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Poluição pode transformar parte da Lagoa da Pampulha em brejo

3 out 2009 - 21h16
(atualizado às 21h47)
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Ney Rubens
Belo Horizonte

A Lagoa da Pampulha, um dos principais e mais belos cartões postais de Belo Horizonte, agoniza. A água verde que indica a presença de algas e bactérias causadas pelo excesso de poluição, o mau cheiro e a grande quantidade de lixo incomodam a população e os turistas. "A Lagoa da Pampulha vai de mal a pior. Nunca esteve tão ruim. A qualidade da água e os indicadores ecológicos do ecossistema não são bons", advertiu o professor e coordenador do setor de ecologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Ricardo Mota Pinto Coelho.

Lagoa da Pampulha está imprória para pesca e banho
Lagoa da Pampulha está imprória para pesca e banho
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra

A fauna presente Pampulha, principalmente até a década de 1970, era extremamente rica, com uma diversidade muito grande de peixes exóticos. Atualmente, "apenas carpas e tilápias habitam a lagoa em sua maioria, que está muito poluída e com excesso de algas e bactérias", afirma o pesquisador. Para Coelho, a principal causa da poluição no reservatório é o despejo de lixo e esgoto não tratado. Coelho explica que o problema da falta de políticas de saneamento básico e coleta de lixo satisfatórias é geral, mas no caso da lagoa é agravado por ser um reservatório destino de 40 córregos que vêm de Belo Horizonte e Contagem, cidade da região metropolitana.

"O serviço de coleta de lixo do Brasil vai muito mal, obrigado. Está ruim em todas as cidades. Somente 20% do lixo produzido no País é acondicionado em aterros minimamente preparados. O restante, os outros 80%, vão para lixões. E por não haver uma coleta de lixo eficiente é que a Lagoa da Pampulha está entupida de garrafas pet, sofás velhos, geladeira, pilhas, carcaças de automóveis e animais mortos. Não existe uma política brasileira de gerenciamento de coleta seletiva de lixo, o que existem são iniciativas pontuais, uma aqui, outra ali. A própria Prefeitura de Belo Horizonte já ganhou prêmios internacionais por algumas iniciativas, mas é pouco," afirma.

O pesquisador da UFMG alerta que "somente retirar o esgoto da lagoa não resolve. O lixo vai continuar. A Lagoa da Pampulha está assoreada, com areia e outros sólidos chegando pelos canais. Basta chover um pouco que desce terra e areia pelos córregos e avenidas para o espelho d'água. Essa erosão começou no final da década de 1970 e tomou grande parte da área da lagoa," explica. A maior parte do esgoto que deságua na Pampulha vem de Contagem, a maior cidade da região metropolitana, com 608 mil habitantes, segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2007.

O esgoto doméstico contém substâncias que alimentam as algas e as bactérias presentes na água, principais responsáveis pelo processo de eutrofização - aumento excessivo de microorganismos que causam a diminuição do oxigênio da água. Os dejetos industriais contêm metais pesados, como zinco, cádmio e chumbo, nocivos à saúde humana. Os córregos Sarandi e Ressaca, que têm nascentes em Contagem são responsáveis por pelo menos 70% do esgoto que deságua na Pampulha.

Segundo pesquisa feita pelo pesquisador da UFMG, 100 mil das 300 mil pessoas que vivem em torno da lagoa não têm rede de esgoto até hoje. Para agravar ainda mais a situação, nos últimos 50 anos, segundo o pesquisador, um terço do espelho d'água foi perdido pelo assoreamento. O tamanho da lagoa diminuiu de 300 hectares para 197 (66% de diminuição) e a água, pensada inicialmente para abastecer a capital, hoje acumula índices de poluição inaceitáveis.

Ainda de acordo com o coordenador do setor de ecologia da UFMG, 100 mil das 300 mil pessoas que vivem em torno da lagoa, tanto em Belo Horizonte quanto Contagem, não têm rede de esgoto até hoje. Para Coelho, algumas notícias dão esperança para a lagoa. Uma delas é o projeto de despoluição, iniciado nesta década pela Prefeitura de Belo Horizonte, que conseguiu reverter o volume de água que, em 1999 era de 8,5 milhões de m³ para atuais 10 milhões de m³. "Houve uma dragagem, mas mesmo assim estes números ainda oscilaram de dois anos para cá."

"Risco da lagoa desaparecer não há, mas se nada for feito para conter o assoreamento, uma boa parte do espelho d'água, na região do bairro Céu Azul, onde fica a Ilha dos Amores, pode virar um grande brejo. E quem vai sofrer mais é a população, com o aumento significativo de insetos e aguapés na água rasa," conclui.

Copa 2014

"Até 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, a Lagoa da Pampulha estará praticamente recuperada", segundo o gerente de planejamento e monitoramento ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Weber Coutinho. Ele explica que de 2000 até 2009, foram gastos R$ 185 milhões em ações de recuperação. "São necessários ainda mais R$ 300 milhões que servirão para complementar o restante dos projetos", explica.

Segundo Coutinho, em nove anos já foram retirados da lagoa 1,5 milhão de m³ de rejeitos e pelo menos 300 t de lixo. Ele afirma que a Prefeitura de Belo Horizonte prevê, que até 2012, 96% do esgoto das residências da capital mineira, que deságua na Pampulha, será tratado. "Será executado um grande projeto de urbanização de vilas e favelas e de combate às erosões, para evitar o assoreamento."

O gerente de planejamento afirma ainda que o problema do esgoto industrial já está resolvido. "Todo o esgoto que sai das empresas de Contagem já caem na rede da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) ou é tratado antes de atingir os córregos", disse. "No caso do esgoto doméstico que vem das casas de Contagem, até 2014, 90% não cairá mais na lagoa. Com o problema do esgoto resolvido, vamos iniciar o tratamento da água que está lá, com o combate às algas, que deixam o espelho d'água verde. Ainda assim, serão necessários mais cinco anos para a Pampulha chegar a um nível de contato primário, ou seja, a partir de 2014, em cinco anos as pessoas poderão nadar na Lagoa da Pampulha", prevê.

Início

A lagoa artificial da Pampulha foi construída no inicio de 1938, quando o prefeito era Juscelino Kubitscheck. A bacia da Pampulha compõe a Bacia do Rio das Velhas, que por sua vez integra a Bacia do Rio São Francisco. A área da lagoa é de 97,91 km², dividida entre os municípios de Belo Horizonte e Contagem. Ha 40 córregos que deságuam na lagoa, dos quais 19 estão em Belo Horizonte e 21 em Contagem. O volume atual de água no lago é 10 milhões de m³.

Na época da construção, para compor o entorno, o arquiteto Oscar Niemeyer projetou, a pedido de JK, um conjunto arquitetônico que se tornou referência para a arquitetura moderna brasileira. Fazem parte do conjunto arquitetônico da Pampulha a Igreja São Francisco de Assis, o Museu de Arte, a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube. Os jardins de Burle Marx e a pintura de Candido Portinari na Igreja de São Francisco completam o projeto concebido para a lagoa.

O conjunto arquitetônico e urbanístico original foi inaugurado em 1943. A orla da Lagoa da Pampulha concentra várias opções de lazer, como o ginásio do Mineirinho, o Jardim Botânico, o Jardim Zoológico, o Centro de Preparação Eqüestre da Lagoa e pistas para ciclismo e caminhada. É onde está também o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão.

Fonte: Especial para Terra
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