível já registrado. Até então, a maior cheia havia acontecido em 1953, com 29,69 m.

No município de Coari, o rio já baixou pelo menos 6 metros
No município de Coari, o rio já baixou pelo menos 6 metros
Foto: Arnoldo Santos / Especial para Terra

No porto de Manaus, a régua oficial de medição continua sendo alvo de turistas com máquinas fotográficas. "Mesmo que não seja a foto da enchente, é bom registrar esse local para mostrar lá fora", disse o engenheiro alagoano Sérgio Corado, de passagem pela cidade. Nas últimas 24 horas da quinta-feira, o rio baixou 19 cm, mas o responsável pelo monitoramento do nível da água considera normal essa velocidade de descida do rio.

"Na mesma data no ano passado, o rio tinha atingido a cota de 19,38 m. Isso mostra que a descida atual está dentro de uma média aceitável", afirmou o engenheiro Valderino Pereira, chefe do serviço de hidrologia do Porto de Manaus. Com a descida do rio, uma grande praia apareceu na orla de Manaus, dificultando o acesso aos barcos que transportam cargas e passageiros pela região.

"Se essa estiagem continuar até fevereiro, nós teremos problemas de chegada dos barcos em algumas localidades", disse o superintendente da Capitania dos Portos, Marco Antônio Oliveira.

Produção rural

No município de Coari, a 370 km de Manaus, o rio já baixou pelo menos 6 m. Na cidade, as cenas de canoas ancoradas em pleno centro ficaram na memória dos moradores. "Eu nunca tinha visto uma enchente daquela", disse a estudante Kátiane Socorro, 16 anos. A produção rural do município ainda sofre os efeitos da enchente. Praticamente toda a produção, que é baseada nas plantações em áreas alagadas, conhecidas como várzea, foi perdida.

As colheitas de milho, feijão e banana se foram com a inundação. Um levantamento do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário (Idam) concluiu que 90% dos produtos agrícolas vendidos no município atualmente são de outras cidades. "Eu compro produto de Manaus e este limão aí vem da Venezuela, porque aqui está difícil por causa da cheia", afirmou o agricultor Jares Santos Lira, que tem uma banca na feira municipal de Coari.

Para recuperar a produção, produtores estão replantando as culturas de várzea, misturando riquezas naturais com tecnologia. As mesmas terras que passaram meses alagadas reaparecem enriquecidas. E o milho que está sendo plantado é de uma espécie nova, melhorada geneticamente.

"Nós compramos as sementes em São Paulo. Metade do que for colhido fica na comunidade, e a outra metade, com o Idam, para ser distribuída nas outras comunidades", disse Malvino Ximenes, gerente local do Idam. Em Careiro da Várzea, a 30 km de Manaus, 2,3 mil produtores rurais foram cadastrados para serem atendidos pelo plano emergencial das vítimas da seca e enchente do governo federal. O crédito liberado é de R$ 2 mil por família.

O agricultor Francisco de Assis é um dos que espera essa ajuda. A família dele perdeu toda a plantação de maracujá, couve e banana. Mas aproveitou os primeiros dias de vazante para replantar melancia, cultura ideal para as terras de várzea. Agora, a luta é contra o tempo.

"A gente espera mesmo essa ajuda do governo, porque as economias que nós juntamos já acabaram", disse o agricultor. A prefeitura local distribuiu sementes de milho, que é a principal cultura agrícola da região. Cerca de 90 famílias, sob orientação técnica do Idam, apresentaram projetos de financiamento junto à Agência de Fomento do Amazonas (Fapeam).

Ações em conjunto, de produtores e governo, que tentam amenizar os impactos da força da última enchente. E que agora já faz parte do passado na memória dos agricultores, uma vez que a época de estiagem está forte. Depois da enchente, a vazante com pouquíssima quantidade de chuva tem deixado os pastos secos e segurado o crescimento da lavoura renovada. E a previsão é de que a estiagem vai continuar. O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) divulgou na última quarta-feira o boletim climático da Amazônia com o prognóstico do clima para o próximo trimestre.

No documento, os meteorologistas do Sipam dizem que "o Estado do Amazonas permanece com as temperaturas elevadas pelo menos até o mês de dezembro, podendo ocorrer valores máximos diários acima de 36°C, como tem sido observado nos últimos dias". E a chuva, que normalmente começa a cair com mais freqüência e quantidade a partir do mês de outubro, deve atrasar.

"Com a presença do fenômeno El Niño no oceano Pacífico, esta (chuva) sofrerá um atraso, principalmente nas áreas em que a previsão é de chuva abaixo dos padrões climatológicos", informou Ana Cleide, meteorologista do Sipam.

Fonte: Especial para Terra
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